Infância e juventude

Lugares próprios entre modos de ser distintos? A inserção das crianças que moraram no Japão

Tipo de Material
Artigo de Periódico
Autor Principal
Ueno, Laura Satoe
Sexo
Mulher
Código de Publicação (DOI)
https://doi.org/10.48213/travessia.i69.481
Título do periódico
Travessia - Revista do Migrante
Volume
1
Ano de Publicação
2011
Local da Publicação
São Paulo
Idioma
Português
Palavras chave
Crianças
migração de retorno
Japão
Resumo

No presente texto, discutimos como as crianças costumam viver as mudanças entre culturas, em especial aquelas que retornaram do Japão. Apresentamos aspectos do processo de socialização envolvendo contextos culturais diferentes, bem como as implicações da migração na dinâmica das famílias e no desenvolvimento psicológico dos sujeitos, partindo de interlocuções teóricas entre as abordagens intercultural e psicodinâmica. Consideramos que os fatores sociopolíticos são fundamentais na compreensão das perdas, conflitos e desafios envolvidos nos deslocamentos. No âmbito da educação, temos observado que a escola costuma reproduzir descontinuidades em vez de assegurar a ‘possibilidade de ser’ da criança na transição entre culturas diferentes.

 
Disciplina
Método e Técnica de Pesquisa
Qualitativo
Referência Espacial
Brasil
Habilitado
País estrangeiro
Japão
Referência Temporal
N/I
Localização Eletrônica
https://revistatravessia.com.br/travessia/article/view/481

"Um sonho não tem preço": uma etnografia do mercado de casamentos no Brasil

Tipo de material
Tese Doutorado
Autor Principal
Pinho, Erika Bezerra de Meneses
Sexo
Mulher
Orientador
Oliven, Ruben George
Ano de Publicação
2017
Local da Publicação
Porto Alegre
Programa
Antropologia
Instituição
UFRGS
Idioma
Português
Palavras chave
Mercado de casamentos no Brasil
Antropologia Econômica
Etnografia de Mercados
Conjugalidades
Resumo

Desde a década de 1970, o número de casamentos no Brasil vem diminuindo significativamente. Novos arranjos familiares e formas de viver a conjugalidade ganharam espaço. A importância de ritualizações foi colocada em xeque por muitos casais que rejeitavam a ideia de formalizar suas uniões. O início do século XXI, no entanto, marca um renovado interesse dos casais em marcar a transição para o casamento com eventos cada vez mais elaborados, em uma tendência que já foi chamada de a "revanche do ritual" (Segalen, 2003). Em 2016, o investimento dos casais brasileiros em festas de casamentos rendeu cerca de 16 bilhões de reais (o equivalente a aproximadamente 5 bilhões de dólares) em ganhos para o setor de eventos, segundo o instituto de pesquisas data popular. Acompanhando o crescimento desse mercado desde 2011, o instituto vem registrando uma tendência de crescimento, mesmo em meio à crise econômica pela qual passa o país. O quadro é de um crescente interesse por complexos eventos de casamento, performados por homens e mulheres pertencentes a camadas medias urbanas. A partir de dados demográficos do instituto brasileiro de geografia e estatística (IBGE), sabe-se que, nas últimas décadas, as pessoas casam-se menos. Por outro lado, a etnografia aqui apresentada permite afirmar que, quando decidem casar-se, sujeitos de camadas medias da população brasileira optam por marcar essa passagem com eventos cuja preparação exige um grande investimento de tempo e recursos financeiros. Nesta tese, apresento análises sobre este fenômeno, com base na etnografia que realizei entre os anos de 2013 e 2016, junto a sujeitos que protagonizam a organização de tais eventos. Trata-se de mulheres pertencentes a camadas médias urbanas, com formação superior e financeiramente independentes. Em vários dos casos observados, tais mulheres assumem a totalidade ou a maior parte dos gastos com o evento. A etnografia aqui apresentada se desdobrou em entrevistas em profundidade realizadas com noivas, acompanhamento de organizadoras de casamentos, observação participante em feiras do setor nas cidades de Fortaleza, Porto Alegre e São Paulo, participação em grupos virtuais de noivas e entrevistas com agentes deste mercado. Como resultado, destaco a compreensão de que os ritos contemporâneos aqui descritos nada tem de tradicionais no modo como são performatizados, mas representam novas formas de demarcar uma passagem cujos significados estão em transformação. Com os grandes eventos, os sujeitos procuram produzir lastro simbólico para suas uniões, em um momento no qual as relações são percebidas como cada vez mais voláteis. Além disso, esta tese apresenta reflexões sobre a invisibilidade dos ofícios que envolvem o cuidado, aqui representados na figura das cerimonialistas. Essas e outras questões são discutidas ao longo dos capítulos que compõem esta pesquisa sobre os ritos contemporâneos de casamento no brasil e o mercado a eles dedicados.

