Engenharia
Proposta de modelo para avaliação de espaços para pedestres quanto à percepção de seguridade
Diferentes variáveis podem encorajar ou não a opção pelas caminhadas como modo de
transporte. Em especial, diversos estudos têm demonstrado a relevância de questões ligadas à
segurança pessoal, sobretudo do ponto de vista subjetivo. Mas, diferentemente de outras
dimensões relativas à caminhabilidade, a seguridade percebida não recebeu, até o momento,
uma abordagem ampla e detalhada para sua avaliação. Na perspectiva do planejamento urbano,
a disponibilidade de uma ferramenta com essas características poderia auxiliar a formulação de
estratégias mais eficientes visando tornar cidades mais seguras. Nesse contexto, esta pesquisa
objetivou construir um modelo para avaliação de espaços para pedestres quanto à percepção de
seguridade, utilizando abordagem multicritério. Para isso, foram executadas três etapas
metodológicas principais relacionadas à (1) construção, à (2) elaboração do sistema de
avaliação técnica e à (3) aplicação do modelo, nomeado Índice de Segurança Pessoal Percebida
(ISPP). Tratando da construção da ferramenta, com base na literatura, foram definidas 17
características de seguridade percebida que influenciam a opção pelo transporte a pé, tomando
como base a dinâmica urbana de cidades brasileiras. Tais características foram divididas em
duas dimensões (Espaço Físico e Ambiente Social). Depois, foram aplicados 405 questionários
para conhecer a opinião dos usuários acerca da relevância das características selecionadas. A
partir das respostas obtidas, por meio de Análise Fatorial Exploratória, foi desenvolvida uma
estrutura hierarquizada para o Índice em indicadores (relativos às características levantadas),
fatores e domínios (Espaço Físico e Ambiente Social), e foram determinados os pesos relativos
desses três componentes, utilizando abordagem do tipo bottom-up. Então, realizou-se a
agregação desses indicadores, fatores e domínios, por meio de uma combinação linear
ponderada. O resultado dessa expressão matemática, variável de 0,0 até 1,0, equivale ao valor
final do modelo e indica a condição de seguridade percebida em um espaço para pedestres,
podendo variar de péssima até ótima, nessa ordem. Quanto à elaboração do sistema de
avaliação, foram definidos critérios e procedimentos técnicos, aplicáveis inclusive a partir de
imagens, para cada indicador. Para oito deles foram elaboradas funções fuzzy para a
normalização de valores dentro do intervalo de 0,0 a 1,0. Para a construção das curvas, foram
utilizadas informações levantadas junto a um painel composto por 36 especialistas que atuam
na área de transportes. Construído o modelo e definido o sistema de avaliação, conduziu-se uma
aplicação da ferramenta. Usando o ISPP, foram avaliadas 24 imagens dos tipos fotografia e
Street View, representativas de variados níveis de seguridade percebida. Também, foram
avaliados outros seis cenários urbanos, retratados em fotografias nos períodos diurno e noturno,
o que permitiu explorar a variação da seguridade percebida nesses espaços em diferentes
situações. No geral, a aplicação do ISPP mostrou-se prática, indicando informações relevantes
sobre os espaços avaliados do ponto de vista da segurança pessoal. Entende-se que o Índice
desenvolvido possa ser utilizado como ferramenta de apoio à tomada de decisão para a
promoção de espaços mais seguros aos pedestres. Para tanto, é relevante que planejadores e
gestores urbanos, e pesquisadores explorem as potencialidades do modelo, verificando
inclusive possibilidades de adaptações, visando melhorá-lo continuamente.
Proposta de Método para Avaliação do Nível de Serviço de Calçadas para Cidades de Pequeno Porte: Estudo de Caso em São Tomé - PR
Seja pelo aspecto social que envolve ou por ser elemento fundamental à realização de
deslocamentos a pé, as calçadas têm papel importante na vida dos citadinos. Entretanto, para
que a infraestrutura de circulação seja plenamente utilizada, o serviço por ela oferecido deve
suprir a demanda local, proporcionando conforto e segurança aos seus usuários. A questão é
particularmente importante em cidades de pequeno porte populacional, para as quais, devido à
ausência de transporte público e às pequenas distâncias, as viagens a pé constituem a base da
mobilidade urbana. Neste prisma, esta pesquisa teve por objetivo propor método de avaliação
do Nível de Serviço de calçadas para cidades de pequeno porte. O modelo elaborado e aplicado
em São Tomé, Paraná, foi baseado em Ferreira e Sanches (2001) e em Ferreira e Sanches
(2005), sendo denominado Índice de Serviço das Calçadas (ISC), composto por outros dois
Índices que envolvem aspectos de Qualidade do espaço e de Acessibilidade (ISCqe e ISCa). O
método envolveu três etapas: análise técnica das calçadas, verificação da percepção do usuário
e atribuição dos Níveis de Serviço, variando de A até F (pior situação), conforme resultados
dos Índices. Para a variável de Arborização da calçada fez-se necessário o censo arbóreo, o qual
indicou 4.081 espécimes, sendo Licania tomentosa (Benth.) Fritsch (Chrysobalanaceae)
(n=1.722) e Poincianella pluviosa var. peltophoroides (DC.) L.P. Queiroz (Fabaceae) (n=604)
as espécies mais recorrentes. No total, 50 espécies vegetais (f=25,26%) apresentaram
características inadequadas à sua utilização. Após análise técnica de 570 quadras, o que
corresponde a 47.255,8 m de calçadas, e realização de pesquisa de opinião com 355 munícipes
foram calculados o ISCqe, o ISCa e, finalmente, o ISC. Houve maior ocorrência da condição
péssima (NS F), principalmente nas áreas mais periféricas. Os Níveis de Serviço mais
adequados (NS A até D) foram condicionados a 35,09% das quadras, correspondendo a
16.050,3 m de caminhos de pedestres, sendo que a Avenida José Madureira foi a via com
melhores médias de Índices da cidade. O modelo proposto apresentou aplicabilidade adequada
às cidades de pequeno porte, havendo possibilidade de ser adaptado para utilização em cidades
de maior porte.
