Falas, lugares e transformação: Os Yuhupdeh do baixo rio Tiquié
Esta tese corresponde a uma etnografia acerca dos yuhupdeh do baixo rio Tiquié, povo pertencente à família linguística Nadehup (Maku), localizada no Noroeste Amazônico. Procura-se retomar aqui o tema da mobilidade como fio condutor do relato que se desenvolve nos quatro capítulos da tese, entendendo-o como um traço próprio da sua socialidade, do seu modo de habitar e produzir conhecimento sobre o mundo. Como a experiência etnográfica aqui relatada deverá revelar, os yuhupdeh executam um amplo movimento – a pé e de canoa - no eixo que vai da região da Serra do Bacurau, na cabeceira do Igarapé Ira, local de origem dos clãs yuhupdeh, até a cidade de São Gabriel da Cachoeira e dali, até o Lago de Leite (Rio de Janeiro e demais grandes cidades do país) nos registros escritos e fotográficos de antropólogos e linguistas. Trata-se de um movimento pendular que coincide com o eixo espaciotemporal montante-jusante no qual se deu a viagem da cobra canoa que trouxe para a região os povos que hoje a habitam, mas também em torno do qual se organiza o cosmos e a vida social yuhupdeh. De modo geral, procurar-se-á, aqui, apreender o modo como os yuhupdeh relatam a sua própria história, desde o seu surgimento no tempo mítico até o momento atual em que se frequentam cada vez mais da cidade e tem sua língua e narrativas conduzidas até mais distante, até o Rio de Janeiro, São Paulo e grandes cidades brasileiras. Com efeito, torna-se foco de interesse da análise a compreensão do modo como os yuhupdeh formulam as transformações naquele eixo espaciotemporal, ou seja, do Lago de Leite a Serra do Bacurau e, de modo inverso, da Serra ao Lago.