Este trabalho analisa textos e obras inseridos nos quatro catálogos da XXIV bienal de São Paulo, realizada em 1998. Tomando como mote o manifesto antropófago, de Oswald de Andrade (1928), os curadores selecionaram obras de diferentes países, organizando-as sob as mais diversas perspectivas suscitadas por múltiplos olhares em torno da antropofagia e do canibalismo. Se, de imediato, a atualização do texto do idealizador da semana de arte moderna remete a questionamentos em torno da afirmação de uma identidade nacional no campo das artes, a curadoria complexifica essas relações. Assim, a exposição problematiza, desde os processos que envolvem a dominação econômica, como no caso dos artistas africanos, que denunciam todo o violento processo de exploração sofrido pelos países daquele continente, até formas de diálogo entre as produções artísticas de distintas origens e momentos históricos, utilizando-se para isso das mais diferentes definições: contágios, contaminações, inserções, pontuações, presenças. As reflexões suscitadas pela mostra remetem ainda às relações amorosas e às dinâmicas interculturais, à diluição das fronteiras territoriais e ao apagamento dos sujeitos nas grandes cidades, pontuando as complexidades que envolvem as relações entre identidade e alteridade na contemporaneidade. O corpus é composto pelos textos (produzidos por curadores brasileiros e estrangeiros, além de ensaios, poemas e fragmentos de textos de outros autores, selecionados pela curadoria geral) e reproduções das obras, ambos inseridos nos catálogos da mostra. O pressuposto que orienta leitura deste trabalho é o de que a identidade preconizada pelos modernistas brasileiros da primeira metade do século XX ganha novos sentidos quando produções artísticas das últimas décadas a elegem como tema. À medida que discursos em torno da globalização preconizam uma nova ordem mundial, pela reconfiguração do poder e descentralidade dos estados nacionais, as produções e reflexões em torno da arte contemporânea apontam novos sentidos para o nacional, novas conformações identitárias, remetendo o dizer a sua inscrição em diferentes formações discursivas. Como fundamentação teórica, o trabalho emprega a semiótica discursiva. Como teoria de todas as linguagens e sistemas de significação, a semiótica oferece suporte para leitura de textos verbais e não-verbais, proporcionando reflexões, a partir do que compreende como sincretismo, sobre os efeitos de sentido produzidos pelo entrecruzamento de diferentes linguagens. Na medida em que prioriza a análise de discursos sobre a contemporaneidade, privilegiando aspectos relativos à ideologia, o trabalho se vale ainda as contribuições da análise do discurso francesa e de teóricos que se voltam para as temáticas da globalização e da identidade.
Configurações identitárias na arte contemporânea: a Bienal de São Paulo, de 1998
Tipo de material
Tese Doutorado
Autor Principal
Luiza Helena Oliveira da Silva
Sexo
Mulher
Orientador
Lucia Teixeira de Siqueira e Oliveira
Ano de Publicação
2006
Local da Publicação
Rio de Janeiro
Programa
Letras
Instituição
UFF
Idioma
Português
Palavras chave
Semiótica
Bienal de São Paulo
Arte contemporânea
Resumo
Método e Técnica de Pesquisa
Qualitativo
Área Temática
Referência Espacial
Cidade/Município
São Paulo
Macrorregião
Sudeste
Brasil
Habilitado
UF
São Paulo
Referência Temporal
1998