UrbanData-Brasil/CEM é um banco de dados bibliográfico que reúne informações publicadas, sob diferentes formatos editoriais, acerca das várias dimensões do urbano brasileiro.
O projeto foi fundado, em fins dos anos 1980, pela socióloga Licia do Prado Valladares, um dos grandes nomes da sociologia brasileira, no âmbito do antigo Instituto de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). Era sua intenção que o UrbanData-Brasil suprisse, em um contexto pré-internet, a necessidade de acompanhamento, registro, classificação e difusão do conhecimento científico sobre as cidades brasileiras, não raro restrito aos seus próprios centros produtores.
Ao longo dos anos 1990, graças ao financiamento do CNPq e de agências estrangeiras, bem como a parcerias tributárias das várias redes de que participava Valladares, o banco de dados foi se consolidando como uma central de pesquisas, ultrapassando largamente os limites de um simples repositório de referências bibliográficas. Muito antes da popularização das ferramentas de busca, como o Google Scholars, ou de portais acadêmicos como o Scielo e o Scopus, o UrbanData-Brasil já disponibilizava informações sistematizadas sobre artigos de periódicos, livros, coletâneas, dissertações e teses. Quando em funcionamento pleno, o banco de dados permitia, ainda, a realização de balanços dessa produção multidisciplinar (Cf. Valladares, Sant’Anna e Caillaux, 1991; Valladares e Sant’Anna, 1992; Valladares e Freire-Medeiros, 2002; Valladares e Medeiros, 2003).
De meados dos anos 2000 até início da década seguinte, a crise financeira do Iuperj, que acabou por levar ao rompimento de seu corpo docente com a UCAM e sua incorporação parcial à UERJ sob o título de Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), refletiu-se em uma obsolescência das bases tecnológicas do UrbanData-Brasil. Nem mesmo com toda a dedicação de sua equipe, formada por mestrandos e doutorandos supervisionados pelo Prof. Luiz Antonio Machado da Silva – outro grande nome da sociologia urbana brasileira --, foi possível superar as dificuldades operacionais. O acervo bibliográfico foi se tornando desatualizado, sobretudo face ao aumento exponencial de periódicos e programas de pós-graduação a que assistimos na década passada.
Bianca Freire-Medeiros, que desde o início dos anos 1990 fizera parte da equipe do UrbanData-Brasil (primeiro como bolsista de iniciação científica e depois como colaboradora e coautora), recebeu a incumbência de ‘resgatar’ o projeto em 2013. Naquele momento Freire-Medeiros era Professora Associada da Escola de Ciências Sociais da FGV/RJ, onde o projeto passou a funcionar e onde iniciou-se a recuperação do banco de dados, cuja parte do acervo havia, infelizmente, se corrompido por defeitos técnicos. Paralelamente, inauguramos nossa página no Facebook, em que divulgamos eventos, oportunidades de publicação, convocações para seleções de pós-graduação, lançamentos de livros e notícias em geral que sejam de interesse dos estudiosos do urbano brasileiro.
Em 2015, com a incorporação da socióloga Bianca Freire-Medeiros como docente do Departamento de Sociologia da FFLCH/USP, o UrbanData-Brasil foi acolhido pelo Laboratório de Pesquisa Social/LAPS. Em 2018, o UrbanData-Brasil vinculou-se ao Centro de Estudos da Metrópole, um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDS), da FAPESP, sediado na USP e no CEBRAP. A partir dessa parceria, foi possível atualizar toda a base de dados, os parâmetros classificatórios, o sistema de armazenamento de dados e as ferramentas de busca. Graças à expertise da Profa. Mariana Giannotti, coordenadora da Área de Transferência Tecnológica, conseguimos implementar nosso site e realizar a vocação inicial do UrbanData-Brasil/CEM: ser uma central de informações bibliográficas aberta à toda a comunidade científica e pessoas interessadas.
A equipe do UrbanData-Brasil/CEM, apoiada por uma rede ampla de interlocutores, segue continuamente se dedicando a traçar novas estratégias de coleta e análise de dados bibliográficos. É importante notar que, para além dos indexadores convencionais, a classificação na base é concebida por meio de outras três variáveis de identificação que imprimem originalidade ao trabalho classificatório e analítico do UrbanData-Brasil: Referência Temporal (a que período cronológico a pesquisa se refere?), Referência Espacial (da escala do logradouro mais específico à escala global, onde a pesquisa aporta?) e Áreas Temáticas.
Também produzimos, com apoio do Programa Unificado de Bolsas da USP, dois projetos de cultura e extensão voltados para os interessados nas questões urbanas de nosso país: “Urbanidades: o podcast do urbano brasileiro” e “sobre.vivências”.
As agências de fomento reconhecem que a circulação do que é produzido nas universidades ainda é muito precária, que deveríamos gerar conhecimento de maneira mais cumulativa e menos dispersa. De fato, em um cenário onde os investimentos em ciência estão sempre aquém da demanda, é fundamental levar em conta o que já foi realizado antes de mobilizar recursos em pesquisas supostamente originais. Quando enfrentamos ataques sistemáticos à produção universitária no campo das ciências sociais e humanas, a necessidade de um trabalho de organização e divulgação das pesquisas acadêmicas torna-se ainda mais premente.
Não apenas docentes e pesquisadoras/es de instituições de ensino superior públicas e privadas, mas estudantes de graduação e pós-graduação, as agências de financiamento, os órgãos públicos de pesquisa, as ONGs e demais centros de produção de conhecimento, além de lideranças em todos os níveis de organização da sociedade civil, podem se beneficiar do UrbanData-Brasil. Mas para que o nosso trabalho de monitoramento, coleta, classificação e análise crítica da produção bibliográfica possa se realizar de maneira plena, precisamos do engajamento de toda na comunidade de estudiosos do urbano brasileiro. Por isso, não esqueçamos: o UrbanData-Brasil é de todas/os nós!