Religiões, rituais e comemorações

Nesta dissertação, analisamos as experiências de luta e de conflito desenvolvidos por um grupo da Ação Católica, a Juventude Operária Católica (JOC), entre os anos de 1954 a 1964 no município de Santo André, no ABC paulista. Observamos as relações daquele grupo com a hierarquia eclesiástica da diocese em que estavam inseridos e com outras organizações de operários com os quais se relacionavam. Aquele momento apresentava um cenário mundial onde a União Soviética, comunista, e os Estados Unidos da América, capitalista, mostravam-se como grandes potências e procuravam marcar suas influências sobre as demais nações do mundo. No Brasil visualizávamos a participação do capital internacional na indústria e a expansão das tensões sociais na cidade e no campo. A Igreja Católica, no afã de evitar a expansão do comunismo e de reafirmar seu poder de influência na sociedade, pautou-se na Doutrina Social Católica e arregimentou a ação social do laicato através do programa da Ação Católica.

A proposta desta tese é comprovar que a continuidade da judeidade na comunidade judaica de São Paulo de comportamento liberal (do ponto de vista religioso) pode ocorrer em círculos diversos e não está necessariamente vinculada apenas à prática religiosa. Para este propósito, o presente trabalho avalia a judeidade de um grupo de jovens judeus liberais brasileiros apresenta seu enfoque na questão da identidade judaica e da pertinência; discute os significados atribuídos pelos entrevistados a sua identidade judaica, a partir da transmissão familiar, da realização do rito de passagem Bar/Bat Mitzvá, da importância dada ao preceito de jejum no dia de Yom Kipur e da influência atribuída aos pais e aos avós na construção da identidade judaica. Analisa a questão da pertinência a partir da inserção em grupos e instituições da comunidade judaica; expõe a importância atribuída pelos jovens à endogamia para a continuidade do judaísmo, suas posições diante de namoro, casamento e conversões e, ainda, projeções sobre a educação dos filhos. Os procedimentos metodológicos de pesquisa adotados nesta tese foram a pesquisa qualitativa e a consulta de documentos da comunidade judaica relativos à esse grupo na cidade de São Paulo. O arcabouço teórico baseou-se, principalmente, na Psicologia e na Psicanálise, particularmente segundo as teorias de Wilfred R. Bion. Constatou-se nos jovens a presença de uma intensa vinculação a uma forma particular de judaísmo; um forte desejo de dar continuidade a estes aspectos de sua formação e identidade, consubstanciados em uma constante opção por praticar apenas preceitos religiosos que tenham significado próprio; na intenção de transmitir a identidade judaica para as futuras gerações na preferência pelo casamento endogâmico, apesar de dificuldades de pertinência em determinadas instituições da comunidade judaica paulistana.

Esta pesquisa busca a reconstituição dos fatos que deram origem ao Colégio Nossa Senhora do Patrocínio em Itu (SP), fundado e dirigido pelas Irmãs de São José de Chambéry, primeira instituição total confessional católica feminina de São Paulo. O estudo compreende também uma abordagem sobre Madre Maria Theodora Voiron e suas práticas educativas que colocam o Colégio em lugar de destaque no cenário educacional brasileiro.

