A rua como alternativa de moradia e sobrevivência
A crescente ocupação de espaços públicos como moradia pela população de rua incomoda diferentes grupos sociais e instituições, pelos mais diferentes motivos que vão de um sentimento de solidariedade com o desabrigado, até as dificuldades que o poder público enfrenta diante de uma situação contraditória: gerenciar o espaço público e atender as necessidades da população. É voz corrente que esta população está aumentando nas ruas de São Paulo e de outros grandes centros do país. A ausência de estudos sistemáticos sobre a população de rua impede seu dimensionamento mais preciso. Chega-se a exagerar seu número, fala-se em centenas de milhares de pessoas nas ruas de São Paulo. Sem deixar de lado o fato de que é expressivo e crescente o número de pessoas que passam a viver nas ruas, é importante atentar para a dimensão simbólica do alvoroço com os números. A ocupação de praças, viadutos e jardins toma público o que fica escondido dentro dos barracos de favela, casas precárias de periferia e cômodos de cortiço do centro deteriorado, denuncia a falta de emprego, de moradia, a falta de recursos de higiene e saúde. Na medida em que esta população passa a compor o espaço urbano, se incorporando à paisagem justamente nos locais privilegiados da cidade, ela nos obriga ao incômodo de incorporar na nossa já frágil visão de nós mesmos como sociedade, o que foi gerado no seu processo de produção e reprodução da desigualdade. Mas quem é esta população de rua para além do avesso que ela apresenta aos nossos olhos?