Disciplina
Método e Técnica de Pesquisa
Qualitativo
Referência Espacial
Cidade/Município
Fortaleza
Macrorregião
Nordeste
Brasil
Habilitado
UF
Ceará
Cidade/Município
Porto Alegre
Macrorregião
Sul
Brasil
Habilitado
UF
Rio Grande do Sul
Cidade/Município
São Paulo
Macrorregião
Sudeste
Brasil
Habilitado
UF
São Paulo
Referência Temporal
2013-2016
Localização Eletrônica
https://lume.ufrgs.br/handle/10183/157909

“Sonhos de sucesso”: notas etnográficas sobre programas de trainees

Tipo de material
Dissertação Mestrado
Autor Principal
Berbel, Gustavo Dos Santos
Sexo
Homem
Orientador
Dawsey, John Cowart
Código de Publicação (DOI)
https://doi.org/10.11606/D.8.2018.tde-28032018-132122
Ano de Publicação
2017
Local da Publicação
São Paulo
Programa
Antropologia
Instituição
USP
Idioma
Português
Palavras chave
Performance
Corpo
Trainees
Processos Seletivos
Antropologia
Resumo

O presente trabalho pretende demonstrar, por meio de notas etnográficas, o caráter lúdico e dramatúrgico dos processos seletivos para trainees, suas contradições e clichês, bem como a necessidade implícita da montagem de performances por parte dos concorrentes para esses momentos decisivos e extremamente concorridos. A pesquisa se pautou na experiência que o pesquisador vivenciou ao longo de cinco meses de trabalho de campo, período em que trabalhou em uma consultoria de gestão de pessoas, ocupando uma posição liminar, sendo ao mesmo tempo um antropólogo e um headhunter. Além disso, foram realizadas análises documentais, entrevistas e visitas a feiras de carreira e profissões. Outra parte importante do estudo é a experiência subjetiva dos candidatos entrevistados, que são pensados enquanto atores que devem escolher o que entra e o que fica de fora de suas performances e que necessitam dispor de uma série de características desejadas pelo universo corporativo. Os "sonhos de sucesso" que povoam o imaginário dos participantes, alimentados pela publicidade das empresas, são contrastados com o profundo silêncio das experiências de fracasso que muitos vivenciam, seja por não se adequarem ao perfil esperado, seja pela insuficiência de suas formações acadêmica e profissional, ou até mesmo pelo "show de horrores" que compõe esses momentos arbitrários e subjetivos das seleções de emprego.

Disciplina
Método e Técnica de Pesquisa
Qualitativo
Referência Espacial
Cidade/Município
São Paulo
Macrorregião
Sudeste
Brasil
Habilitado
UF
São Paulo
Referência Temporal
2017
Localização Eletrônica
https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8134/tde-28032018-132122/pt-br.php

Sexualidade e prevenção do HIV/AIDS entre jovens gays na comunidade de Heliópolis, São Paulo

Tipo de material
Dissertação Mestrado
Autor Principal
Mazzariello, Carolina Cordeiro
Sexo
Mulher
Orientador
Simoes, Julio Assis
Código de Publicação (DOI)
https://doi.org/10.11606/D.8.2018.tde-12122018-171954
Ano de Publicação
2017
Local da Publicação
São Paulo
Programa
Antropologia
Instituição
USP
Idioma
Português
Palavras chave
Jovens
Sexualidade
Homossexualidade
Prevenção
HIV/AIDS
Resumo

