Interdisciplinar
Uma ideia sobre a municipalização do ensino
O artigo mostra que a municipalização do ensino, no pensamento de Anísio Teixeira, visava claramente à melhoria do ensino. Hoje, porém, a municipalização é muito mais uma bandeira do participacionismo do que um projeto de reoordenação legal das responsabilidades públicas em matéria de educação.
A questão nacional na América Latina
A Empresarização dos Mercados Populares: trabalho e formação excludente
Centralidade urbana em um sistema territorial de inovação agrícola
A produção agrícola está distribuída em ampla parcela do território nacional e sua fronteira continua em expansão. Contudo, o mesmo não ocorre com os mecanismos de reprodução do conhecimento científico. Este artigo tem como objetivo discutir como as descontinuidades entre a produção agrícola e as redes de conhecimento científico criam um tipo particular de centralidade urbana. Para tanto, apoiamo-nos em uma base conceitual de um sistema territorial de inovação agrícola (STIA) para situar o fenômeno urbano no processo inovativo da agricultura em um conjunto de relações políticas, econômicas e sociais. Pautamo-nos em dados sobre componentes do STIA com vistas a formular índices que identificam as cidades mais representativas para a criação e a adaptação de conhecimento agrícola. Com base nos resultados obtidos, é proposta uma agenda de pesquisa em torno dos processos urbanos e regionais associados à inovação na agricultura brasileira.
Um manisfesto pela floresta urbanizada
A recente publicação do livro “A Urbe Amazônida: a floresta e a cidade” por Bertha K. Becker representa o culminar de um conjunto de pesquisas realizadas pela a autora sobre as cidades amazônicas e de seu papel na formulação e difusão de um modelo de desenvolvimento autóctone e sustentável, capaz de promover a melhoria das condições de vida daqueles que vivem e trabalham nas vizinhanças e no interior da maior extensão de florestas tropicais daTerra.
A relação dialética entre a floresta e a cidade é a questão central que anima a pesquisa e pavimenta o caminho que percorremos guiados por Bertha Becker,desde a exploração das ‘drogas do sertão’ nos primórdios da colonização até as possibilidades atuais queoferecem o conhecimento da biodiversidade e os avanços da biotecnologia para o manejo sustentável das águas e florestas da Amazônia.
Arranjos urbano-regionais: uma categoria complexa na metropolização brasileira
O objeto de discussão deste texto é uma categoria espacial que transcende as aglomerações urbanas em seu aspecto morfológico; caracteriza-se pela concentração extremada da riqueza, do conhecimento e do poder; enreda-se em um feixe de fluxos de variadas ordens; e se compõe de uma multiescalaridade diversa e conflituosa. Refere-se aos arranjos urbano-regionais, uma configuração fisicamente expandida, de natureza híbrida, sem definir limites precisos, e que revela os principais elos da rede urbana e da inserção regional na divisão social do trabalho. Esses arranjos distribuem-se pelo território nacional, sendo o de maior proeminência o do entorno da metrópole de São Paulo. Posto que é um conceito em construção, está aberto ao debate.
IDH, indicadores sintéticos e suas aplicações em políticas públicas: uma análise crítica
Uma das áreas de pesquisa interdisciplinar nas Ciências Sociais Aplicadas que vem merecendo atenção crescente nas universidades, centros de pesquisa e agências estatísticas é o campo de estudos em Indicadores Sociais e Políticas Públicas, que se revela pela proposição de medidas-resumo – indicadores sintéticos – da realidade social vivenciada pela população brasileira. Neste trabalho, faz-se uma análise crítica dessas medidas, começando pelo Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, estendendo-se por diversas outras propostas de indicadores propostos ao longo dos últimos dez anos. Reconhece-se a contribuição desses no que se refere a promover a discussão sobre a pobreza, a exclusão social, para a agenda política nacional, mas apontam-se os problemas de natureza conceitual e metodológica das propostas, assim como, o que é pior, o uso mal informado de indicadores sintéticos como critérios de elegibilidade de municípios para políticas sociais.
DiverCidade, territórios estrangeiros como topografia da alteridade em São Paulo
Em DiverCidade, a autora mapeia e descreve as "tribos" estrangeiras em São Paulo. Seu intuito mais amplo é abordar a alteridade da cidade sob diferentes ângulos, de modo a resgatar as trajetórias e redes de sociabilidade que caracterizam nossa paulicéia no contexto da globalização.
Rio de Janeiro, a imagem da divisão social da cidade nas emissões televisivas da França
O presente texto tem por objeto de análise as características dos programas da televisão francesa que abordaram a temática das favelas da cidade do Rio de Janeiro/Brasil, em documentos que foram ao ar entre abril de 1964 e maio de 2003. Não se analisarão as imagens propriamente ditas, ou seja, os aspectos particulares pelos quais as cenas e/ou quadros foram construídos, mas identificar-se-ão características próprias dos documentos audiovisuais que trataram a temática das favelas, em relação aos programas, temas abordados, duração e horário da emissão. Foram utilizadas duas bases de dados da Inathèque de France, a saber: a base do Dépôt Legal e os Archives INA TV (IMAGO). A análise dos resultados sugere que, na TV francesa, o ícone predominante da sociedade carioca é o de uma sociedade dicotômica, ricos de um lado, e pobres na favela. Esse ícone foi construído através de diversos programas, em que imagens e cenas cotidianas das favelas, sob o gênero de noticiários e magazines, foram transmitidas em boa parte entre 11h31min e 13h30min, nos canais TF1, FR2 e FR3 (70% do total das emissões). Gêneros mais longos, como documentários, com tendência a produzir um quadro de análise e propor uma explicação por vezes mais abrangente, se fizeram presentes, em geral, após 22:30h, nos canais FR2, FR3, Canal + e Arte. Assinala-se na conclusão que a estrutura socioespacial do Rio de Janeiro é mais complexa do que a captada pelo modelo dualista indicado pelos programas analisados. Tal matização socioespacial está ausente nos documentos audiovisuais transmitidos pela TV francesa, e isso os leva a abordar o tema da favela no Rio de Janeiro de uma visão mítico-romântica como a iconizada no filme de Marcel Camus, Orfeu Negro.