Gênero e sexualidade
“FUTEBOL FEMININO, A SENSAÇÃO DO MOMENTO”: O FUTEBOL DE MULHERES NAS PÁGINAS DA IMPRENSA PARANAENSE (1934-1983)
O presente artigo tem como tema o futebol de mulheres nas páginas da imprensa paranaense. A intenção é analisar como a modalidade foi representada nos periódicos. Para isso foram analisados os jornais Diário da Tarde e Diário do Paraná, durante o período de 1934 a 1983. Partiu-se de uma perspectiva da História Social conectada aos Estudos de Gênero, encarando o esporte como uma atividade generificada. Em termos metodológicos, adotaram-se as discussões da imprensa como fonte histórica, empreendendo uma análise crítica que dê conta da complexidade de suas articulações e desconstrua o mito da sua objetividade. Concluiu-se que a despeito da proibição o futebol de mulheres foi uma realidade do campo esportivo paranaense e se deu das mais distintas formas.
QUADRO NACIONAL DE ÁRBITRAS DE FUTSAL: UMA HISTÓRIA PARA POSSIBILITAR OUTRAS HISTÓRIAS
Este estudo objetiva compreender a composição do quadro nacional de árbitras de futsal (QNAF) da Confederação Brasileira de Futebol de Salão – Futsal (CBFS). Para isso nos baseamos na História Cultural, nos Estudos de Gênero e na História Oral. É um trabalho historiográfico que teve como fontes 13 entrevistas e documentos conseguidos em acervos pessoais e institucionais. O estudo aponta que o universo do futsal nacional é balizado pelo masculino, tornando o homem a medida, o padrão a ser seguido, embora já vislumbremos algumas rupturas e desconstruções lentas e paulatinas. O aporte institucional da criação do QNAF tornou-se possibilidade concreta da atuação de mulheres no cenário do futsal, sendo influenciado especialmente por Inês dos Santos, Paraguassu Figueiredo e Daniel Pomeroy.
REPRESENTAÇÃO DO FEMININO: AS MÚLTIPLAS IDENTIFICAÇÕES DAS TORCEDORAS DE FUTEBOL
O presente trabalho busca reconhecer as múltiplas formas de identificação das mulheres frequentadoras de estádio, especificamente, entre as torcedoras do Club de Regatas Vasco da Gama, do Rio de Janeiro. A fim de reconhecer as nuances de uma identidade geralmente percebida como um bloco homogêneo em suas formas de torcer, midiática e academicamente, desconsiderando as múltiplas experiências das torcedoras. Para tanto, foi aplicado questionário entre os dias 24 de outubro de 2019 e 30 de novembro de 2019, obtendo um universo de 101 mulheres frequentadoras de estádio. O trabalho concluiu que a identidade de torcedora não é uma categoria de definição única, bem como o conceito mulher abarca uma gama de particularidades do ser.
MULHERES CASADAS COM JOGADORES DE FUTEBOL PROFISSIONAL: RELAÇÕES ENTRE CONJUGALIDADE, TRABALHO, LAZER E TORCER
O presente artigo apresenta parte de uma cartografia de modos de vida de mulheres casadas com jogadores profissionais de futebol. Por meio de três histórias de vida, busquei mapear relações entre mulheres, lazer e futebol e como o casamento com jogadores e a maternidade reorientaram a vida dessas pessoas e suas relações com o trabalho e o lazer. O que as entrevistas indicam é que a relação conjugal fez emergir na vida delas uma nova modalidade de torcer: a de torcer pelos times nos quais os maridos trabalham. Marcado por intensidades diferentes, esses modos de torcer expõem fissuras em concepções tradicionais, nas quais uma suposta imutabilidade dos vínculos afetivos, característicos de uma “monogamia clubística” é imprescindível a um torcer legítimo.
A configuração do esporte contemporâneo a partir de uma etnografia no MMA
As artes marciais mistas (MMA) são um esporte criado e modificado em associação com a mídia, cujo principal expoente são os eventos do UFC. Esse trabalho tem o objetivo de compreender ‘por dentro’ os elementos simbólicos envolvidos no MMA e apresentar uma relação configuracional, entendendo as imbricações adjacentes à relação de dependência funcional entre os elementos para discussão do esporte contemporâneo. A metodologia, etnográfica, utilizou a observação participante em uma academia de MMA, em eventos de luta e no programa TUF Brasil, diários de campo e entrevistas. A análise do reality show mostrou estratégias de esportivização, dramas pessoais/familiares e o processo de ‘humanização’ do lutador Na academia, as relações entre o ‘mestre’ e os ‘irmãos de treino’ foram sustentadas por laços afetivos e um conjunto de etiquetas, onde destacam-se os diferentes usos e sentidos atribuídos à violência. Por fim, ao observar o ‘dono do evento’, o espetáculo acima da vitória e a violência como espetáculo, indicou-se a importância de um alargamento do conceito de esporte para compreender o MMA. Esse estudo advoga que outro processo está em curso com a entrada da mídia e do espetáculo na configuração esportiva, provavelmente uma segunda esportivização.
