O trabalho se concentra nas representações do Rio de Janeiro no cinema do Brasil da
década de 90 em diante e dos EUA desde a década de 30, especificamente naqueles filmes em
que uma personagem norte-americana viaja para o Rio de Janeiro e nesse lugar tem
experiências de identificação e alteridade. Têm-se, como pano de fundo, as discussões sobre
uma suposta "falta de brasilidade" dos filmes nacionais contemporâneos que imitariam a
linguagem e as representações do cinema norte-americano para se legitimar nos mercados
internacionais...Os filmes, ao mesmo tempo em que deixam claro que há, de certa forma,
padrões espaciais que implícita ou explicitamente representam o que é o meio urbano, num
sentido "universal", ao escolherem determinada cidade para palco de seus enredos recriam
espaços e tempos que singularizam esta cidade diante das outras. O espaço geográfico,
presente em todos os filmes, tem o potencial de estruturar a representação e, por extensão, a
experiência de personagens, vivida indiretamente pela audiência, mesmo em situações
estereotipadas...No caso do Rio de Janeiro, a análise conjunta dos filmes brasileiros e
norte-americanos visa a perceber que tanto as representações cinematográficas "nativas"
quanto as "estrangeiras" estão ligadas a discursos polarizados em que cosmopolitismo,
exotismo, natureza e sexualidade se contrapõem a caos, estranhamento, violência e pobreza.
A dualidade das representações da capital carioca se revela geralmente na oposição de
imagens de paisagens e lugares belos e conhecidos internacionalmente que passam a
identificar e legitimar a cidade - Pão de Açúcar e Corcovado, por exemplo - a espaços de
confinamento, onde supostamente impera o caos, como o Centro decadente e as favelas.
Parto do princípio, também, que as representações circulam ao longo do tempo, sendo
algumas delas acionadas em determinados períodos históricos, recebendo reforços ou novas
nuances que lhes são dadas pelo contexto em que se apresentam. Os recentes filmes nacionais
parecem estar, assim, se utilizando da vasta gama de representações do Rio historicamente
(re)produzida, intencionando ir ao encontro daquilo que já se sabe ou já se viu sobre a
cidade...Estes filmes fazem perceber que o cinema é parte do que se convencionou chamar de
cultura de viagem, pois tais como os guias turísticos, cartas-panoramas, cartões-postais,
souvenires, narrativas de viagens e outros elementos ligados ao deslocamento para um lugar
estranho, singularizam e tornam conhecidas terras longínquas e fazem com que o distante se
torne próximo. Todos estes elementos da cultura de viagem são, por isso, legítimos objetos
para a pesquisa geográfica.