Quando operam no campo da cultura, os processos de comunicação demandam uma leitura política da sua atuação. Ações culturais promovem formas de comunicação entre as várias camadas das populações que compõem uma cidade, entre uma cidade e seu entorno, modificam a cidade, modificam o entorno e modificam a relação entre ambos. A natureza dessas ações é que traça o perfil daquilo que comunicam, daí a importância de cada uma delas. Justamente por isso, torna-se indispensável aprender a identificar cada ação cultural como um processo de comunicação com a sociedade na qual opera. Entendendo a política cultural para a dança realizada na cidade de Araraquara-SP, entre 2001-2008, como um processo de comunicação, a tese parte da hipótese de que o conjunto de ações culturais realizadas a diferenciou de outras cidades brasileiras de porte e situação geográfica semelhante e a conectou com um outro tipo de circuito. A dança é empregada como o recorte que explicita a hipótese. Os dois projetos aqui pesquisados, objetos de estudo da presente tese - a Escola Municipal de Dança Iracema Nogueira, fundada em 2002, e o Festival de Dança de Araraquara, criado em 2001 -, nasceram a partir de entendimentos distintos dos até então hegemônicos na cidade. Sua implantação suscitou resistência e demandou estratégias de comunicação capazes de promover a sua adaptação à sociedade araraquarense. Para pesquisar as estratégias que operaram tal transformação, aqui se empregou a bibliografia das teorias da comunicação de viés político (BARBERO, MATTELART, SODRÉ), lidas à luz de NEGRI & HARDT, BAUMAN e VIRNO. Com esses autores foi possível desenvolver o argumento de que a consolidação de projetos como os dois acima descritos, ao envolverem a cidade de formas inusitadas e singulares, acabaram ganhando uma força que, possivelmente, assegurará a sua continuidade - afrontando a tradição brasileira de interrupção e descontinuidade de projetos culturais, mesmo os bem sucedidos, a cada eleição, quando se alteram os partidos no poder. Conhecer o histórico das formas de comunicação da dança em Araraquara nesse período permite avaliar com mais acuidade a transformação operada pelos dois projetos, que nasceram e se implantaram enfrentando e transformando os focos de resistência que podiam ser antevistos, uma vez que destituíam o conceito de dança que, até então, se praticava na cidade. Ao substituir os campeonatos ou concursos entre escolas particulares que aconteciam debaixo da nomenclatura Festival de Dança", por formas colaborativas entre profissionais da área, o Festival de Dança de Araraquara desarticulou a comunicação entre Araraquara e as cidades onde funcionam estes festivais competitivos e inscreveu-a em outro circuito, o dos festivais profissionais e não-competitivos. Evidentemente, essa ação feriu os interesses locais que uniam as escolas privadas da cidade e foram necessários alguns anos para que o ambiente se harmonizasse. A inauguração da Escola Municipal de Dança Iracema Nogueira, pautada por uma proposta de currículo inteiramente distinta do modelo praticado por essas mesmas escolas, abriu outra fissura na hegemonia anterior, tornando o ambiente da dança em Araraquara mais plural e complexo. O objetivo central é o de contribuir com o avanço das discussões a respeito do binômio comunicação-cultura dentro de uma perspectiva política, usando a política cultural para a dança como o foco dessa reflexão