“Lugar de mulher é onde ela quiser”: futebol feminino e (in)visibilidades das mulheres no cenário brasileiro
O futebol de mulheres tem crescido no Brasil, mas ainda existem lacunas a serem exploradas principalmente no que diz respeito aos marcadores sociais quando ligados ao gênero na constituição dessa prática. Assim, visando estimular a reflexão sobre essa modalidade no contexto nacional e proporcionando espaços de visibilidade e empoderamento das mulheres no ambiente esportivo, esse estudo objetivou analisar as perspectivas e dificuldades enfrentadas pelo futebol feminino em âmbito nacional e refletir sobre a percepção das mulheres acerca do aumento da participação e dos espaços para a prática esportiva da modalidade feminina. Para seu desenvolvimento foi elaborado um questionário e realizada pesquisa com o intuito de coletar informações referentes a visão de mulheres que praticam futebol quanto a sua jornada enquanto jogadoras dessa modalidade esportiva. Contou-se com uma população formada por mulheres que praticam futebol em cinco regiões brasileiras, região norte, nordeste, centro oeste, sudeste e região sul. A amostra é composta por 171 mulheres, sendo 170 do mulheres cisgênero e uma transgênero, com idades entre 11 (onze) e 59 (cinquenta e nove) anos. Conclui-se que até os dias atuais a falta de incentivo e o preconceito têm sido determinantes na trajetória das mulheres praticantes de futebol, quer seja ela realizada em clubes, escolas ou áreas de lazer.
“O Bahia te representa”: diversidade e luta para além campo
O objetivo deste texto é discutir as campanhas publicitárias do Esporte Clube Bahia do #BahiaClubedoPovo, especialmente os vídeos que abordam discriminações e pautas identitárias. Nos fundamentamos nos Estudos Culturais e na análise cultural para abordarmos 13 vídeos publicitários públicos no canal do Youtube do Clube. O esporte tem se mostrado um importante espaço de luta para as pautas identitárias e os materiais e participações pela internet podem apontar posicionamentos dos clubes de futebol. O Bahia optou por uma abordagem mais progressista nas publicações de seu núcleo de ações afirmativas, se aproximando de um debate internacional de combate aos preconceitos, mas sofrendo algumas resistências.
“A QUEM CABE A VITÓRIA?”: AS PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS DO BASKET-BALL NO MUNICÍPIO DE OLIVEIRA, SERTÃO DO OESTE MINEIRO
O presente artigo descreve e interpreta as primeiras experiências do basket-ball no município de Oliveira, sertão do Oeste mineiro. Mais precisamente, objetiva-se a estudar a institucionalização deste esporte, ocorrida em 1916 por iniciativa das normalistas do Colégio Nossa Senhora de Oliveira, em contexto marcado por dinamização produtiva das áreas rurais, ações modernizadoras na sede citadina, valorização das práticas corporais e um debate na imprensa local sobre os esportes que, supostamente, seriam mais indicados para a fruição das mulheres. Como método, foram analisadas reportagens do periódico oliveirense Gazeta de Minas, disponível no acervo digital do próprio editorial, além de dados censitários do poder público estadual, disponíveis no catálogo digital do Ministério da Fazenda.
PERTENCIMENTO CLUBÍSTICO E PERTENCIMENTO TORCEDOR: MATERIALIDADE E GÊNERO NUMA TORCIDA ORGANIZADA DE FUTEBOL
A proposta é atualizar o debate sobre torcidas organizadas, desdobrado em novas abordagens analíticas e etnográficas. A noção de pertencimento clubístico elucidou dinâmicas torcedoras valendo-se das classificações agonísticas fomentadas no e pelo sistema competitivo das rivalidades do futebol profissional masculino. Agora, tomamos o torcer de outro ponto de vista, como manifestação inerente às demandas mais internas e circunscritas aos próprios torcedores, e passamos a nomear esse deslocamento analítico de “pertencimento torcedor”. Pertencimento torcedor será exemplificado nas práticas materializadas de torcedores e torcedoras organizadas, expondo formas mais contemporâneas de segmentaridade da sociabilidade, como as implicações de gênero, debatidas aqui a partir de etnografias centradas nos Gaviões da Fiel, torcida organizada que também se projeta no Carnaval oficial da cidade de São Paulo. Essa atualização analítica auxilia investigar o movimento de estranhamento metodológico ao problematizar o termo “clubístico” como extensão da esfera masculina do jogar, ao mesmo tempo que possibilita difratar questões de gênero no interior do torcer, liberando outras formas de pertencimento atadas a genérica categoria masculinizante “torcedor”.