Diferentes expressões populares aludindo ao tema de perda e recuperação de um novilho precioso espalham-se por quase toda parte do Brasil, como variantes de um mesmo ciclo mítico do boi que aparece incorporado em muitas historias, músicas, danças e performances dramáticas pelo país afora 1: boi calemba no Rio Grande do Norte, boi pintadinho no Rio de Janeiro, boi bumbá no Pará e Amazonas, boi-de-mamão em Santa Catarina, boi-de-reis no Espirito Santo, cavalo-marinho em Pernambuco e bumba-meu-boi no Maranhão. Realizações singulares de um conjunto amplo de manifestações em que a figura de um boi - urna representação plástica do animal, mais ou menos realista, confeccionada artesanalmente - contracena com homens e mulheres nos papéis de cantadores, vaqueiros, índios, palhaços, escravos, fazendeiros e outros, essas expressões conjugam modalidades distintas de canto, toque, dança, teatro, narrativa e jogo. Frequentemente associadas a crenças e sentimentos religiosos, não perdem, contudo, o caráter lúdico que seus praticantes lhes reservam e denunciam, ao tratá-las preferencial mente como brincadeiras, e a si próprios como brincantes.