Turismo e cultura de viagem
O futebol feminino nos museus nacionais do futebol do Brasil e da Inglaterra
A conturbada trajetória do futebol feminino no Brasil e na Inglaterra reverberou no patrimônio e nos museus, resultando em desproporcional espaço físico e simbólico nos museus especializados em futebol. As persistentes diferenças de visibilidade e de reconhecimento entre o futebol feminino e o masculino, além da associação dessa modalidade a fatos negativos, contribuíram para que o patrimônio ligado ao futebol feminino estivesse sub-representado nos museus nacionais do futebol – Museu do Futebol (São Paulo, Brasil) e National Football Museum (Manchester, Inglaterra). Nesse cenário, identificamos, desde 2015, marcos temporais relativos à inclusão do futebol feminino nessas instituições museológicas nacionais, assim como ações que foram empreendidas para tal inclusão. Combinando referências teóricas à investigação exploratória, objetivamos identificar conexões entre os fatores que estimularam a valorização do futebol feminino no âmbito desses museus, contribuindo para as discussões a respeito da musealização do futebol. Concluímos que o futebol feminino vem sendo abordado pelo Museu do Futebol e pelo National Football Museum por meio da apresentação de suas vitórias, mas também considerando os desafios do passado e do presente, em num contexto em que demandas e compromissos de diversas naturezas vêm sendo equilibrados.
O legado do torcer em estádios após os megaeventos esportivos: economia, apropriação do espaço e o turismo
O presente artigo apresenta perspectivas do torcer após as reformas e/ou (re)construções de estádios para a Copa Mundo de 2014 a partir de três eixos analíticos em três estádios: o impacto econômico no Mineirão/MG; o impacto social dada a (re)apropriação do espaço pelos torcedores no Maracanã/RJ; e o impacto sociocultural do turismo na Neo Química Arena/SP. O objetivo é de elucidar e refletir como as mudanças estruturais para os megaeventos esportivos afetaram nas formas de torcer e nos novos usos desses equipamentos. Após análises empíricas realizadas com o auxílio de métodos qualitativos e quantitativos, foi possível atestar que o saldo dos legados dos estádios transformados foi, em sua maioria, negativo: processo de gentrificação; sensação de não pertencimento do espaço totalmente modificado; mudança da compreensão de torcedor para consumidor; o empobrecimento da ambiência do lugar. Diante disso, denota-se a necessidade de refletir o estádio como espaço de diversidade econômica e sociocultural que retome maior centralidade na formação identitária do torcedor.
Reforma e reformulação do Mineirão: planejamento, conceitos e inspirações
O estádio de futebol, um microcosmo social, reflete as mudanças sociais em fluxo. Escolhido como estádio-sede da Copa do Mundo de Futebol da FIFA em 2014, o estádio Mineirão (Belo Horizonte/MG) foi reformado e reformulado para atender às normativas da FIFA. Esse artigo objetiva apresentar e analisar a entrevista realizada com o arquiteto responsável pelo projeto executivo da reforma e reformulação do Mineirão. A entrevista que ocorreu em dezembro de 2014 foi transcrita e, aqui, trechos foram selecionados para a discussão que tangencia o assunto. Os dados demonstraram alguns dos elementos do processo de reformulação do Mineirão, entre eles o alinhamento com a escala global de construção e transformação dos estádios, o hibridismo entre planejamento, implementação e operacionalização do estádio e a influência do modelo europeu de futebol e do modelo estadunidense de gestão de estádios.
Si tu vas a Rio! L’éxperience Brésilienne d’Isaac Joseph
Em dezesseis anos, de 1988 a 2004, Isaac Joseph visitou o Brasil, permanecendo várias semanas e viajando por muitas regiões. Estabeleceu relacionamentos profundos com colegas e estudantes e desenvolveu uma rede de intercâmbio com seus amigos brasileiros. acadêmico e de pesquisa. São essas interações que abordaremos aqui, com base em depoimentos de pesquisadores e estudantes brasileiros. Faremos isso apresentando ao leitor uma percepção global dessas interações acadêmicas distribuídas e organizadas em quatro momentos: a descoberta do Brasil e a tessitura de uma primeira rede de amizades; cooperação universitária por meio do programa CAPES-COFECUB; o trabalho de expertise e, por fim, o desenvolvimento de amizades.
