Memórias de trabalhadores rurais na cidade
Entre os anos de 1960 e 1980 o cotidiano em Salvador modificava-se por força da presença de lavradores expulsos do campo baiano e por conta de diversas facetas do processo de industrialização pelo qual passava. Simultaneamente, a região dos municípios de Conceição do Almeida e Santo Antonio de Jesus, no Recôncavo Baiano, experimentava uma profunda transformação em seus modos de vida e de luta no campo. A concentração de terras, a extinção das roças de café e de fumo, o fechamento de engenhos de açúcar e a ampliação da criação de gado, processos históricos articulados entre si, empurravam os trabalhadores rurais para cidades próximas, outras regiões e estados brasileiros. Nessas circunstâncias, obviamente, a migração foi a alternativa para uma expressiva parcela dos agricultores da região, especialmente para as novas gerações que se viram sem perspectiva de encontrar terras para o trabalho.
A cidade de Salvador foi um dos principais destinos dessa onda migratória. Esta opção pela capital deve-se à ampliação de oferta de empregos, em toda sua Região Metropolitana, e à proximidade entre as duas regiões. Assim, os trabalhadores dos municípios considerados participaram, por variados caminhos, no processo cultural, no fervilhar da vida tanto rural quanto urbana da Bahia. Neste texto, nossos olhares voltam-se a alguns impasses que surgem quando buscamos interpretar, nas dinâmicas do dia-a-dia na capital baiana, a participação de trabalhadores oriundos daquela determinada região rural do Estado.