A partir de uma pesquisa etnográfica realizada na comunidade de Heliópolis, bairro popular na cidade de São Paulo, este trabalho objetivou analisar as experiências socioculturais e os valores que norteiam o exercício da sexualidade e das práticas afetivas entre um grupo de jovens gays (na faixa entre 18 e 28 anos de idade). Mais especificamente, buscou compreender como tais valores socioculturais influenciam o modo como se dão as escolhas e o cuidado com a saúde referente às práticas preventivas ao HIV/AIDS. O texto aborda as dificuldades enfrentadas por estes jovens em relação ao exercício da sexualidade relacionado ao processo de coming out no ambiente familiar. Processo que implica a reorganização dos vínculos e é marcado por sentimentos de vergonha, culpa e medo, elementos que dificultam a autonomia e a gestão dos corpos associados à sexualidade e afetividade. Aborda ainda, como a escola é ao mesmo tempo um espaço de trocas, aprendizado, de descoberta e encontro com os pares, mas também um ambiente muitas vezes hostil e marcado pela violência homofóbica. Entretanto, mesmo diante das disparidades de abordagens e conteúdos, muitas vezes insuficientes, a escola revelouse como o local privilegiado para o aprendizado sobre sexualidade e doenças sexualmente transmissíveis. Por fim, trata das decisões relativas à prevenção ao HIV/AIDS. Vale pontuar que persiste a ideia do sexo como força instintiva e o desejo como algo incontrolável. E que ainda que eles demonstrem medo em relação à aids, o sexo sem preservativo é recorrente, principalmente com parceiros em que a confiança se revela, noção baseada principalmente no tempo em que se conhece o parceiro. Geralmente as decisões por usar ou não preservativo são tomadas em silêncio, o que indica dificuldade por parte deles em abordar a questão. Apesar dos recursos limitados e um sentimento geral de desamparo e insegurança, esses jovens têm encontrado, no entanto, uma maneira de garantir seu direito ao exercício da sexualidade.

Disciplina
Método e Técnica de Pesquisa
Qualitativo
Referência Espacial
Cidade/Município
São Paulo
Bairro/Distrito
Heliópolis
Macrorregião
Sudeste
Brasil
Habilitado
UF
São Paulo
Referência Temporal
N/I
Localização Eletrônica
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8134/tde-12122018-171954/pt-br.php

Notas iniciais de uma pesquisa participante com estudantes migrantes em situação de vulnerabilidade social

Tipo de Material
Artigo de Periódico
Autor Principal
Faustino, Carlos Roberto
Sexo
Homem
Título do periódico
Travessia - Revista do migrante
Volume
1
Ano de Publicação
2024
Local da Publicação
São Paulo
Idioma
Português
Palavras chave
Educação
Direito
Migração
Resumo

O objetivo deste trabalho é partilhar algumas notas iniciais de uma pesquisa em desenvolvimento no Programa de Pós-graduação em Educação e Saúde na Infância e na Adolescência, na Universidade Federal de São Paulo, nível Doutorado, a qual tem como fenômeno a ser investigado a avaliação da efetividade do direito à educação garantido ao estudante migrante venezuelano residente no município de Varginha, Sul de Minas Gerais, sob sua ótica e subjetividade e de seus representantes legais. A proposta metodológica dessa pesquisa qualitativa é a utilização dos princípios e fundamentos da Metodologia Arqueológica Participativa (MAP), que corresponde a uma perspectiva em que os participantes são construtores do conhecimento, por meio de um procedimento horizontalizado que considera de forma efetiva as questões éticas da pesquisa. Além disso, essa proposta metodológica visa, por meio da construção participativa do conhecimento, transformar a vida dos participantes em relação ao fenômeno investigado e aos fatos sociais a eles relacionados. Para tanto, a partir da livre e inequívoca manifestação de interesse em participar deste estudo, o procedimento técnico para a produção dos dados coadunará com os princípios basilares da MAP; neste sentido, utilizar-se-á a conversação para que os participantes, após terem acesso aos documentos que fundamentam as políticas públicas atreladas à temática, possam expressar sobre e avaliar a prática cotidiana enquanto usufrutuários de um serviço público.

Disciplina
Referência Espacial
Cidade/Município
Varginha
Macrorregião
Sudeste
Brasil
Habilitado
UF
Minas Gerais
Referência Temporal
N/I
Localização Eletrônica
https://revistatravessia.com.br/travessia/article/view/1370

Notas de uma pesquisa participante com migrantes-adolescentes em conflito com a lei

Tipo de Material
Artigo de Periódico
Autor Principal
Almeida, Cristiano Rodineli
Sexo
Homem
Título do periódico
Travessia - Revista do migrante
Volume
1
Ano de Publicação
2024
Idioma
Português
Palavras chave
Adolescência
Migração
Socioeducação
Psicologia
Resumo