B.A.S.E. Jump, risco e emoção: uma experiência para dar sentido à vida
O objetivo deste estudo é descrever e discutir o ponto de vista de base jumpers brasileiros sobre os sentidos atribuídos à vida, considerando que a experiência é perpassada pela associação esporte-risco-emoção. Com esta finalidade, estabeleceu-se um caminho de investigação com o qual utiliza-se de pressupostos teóricos acerca de risco, esporte, emoção e romantismo e de relatos das narrativas dos atores sobre suas experiências com o risco, para discutir as noções que permeiam os sentidos atribuídos à vida por esses, bem como apontar para aspectos da cultura que influenciam na opção por um estilo de vida arriscado.
De “sol e mar” a “Ilha do silício”: narrativas midiáticas na promoção de Florianópolis (1975-2020)
“Ilha da magia”, “Capital da qualidade de vida”, “Ilha do silício”. Por meio de discursos e imagens, diversas narrativas foram se transformando e se tornaram responsáveis por induzir as formas de ver e de dizer Florianópolis. Partindo do argumento de que o espaço participa da produção discursiva da cidade, o objetivo deste artigo é compreender o modo como as narrativas que constroem a Florianópolis atual foram empreendidas e modificadas entre 1975 e 2020. Utilizou-se como procedimento metodológico a análise de documentos veiculados em jornais locais, revistas de circulação nacional e guias turísticos, os quais permitiram inferir os discursos difundidos por agentes hegemônicos locais. Florianópolis foi produzida inicialmente como cidade turística e vivenciou um período de promoção de um turismo elitizado. Chegou ao século XXI com uma imagem turística convergente a uma estratégia de city marketing mais complexa, que passou a atrair investimentos dos setores de indústria criativa e tecnologia, além de novos moradores de alto poder aquisitivo.
Turistificação e regeneração urbana: o caso do projeto Porto Maravilha na zona portuária do Rio de Janeiro
O artigo apresenta uma avaliação do processo de turistificação da zona portuária do Rio de Janeiro conduzido pelo projeto Porto Maravilha. Com base em uma análise dos impactos da atividade turística na produção do espaço e na dinâmica socioeconômica da área, discutem-se as relações entre turismo e regeneração urbana mediante a abordagem de temas como a mobilização da cultura para fins de revalorização simbólica e o intuito de dinamização econômica local. O resultado da pesquisa demonstra os descaminhos e a incompletude da tentativa de inserção da zona portuária do Rio de Janeiro no circuito de turismo internacional uma década após o lançamento do projeto Porto Maravilha.
Grandes projetos, grandes eventos, turistificação do território: da produção cultural à mercantilização e espetacularização da cidade e da cultura urbana
Este artigo critica o planejamento urbano e a produção do território fundados no incentivo aos processos de espetacularização, patrimonialização, cenarização e museificação do território, que costumam destituir os Valores do patrimônio do circuito da vida pública ao valorizarem os bens patrimoniais e as atividades culturais por matizes e objetivos exclusivamente econômicos. Além disso, o city marketing elege e cristaliza os ícones territoriais, banalizando-os através de propagandas massivas. Esses fatores se verificam por meio de diversas consequências, como a redução das relações afetivas entre habitantes e seus entornos e o esvaziamento dos valores simbólicos e afetivos dos lugares. Trata-se de atacar os grandes projetos, os grandes eventos e o turismo predatório, atrelados à hegemonia do capital econômico, e de defender o potencial do ambiente no desempenho de papéis fundamentais à participação social efetiva na produção, na manutenção e no desfrute dos benefícios do patrimônio, do território e de suas territorialidades.
O turismo e os ícones urbanos e arquitetônicos
Este artigo analisa teórica e historicamente a relação entre o turismo e os ícones urbanos e arquitetônicos, enfatizando o seu papel no panorama contemporâneo. Enfoca ainda a importância destes artefatos (edifícios e grandes projetos e intervenções urbanas) no contexto da produtividade e competitividade urbanas e, consequentemente, na veiculação da imagem turística dos lugares. Discute-se criticamente como a lógica do consumo reforça a relação entre o turismo, os ícones urbanos e arquitetônicos e a imagem turística, que, condicionada pelas práticas sociais (econômicas, políticas e cultural-ideológicas) da globalização, tem direcionado sobremaneira o planejamento, a gestão, as intervenções urbanas, assim como o processo de espetacularização da arquitetura e valorização da sua carga simbólica.