“Metrópoles de papel” na Amazônia: Horizontes lefebvrianos na produção do espaço em Macapá-Santana, Brasil
“Metrópoles de papel” são centros urbanos de regiões metropolitanas institucionalizadas que não apresentam funcionalidades de uma metrópole, tais como influências político-econômicas e sociais, além do tráfego de informações, capital e pessoas. Assim, este estudo buscou compreender a concepção, a percepção e a vivência de uma "metrópole de papel" localizada na Amazônia brasileira com base no entendimento da produção do espaço urbano de Henri Lefebvre. Utilizando uma abordagem historiográfica, análises de recursos bibliográficos e documentais possibilitaram apreender que o espaço concebido é fruto essencialmente de ações conjuntas entre agentes políticos e econômicos que priorizaram a institucionalização do espaço em vez de sua produção, repercutindo na ausência de percepção e vivência por parte da população com relação ao espaço metropolitano. Por conseguinte, dinâmicas intraurbanas peculiares tornam a produção dos espaços metropolitanos um produto que não necessariamente se encaixa na teoria lefebvriana, criando novos horizontes para a apreensão da produção socioespacial do que se constituem as metrópoles de papel.
Os reflexos do Programa Nacional de Cidades Médias e das políticas públicas de moradia na configuração intraurbana da Zona Norte de São José do Rio Preto/SP
A cidade de São José do Rio Preto/SP, atual sede de sua região metropolitana, vivenciou nos últimos anos importante desenvolvimento urbano. Entretanto, ainda exibe um cenário de segregação socioespacial entre as suas porções Norte e Sul, reforçada ao longo de toda a sua trajetória histórica. Este artigo, busca analisar os impactos da reestruturação da gestão municipal do solo urbano no município, das políticas habitacionais nele implementadas e da experiência do Programa Nacional de Cidades Médias na consolidação de um padrão segregador de ordenamento da cidade. Como metodologia, adota-se uma periodização de análise concentrada entre as décadas de 1950 e 1990, quando nasce a Zona Norte, inserida num modelo econômico fordista periférico. Apoiado em fontes primárias e secundárias de dados municipais, bem como em uma literatura dedicada ao estudo de cidades médias, da urbanização brasileira e da produção socioespacial intraurbana, o trabalho identifica estratégias adotadas pelo Estado e pelo capital para atuar, de modo estruturante, na configuração urbana do município, a qual, ao invés de promover o acesso à cidade, afastou a população mais pobre da plena inserção.
Aglomeração produtiva e diversificação: um enfoque sobre os serviços de tecnologia da informação
O objetivo deste artigo é investigar como as externalidades produzidas nas regiões diversificadas geram benefícios para os agentes aglomerados, através de uma análise dos serviços de Tecnologia da Informação na Região Metropolitana de São Paulo. A partir do pressuposto de que tais espaços devem ser entendidos de forma distinta dos ambientes especializados, foi realizado um mapeamento das atividades de TI no Brasil e, em seguida, um levantamento de dados, através de entrevistas, com as empresas. Os resultados mostram o papel das externalidades de diversificação e do contato face a face como dinamizadores de processos de aprendizado interativo, que envolvem troca de conhecimento tácito. Assim, o artigo apresenta como contribuição novas evidências empíricas sobre o papel das externalidades positivas em regiões diversificadas.