A tese busca analisar as tensões entre as representações dos impactos das Olimpíadas Rio 2016 construídas no discurso da série “Vozes do Rio: nossa odisseia olímpica” do jornal The Guardian e a cultura vivida nas favelas cariocas no contexto do megaevento esportivo. A escolha do objeto empírico foi motivada pelo espaço concedido a três jornalistas comunitários da Rocinha, do Complexo do Alemão e do Complexo da Maré em um portal de notícias de alcance global, que soma 160 milhões de acessos mensais. A pesquisa tem como objetivos específicos contextualizar as relações sociais, políticas e econômicas entre as Olimpíadas Rio 2016 e as favelas cariocas; investigar as mediações jornalísticas na série que contribuem para a construção das representações dos impactos da competição; reconhecer os sentidos mobilizados no discurso jornalístico e tensionar as representações na série com a cultura vivida nas favelas cariocas no contexto do megaevento esportivo. A tese parte do pressuposto de que a inserção dos jornalistas comunitários pode ter ocorrido apenas de forma superficial e limitada ao longo do discurso jornalístico, não favorecendo, de fato, a participação ativa e autônoma desses grupos sociais marginalizados com vistas à construção de representações mais plurais e alternativas. O percurso teórico-metodológico é desenvolvido a partir de um protocolo analítico próprio que tem como bases a análise cultural (WILLIAMS, 1979) e a análise de discurso (FOUCAULT, 2012) a fim de compreender as negociações de sentidos entre diferentes esferas culturais no interior do discurso jornalístico. Primeiramente, analisamos a cultura vivida por meio da descrição das mediações das favelas cariocas no contexto das Olimpíadas Rio 2016 e das mediações jornalísticas do The Guardian; em seguida, mapeamos os sentidos negociados no discurso da série em meio a relações de poder e disputas ideológicas; por fim, em uma etapa interpretativa, tensionamos as representações dos impactos do megaevento esportivo na série com a cultura vivida nas favelas cariocas no período a fim de verificar as potencialidades e as limitações da inserção de vozes comunitárias em um espaço global e hegemônico. Como resultado da análise de sentidos, identificamos cinco formações discursivas: a) descaso; b) militarização; c) resistência; d) banalização da violência e e) estereotipização. A pesquisa demonstra, por um lado, que a presença das mediações das favelas cariocas, representadas pelos jornalistas comunitários, foi um diferencial na série, já que colocaram em circulação representações mais plurais e alternativas sobre o megaevento esportivo, aproximando o discurso jornalístico da cultura vivida nas comunidades. No entanto, não é possível afirmar que a participação dos jornalistas comunitários se deu de forma ativa e democrática na série, já que coube ao The Guardian o controle integral de todo o processo de produção, restringindo a autonomia dessas vozes marginalizadas em um espaço tutoreado e limitado. Logo, a série envolveu uma relação assimétrica de poder em que o local foi convertido em produto para consumo a partir das lógicas do global e do hegemônico.

Consiste no estudo do ciclo junino, no município de Piracicaba, São Paulo. A atenção gira em torno das três festas religiosas do catolicismo popular desse ciclo - São Antônio, São João, e São Pedro - e suas relações sociais e simbólicas. As três festas são vistas em seu conjunto de significados amplos e distintos e só podem ser entendidas enquanto integrantes de um ciclo, porque fazem parte de um todo, numa visão orgânica. Através da analogia com o ciclo natalino e o tríduo pascal, explicamos o ciclo junino, vez que este tem Embútido em seus significados simbólicos características daqueles dois ciclos. No ciclo natalino e no ciclo junino temos a predominância do nascimento: no tríduo pascal a vida nova, a ressurreição - segundo o catolicismo. Os dois ciclos - natalino e junino - celebram os correspondentes solstícios do ano e, ao lado dessas passagens cósmicas, as grandes passagens da vida dos indivíduos e da comunidade.

O presente estudo é uma análise das estratégias utilizadas na comunidade tirolo-trentina da cidade de Piracicaba, durante o século XX, e suas implicações no ambiente escolar na década de 1990 deste século. Buscamos enfocar, desde a fundação da comunidade em Piracicaba até a década de 1970, os aspectos sócio-político-econômicos, assim também como o religioso, os quais reproduziam e redefiniam o núcleo familiar no enclave, construindo estratégias através de representações sociais, simbólicos e mentais, formando assim o ethos do grupo, que se constituía pelo habitus. Com a fundação do Circolo Trentino di Piracicaba, em 1987 (subsidiado pela Associazione Trentine nel Mondo), os descendentes tiroleses, juntamente com as professoras locais da comunidade invertem os valores: o que era estigma, marcada pela diferença linguística e cultural em relação aos de fora da comunidade passa a ser status, orgulho para os membros da comunidade. Buscamos, neste aspecto, relacionar o significado das palavras diferença e identidade para o grupo, assim também como analisamos o trabalho das professoras locais como sendo uma espécie de educação intercultural. A problemática que perpassa a nossa análise está em torno da relação comunidade e escola, tentamos mostrar através de práticas concretas das professoras, que a escola e a comunidade muitas vezes caminham na contramão. A escola precisa considerar a cultura local e não pode ver a criança como uma tabula rasa, desconsiderando, desvalorizando e estigmatizando a variedade lingüística e seu aspecto cultural.