Esta dissertação versa sobre o ascensão de uma nova mecânica de poder e sua implantação em áreas de relegação como no estudo de caso: a favela da Rocinha, com a instalação do Centro de Comando e Controle da UPP Rocinha. Para melhor descrever este processo, através de entrevistas, acompanhamento do dia-a-dia de inspiração etnográfica, conversas informais e revisão de literatura, realizou-se um extenso trabalho de campo e de esforço teórico para tentar dar conta da realidade que se apresentava. A partir das análises de processos subjacentes ou pressupostos ao âmbito central da pesquisa, tem-se mais substrato para chegar onde se quer. Por isto, analisam-se a origem e função da instituição policial, a história da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, as políticas de segurança do governo Sérgio Cabral e Pezão, a guerra às drogas e a militarização da segurança pública, a favela enquanto categoria analítica – ou não -, o projeto das UPPs. Além de conceitos teóricos chaves para o desenvolvimento deste trabalho, dentre eles: estado de exceção, homo sacer, campo, soberania schmittiana e biopolítica. Após estas discussões conceituais, modifica-se o rumo da análise para entender quais outras mecânicas de poder estão em funcionamento e como elas se imbricam, ressignificando-se, gerando um híbrido. A sociedade disciplinar que, já entranhada como forma de governamentalidade das favelas, choca-se com a sociedade de controle, misturam-se, então, biopolítica e controle. Assim como a sociedade controle, a vigilância eletrônica é rizomática, ao contrário da vigilância disciplinar, que é arborescente, por negar o múltiplo, através de processos de moldagens descritos por Deleuze e Guattari (2000). Só então é que se torna possível tirar conclusões do campo com elevado poder explicativo, como por exemplo que a implantação do sistema de câmeras acentua diferenciações, portanto, as clivagens sociais, uma vez que é baseada sobre classificações, que por sua vez são fundadas sobre estereótipos racistas, machistas, classicistas e de toda a sorte, variando em função dos riscos percebidos, do público-alvo desejado para pôr em exceção sob vigilância eletrônica, típico das penalizações a céu aberto das sociedades de controle, o que alguns já chamam de ecopolítica.