Dentre as principais motivações desta pesquisa encontra-se o fato de que em menos de uma década a imagem (e provavelmente a auto-imagem) da cidade de Goiânia sofreu uma transformação radical. O ano de 1995 pode ser considerado como um marco desta mudança e dois fatos ocorridos na cidade foram os seus deflagradores. O primeiro se trata da tentativa do então prefeito da cidade de outorgar o título de "Goiânia Capital Country" à capital do estado de Goiás. Contudo, no mesmo ano outra expressão cultural passou a adquirir visibilidade e a dar notoriedade à Goiânia, trata-se da cena de rock independente de Goiânia, seu marco inicial é o primeiro Goiânia Noise Festival. A cena independente notabilizou Goiânia no contexto nacional como a "capital do rock independente", sem qualquer iniciativa ou apoio público ou governamental para tanto, através de uma forma de produção cultural totalmente improvável em Goiás, o rock and roll. O problema deste trabalho consiste em como a cultural musical roqueira da cena independente se expressa politicamente. A resposta deve que passar, necessariamente, pelo conceito de performatividade, pois, esta se apresenta, em sua forma forte, através dos processos de identificação, enquadrados pelo "imperativo social do desempenho". As performances realizadas pelos músicos no palco possibilitam a identificação com posições normativas excluídas e, neste sentido, são homólogas às performances dos atores coletivos no espaço público. Em Goiânia isto pode ser verificado através da presença significativa de homossexuais nas mais diversas práticas existentes na cena independente, desde produtores e músicos até o público, conforme relataram alguns entrevistados. Em uma cidade cuja cultura é identificada, local e nacionalmente, com o estilo country, com as raízes rurais e com tradições machistas, a produção cultural e estética, o estilo, as práticas estabelecidas, que são completamente fora dos padrões goianienses, ao se constituírem como totalmente inclusivas às minorias e identidades marginalizadas e discriminadas deixam antever a faceta política progressista da cena independente de Goiânia, que denominamos de política da diferença.