Este trabalho tem como objetivo compartilhar algumas notas de uma pesquisa de doutorado, em desenvolvimento, no Programa de Pós-graduação em Educação e Saúde na Infância e na Adolescência, na Universidade Federal de São Paulo, com migrantes-adolescentes em conflito com a lei e cumprindo Medidas Socioeducativas de privação de liberdade no estado de São Paulo. Para tanto, procedemos a uma pesquisa assentada na Metodologia Arqueológica Participativa (MAP), sendo uma plataforma qualitativa que poderá nos auxiliar na explicação dos fenômenos migratórios e a privação de liberdade. Assim, realizar-se-á encontros presenciais e individuais com esses adolescentes nos Centros de Atendimento nos quais estão internados. Do ponto de vista teórico-analítico a pesquisa em tela ancora-se nos pressupostos da Filosofia da Migração, Anticolonialidade e da Psicanálise. Quanto à relevância, ela, efetivamente, somente poderá ser dita pelos próprios participantes. São eles, os sujeitos da pesquisa, que nos dirão qual será sua importância social. O que podemos dizer no momento é que sua atual relevância é mostrar para o Sistema Socioeducativo, a comunidade acadêmica e sociedade que esses adolescentes, migrantes e socioeducandos, existem, a despeito de toda a invisibilidade acerca de suas presenças nas páginas oficiais da instituição e governo, e na produção intelectual do país.

Referência Espacial
Brasil
Habilitado
UF
São Paulo
Referência Temporal
N/I
Localização Eletrônica
https://revistatravessia.com.br/travessia/article/view/1369

O deslocamento forçado e a pessoa com deficiência: acessibilidade e inclusão na perspectiva dos responsáveis diretos por venezuelanos autistas em refúgio

Tipo de Material
Artigo de Periódico
Autor Principal
Ganzarolli, Amanda
Sexo
Mulher
Título do periódico
Travessia - Revista do migrante
Volume
1
Ano de Publicação
2024
Local da Publicação
São Paulo
Idioma
Português
Palavras chave
Refugiados venezuelanos
autismo
jornalismo humanitário
Resumo

O presente artigo examina os resultados de entrevistas em profundidade realizadas no âmbito da dissertação “Venezuelanos com autismo em situação de refúgio - A abordagem interseccional do tema no jornalismo humanitário e media interventions”, que investigou a realidade de famílias venezuelanas refugiadas no Brasil com filhos autistas. O estudo focou na percepção dessas famílias sobre a cobertura jornalística relacionada à pessoa com deficiência, com ênfase no Transtorno do Espectro Autista (TEA), e na prática do Jornalismo Humanitário e media interventions. A pesquisa foi motivada pelo crescente número de deslocados forçados globalmente, com ênfase na América do Sul, onde o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) estimou 89,3 milhões de deslocados no mundo, dos quais 12 milhões são pessoas com deficiência. A metodologia envolveu entrevistas com responsáveis por crianças autistas entre 18 meses e 17 anos, nascidos no Brasil ou na Venezuela, recrutados por meio de redes sociais. O estudo utilizou entrevistas em profundidade para abordar a experiência do deslocamento forçado e os desafios da acessibilidade e inclusão para essas famílias.

Referência Espacial
Brasil
Habilitado
Referência Temporal
N/I
Localização Eletrônica
https://revistatravessia.com.br/travessia/article/view/1368

Infância migrante em Roraima: o aumento de crianças nos processos migratórios internacionais na fronteira Brasil – Venezuela

Tipo de Material
Artigo de Periódico
Autor Principal
Silva, Sarah Letícia Leonel da
Sexo
Mulher
Autor(es) Secundário(s)
Sousa, Ana Lúcia de
Oliveira, Márcia Maria de
Carvalho, Caê Garcia
Sexo:
Mulher
Sexo:
Mulher
Título do periódico
Travessia - Revista do migrante
Volume
1
Ano de Publicação
2024
Local da Publicação
São Paulo
Idioma
Português
Palavras chave
Infância migrante
Roraima
Migração venezuelana
Resumo