“Avenida Brasil – Tudo Passa Quem Não Viu?”: formação e ocupação do subúrbio rodoviário no Rio de Janeiro (1930-1960)
O tema do presente artigo é a Avenida Brasil, no Rio de Janeiro. Se a Avenida Brasil é o grande tema, os desdobramentos da construção da Avenida para a cidade do Rio de Janeiro na primeira metade do século XX é o objeto. Parto do pressuposto de que a partir da construção da avenida um novo eixo estruturante da cidade se expandiu pela orla da baía da Guanabara, produzindo uma nova configuração espacial para a localidade – antes inabitada – com fábricas, moradia operária e favelização crescente. Discuto ainda a hipótese de que com a Avenida há o desenvolvimento de um “subúrbio do automóvel” ou “subúrbio rodoviário”, em contraste com o subúrbio que margeia a linha do trem ou do bonde, já estabelecidos desde a virada do século XIX para o XX.
O custo do solo urbano ocioso e uma nova sistemática de tributação da propriedade
Um grande problema das cidades brasileiras é o espalhamento urbano causado por terrenos vazios mantidos com fins especulativos. Uma forma de atenuar este problema é sobretaxar os terrenos ociosos. O trabalho apresenta modelos para avaliação dos custos de transportes e de infraestrutura em cidades médias. Os modelos são simples e utilizam técnicas já consagradas em países desenvolvidos, devidamente adaptadas às condições de um país em que há carência de dados, como é o caso do Brasil. No caso dos transportes, o processo se inicia com a fase de geração de viagens, em que se considera basicamente o tipo de atividade existente em cada zona como elemento de produção de viagens, bem como a existência de polos especiais de atração de viagens. A fase de distribuição de viagens faz uso do modelo gravitacional. No cálculo dos custos de infraestrutura, o modelo baseia-se em dados de pesquisas desenvolvidas especialmente para as cidades médias brasileiras. Também é proposta no trabalho uma nova estratégia de tributação da propriedade urbana, baseada nos custos do transporte coletivo e da infraestrutura para a comunidade. São apresentados exemplos de aplicação dos modelos bem como da nova estratégia de tributação da propriedade urbana proposta para a cidade de São Carlos-SP.
Uma reflexão sobre o padrão mínimo de moradia digna no meio urbano brasileiro: estudo dos métodos de cálculo da Fundação João Pinheiro e da Fundação Seade
Captar as várias formas impróprias de morar é fundamental para permitir a definição de prioridades pelos órgãos públicos competentes, visto que a construção de novas habitações demanda altos investimentos. Para tanto, o presente artigo busca incentivar um rigoroso debate metodológico sobre o conceito de moradia adequada, já que esse não é um consenso nem entre os especialistas nem entre os moradores. Procura-se aqui discutir o padrão mínimo de moradia digna no meio urbano brasileiro a partir da análise comparativa de dois métodos de cálculo das carências habitacionais no Brasil: o da Fundação João Pinheiro (2004) e o da Fundação Seade (2001). Como resultado foi possível confirmar que os dois métodos identificam carências habitacionais semelhantes, porém utilizando indicadores diferentes, no que diz respeito ao conceito de habitação mínima.
Estudo das Possibilidades de Reciclagem dos Resíduos de Tratamento de Esgoto da Região Metropolitana de São Paulo
O objetivo deste trabalho foi investigar as opções para gestão dos resíduos de tratamento de esgoto que fossem técnica, ambiental, social e economicamente viáveis. O processo de tratamento de esgoto gera resíduos sólidos não-inertes, sendo que entre eles o lodo é o mais importante em virtude da quantidade gerada. Na Região Metropolitana de São Paulo, todas as Estações de Tratamento de Esgotos possuem unidades de desidratação e dispõem seus resíduos em aterros sanitários. Essa disposição, entretanto, apresenta dois problemas: altos custos e escassez de áreas, seja pelo fim da vida útil desses aterros, seja pela excessiva distância dessas áreas até as estações de tratamento. Hoje, o tratamento de esgoto na Região Metropolitana de São Paulo gera cerca de 120 mil t/ano de lodo, com uma previsão de 750 mil t/ano em 2015, considerando um teor de sólidos de 40 por cento. Para a implantação de um processo de reciclagem é necessária uma metodologia que minimize os riscos de investimentos e selecione as alternativas realmente interessantes e exeqüíveis. A metodologia adotada neste trabalho possui etapas de levantamento de informações sobre o processo de geração e caracterização do resíduo e seleção de alternativas de reciclagem. Para definir as melhores alternativas a serem pesquisadas, foram realizadas entrevistas com profissionais de notório saber em setores ambiental, sanitário, industriais diversos, etc. As informações obtidas foram submetidas a uma análise hierárquica baseada em fatores técnicos, ambientais, ocupacionais, econômicos e mercadológicos. Estes fatores foram analisados através de um sistema matricial de decisão, atribuindo-se a cada um deles respectivos graus de importância. Como resultado obteve-se a seguinte lista de possíveis alternativas de reciclagem em ordem decrescente de interesse: agregado leve, produtos de cerâmica vermelha e cimento Portland. Assim esta lista estabelece indicações de viabilidade para pesquisa e desenvolvimento de novos produtos que incorporem o lodo de esgoto.