O tempo de festa é sempre
A vida nas cidades frequentemente é apontada como a fonte da maioria dos males sociais como a violência, a pobreza, os desvios comportamentais, as neuroses. Na cidade, até o tempo perderia o sentido, pois seria sempre vivido como o tempo do trabalho, sendo o descanso dos finais de semana apenas "um intervalo" entre dois períodos de produção, um tempo reservado à reprodução da força de trabalho, e que os trabalhadores não teriam condições de desfrutar como lazer devido à falta de recursos, oportunidades ou mesmo de disposição.
Entretanto, as atividades de lazer fazem parte constitutiva da parte dos sujeitos na cidade. Todas estas atividades implicam, para uma população pobre, a organização dos indivíduos em termos de seu tempo disponível e do dinheiro necessário para sua realização, ocupando o pensamento das pessoas de modo significativo e dando sentido ao trabalho (pois é o trabalho que proporciona os recursos para a sua participação nos grupos) e à própria vida como fonte de prazeres). Um bom exemplo de como a vida pode readquirir seu sentido pela participação num grupo, que através de suas práticas reconstrói relações pessoais e sociais mais “diretas” , pode ser dado pelo “povo-de-santo”, que é como se autodenominam os adeptos do candomblé. Para este grupo, formado majoritariamente por indivíduos das classes pobres, geral mente migrantes nordestinos (que trouxeram o culto para cá), mulatos, pouco escolarizados, esta religião, mais do que corresponder às necessidades de transcendência constitui mesmo um estilo de vida, reconhecível por sinais próprios como a linguagem, o jeito, o gosto. Esta participação no candomblé organiza, como veremos e influencia também a vida fora do terreiro.