O presente artigo tem por proposta temática analisar o crescimento da presença de crianças nos processos migratórios internacionais à Roraima nos últimos anos, destacando a migração venezuelana em virtude da posição territorial do Estado, fronteira direta com o país indicado. A pesquisa buscou debater os aspectos e características da infância migrante no Estado; evidenciar o aumento do número de crianças nos processos migratórios internacionais em Roraima; elucidar as possíveis causas desse crescimento e os impactos das migrações na vida de crianças, e apontar o trato das instituições competentes com esse grupo vulnerável. O estudo adotou a metodologia descritiva, de caráter qualitativo, e levantou dados através de revisão bibliográfica de artigos científicos, relatórios de organizações e instituições que trabalham a pauta migratória, dados públicos de fontes governamentais e não-governamentais, além de matérias de veículos midiáticos acerca do tema, para aprofundar essa pauta nos estudos migratórios em diálogo interdisciplinar. Os resultados preliminares apontam o aumento deste público, potencializado pelo crescimento da feminização das migrações, fenômeno que evidencia o maior número de mulheres nas movimentações nas fronteiras ao redor do mundo.

Disciplina
Método e Técnica de Pesquisa
Métodos mistos
Referência Espacial
Macrorregião
Norte
Brasil
Habilitado
UF
Roraima
Referência Temporal
2021-2024
Localização Eletrônica
https://revistatravessia.com.br/travessia/article/view/1367

Experimentações baldias & paixões de retomada: vida e luta na cidade - acampamento

Tipo de material
Tese Doutorado
Autor Principal
Moraes De Souza, Alana
Sexo
Mulher
Orientador
Leite Lopes, Jose Sergio
Ano de Publicação
2020
Programa
Antropologia
Instituição
UFRJ
Idioma
Português
Palavras chave
Lutas sociais
antropologia política
gênero
corporalidades
Resumo

Fruto de uma etnografia entre acampamentos sem-teto nas periferias metropolitanas de São Paulo, esta tese percorre algumas questões que hoje atravessam os sentidos das lutas sociais, novas conflitualidades e formas de vida que se abrem como experimentação nos acampamentos de terrenos baldios e seu emaranhado de corpos, relações, curas e histórias. Instituído em grandes terrenos não edificados de mata tanto persistente quanto exuberante, o regime baldio instaurado pelas ocupações sem-teto surge como zona de interstício entre o ritmo desenfreado das novas formas de metropolização financeirizada e vigiada da "cidade global" e as ruínas de uma antiga metropolização fabril, nos oferecendo sugestivas proposições de uma política por vir. Ao intuir, uma vez mais, a luta política que se faz com os pés na terra, os acampamentos interrogam a "cidade do progresso" (e seu colapso) pelo seu avesso, em um arranjo deliberadamente precário, impermanente e aberto ao mundo vivo, nos apresenta pistas para pensar a transição da cidade-fábrica para a cidade-acampamento. Trata-se de uma ação coletiva que começa pela denúncia do regime proprietário e rentista produtor de desigualdades, mas que de forma imprevista acaba por investigar uma uma inédita aliança entre o baldio e a classe endividada, a classe "nômade do trabalho", como denomina Mbembe (2018), uma aliança entre o combate a cozinha coletiva, a festa e a guerra. O regime baldio, tecido por suas tramas relacionais, além de fazer emergir a própria coletividade que o sustenta - os sem-teto - também torna possível o tempo livre e outras proposições sobre viver junto. Por não se constituírem, na maior parte das vezes, como espaços de moradia, os acampamentos organizados pelo MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) possibilitam uma emergente espacialidade que não é a da casa, nem é a do trabalho, mas uma experiência de travessia na qual no qual se vive a vida através da vida dos outros, como na definição ampla de parentesco feita por Sahlins (2013). Diferente de toda a gramática que constitui a "política habitacional" e suas tecnologias generificadas, proprietárias e bio-produtivas, nos acampamentos é possível experimentar a confusão de fronteiras entre cozinhas coletivas, festas, zonas de cumplicidade e prazer que abre hipóteses intensamente relacionais para as transações entre corpos e papéis. Na pesquisa, tratamos de pensar com os sem-teto sobre a retomada de um tempo da cura nas bifurcações em relação às inscrições dos trampos, virações, ao desemprego ativo e à socialidade doméstica, bifurcações capazes de produzir experimentações de "voltar à vida"; de sentir a "luta entrar no sangue" e "virar outra", como muito escutei nos acampamentos. Trata-se também de pensar em como a forma-acampamento interroga os modos de subjetivação neoliberal constituídos pela concorrência, desempenho, sacrifício encarnando assim uma guerra contra todos aqueles que, de certa forma, ameaçam o pacto da cidadania sacrificial - os vagabundos e vagabundas. Por fim, a tese apresenta algumas reflexões sobre como a política e o conhecimento sem-teto produzidos nos acampamentos interpelam alguns dos consensos progressistas e suas formas democráticas, também percorre algumas proposições sobre tecnologias de gênero e políticas de cuidado em uma conversa entre mulheres sem-teto e uma ciência feminista.

Disciplina
Referência Espacial
Macrorregião
Sudeste
Brasil
Habilitado
UF
São Paulo
Referência Temporal
N/I
Localização Eletrônica
https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/trabalhoConclusao/viewTrabalhoConclusao.jsf?popup=true&id_trabalho=9753643

Conexões da interculturalidade: cidades, educação, política e festas entre Sateré-Mawé do Baixo Amazonas.

Tipo de material
Tese Doutorado
Autor Principal
Fiori, Ana Leticia de
Sexo
Mulher
Orientador
Magnani, Jose Guilherme Cantor
Ano de Publicação
2018
Local da Publicação
São Paulo
Programa
Antropologia
Instituição
USP
Idioma
Português
Palavras chave
Educação indígena
Ensino Superior indígena
Etnologia urbana
Interculturalidade
Política indígena
Resumo

Esta tese, desenvolvida no âmbito do Grupo de Etnologia Urbana do Núcleo de Antropologia Urbana da USP discute os enredamentos entre educação, cidade e política a partir das experiências sateré-mawé com Ensino Superior. O trabalho é desenvolvido a partir de pesquisa bibliográfica, documental, entrevistas e, principalmente, da etnografia desenvolvida individualmente e junto a outros pesquisadores do GEU, cuja coparticipação deu-se em campo e na produção de cadernos de campo coletivos. Esta etnografia centra-se na cidade de Parintins-AM (médio-baixo Amazonas), na turma de Parintins do curso de Pedagogia Intercultural (2009 e 2014) oferecido pela Universidade do Estado do Amazonas UEA, e nas circulações dos acadêmicos indígenas Sateré-Mawé e suas práticas por entre as cidades e as aldeias da Terra Indígena Andirá-Marau, sobretudo a aldeia Ponta Alegre. Ao longo dos cinco capítulos, a etnografia desenvolvida entre os Sateré-Mawé é apresentada face a discussões sobre modelos analíticos da antropologia acerca de objetos como cidade, cultura e interculturalidade, redes de saberes, ensino superior indígena, estado, política dos e para indígenas e festas. Exploro as conexões parciais engendradas pela presença de acadêmicos sateré-mawé na universidade e sua circulação por instituições (escolas, secretarias, etc.), práticas (ensino, política, lazer), eventos (feiras escolares, eventos acadêmicos, rituais, futebol) e modos de conhecimento e enunciação. Apresento reflexões que emergiram na interlocução com os Sateré-Mawé acerca das relações engendradas pelo dispositivo da interculturalidade, como suas interpretações do Festival Folclórico do Boi Bumbá, principal atividade econômica de Parintins; e da proposta de uma Livre Academia do Wará, a universidade indígena proposta pelo Consórcio de Produtores Sateré-Mawé. Discuto como enquadram seus intuitos de ter uma "educação dos brancos" em suas cosmopolíticas face ao mito do Imperador, o sistema de conhecimento do guaraná e a Festa da Tucandeira. O Imperador é um demiurgo relacionado a eventos históricos e à habilidade sateré-mawé de pacificar e canalizar potências dos brancos, agora situadas nos currículos e diplomas universitários. Os Sateré-Mawé são "filhos do Guaraná", uma planta professora que transforma o ethos guerreiro no uso diplomático de "boas palavras", necessárias à formação do bom professor. Os cantos da Tucandeira, festa mais conhecida dos Sateré-Mawé, trazem as Sehay Pooti (boas palavras) ensinando os jovens que dançam suportando a dor da luva de formigas. Mais do que diacríticos de uma identidade indígena, estes mitos e ritos formam um complexo sistema de saberes que delineiam as compreensões Sateré-Mawé sobre suas agências na contemporaneidade.

Método e Técnica de Pesquisa
Qualitativo
Referência Espacial
Região
Médio-baixo Amazonas
Cidade/Município
Parintins
Macrorregião
Norte
Brasil
Habilitado
UF
Amazonas
Referência Temporal
2009 - 2014
Localização Eletrônica
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8134/tde-13122018-163358/pt-br.php