A pesquisa se propõe a realizar uma etnografia no e com Arquivo Miyasaka, ou seja, em seu espaço e a lógica que o orienta e com as imagens e pessoas emaranhadas com o arquivo, entendido como um objeto cultural em si mesmo. O arquivo fotográfico, com aproximadamente 14 mil imagens, localizado na cidade de Ribeirão Preto no interior do estado de São Paulo, compreende a produção do fotógrafo Tony Miyasaka, e dessa prolífica produção somente o conjunto “Jovem Miyasaka”, produzido entre os anos de 1950 e 1960, é analisado ao longo a pesquisa. Partindo do encontro e do estabelecimento das relações com as(os) interlocutoras(es), as fotografias e o arquivo é que se constituiu o campo etnográfico. As fotografias, conforme a pesquisa se desenrolava, começaram a adquirir um papel importante agenciando o estabelecimento das relações entre o pesquisador, os interlocutores e as narrativas evocadas por eles que envolvem o arquivo, as fotografias e a trajetória do fotógrafo ribeirão-pretano. Dessa forma, as fotos se apresentaram como interlocutoras da pesquisa, são objetos-agentes, que estão emaranhados na vida social. Seguindo a linha teórica de autores que se filiam à chamada “virada fenomenológica” no estudo com fotografias, como Elizabeth Edwards, Susan Sontag e Roland Barthes, valorizando a experiência que envolvem as fotos ao invés de análises que refletem, apenas, seus conteúdos semióticos. Assim, as fotografias foram compreendidas a partir de sua significância na vida das pessoas e no atos de fazer da pesquisa através da experiência compartilhada entre pesquisador e interlocutores com as imagens - ver fotos em conjunto -, dessa forma elas foram analisadas e pensadas a partir de seus efeitos e afetos, nos observadores entre eles o pesquisador e na trajetória de pesquisa, que ajudaram a determinar os caminhos percorridos e as relações estabelecidas. Investigar o Arquivo Miyasaka, portanto, permite (re)conhecer a trajetória do fotógrafo e seu arquivo, e assim (re)encontrá-lo como um dos expoentes da produção de imagens, fotográficas e em movimento, da cidade de Ribeirão Preto durante a segunda metade do século XX.
Este trabalho tem como objetivo desenvolver pesquisa etnográfica sobre a musicalidade no Candomblé de Nação Angola, com foco no estudo do universo ritual e a cosmologia de matriz bantu. Esta pesquisa tratará do estudo aprofundado de referências bibliográficas sobre os instrumentos ritualizados e a musicalidade no candomblé, tendo como referência também dados colhidos nas pesquisas de campo nos territórios paulistas. Com base nos seguintes eixos: transmissão oral dos saberes sagrados, confecção e preparação dos instrumentos musicais rituais (organologia dos atabaques) e os padrões rítmicos da musicalidade sagrada bantu. A pesquisa etnográfica de construção de um atabaque e sua comercialização contribuirá com elementos significativos para a compreensão das presenças e referências da musicalidade religiosa brasileira de um modo geral, assim como nos dados sobre sua territorialização do candomblé Angola no Sudeste.
A presente tese tem como objetivo compreender os múltiplos modos de incorporação dos imigrantes espanhóis no interior de São Paulo, com enfoque no período entre 1890 e 1940. Para produzir tal análise, procuramos compreender como os espanhóis se inseriram a partir dos diferentes contextos apresentados por seis diferentes regiões do interior paulista: Sorocaba, Franca, Catanduva, Cafelândia, Bauru e Olímpia. Objetivando traçar essa multiplicidade de possibilidades de incorporação, buscamos analisar questões como os recursos mobilizados pelo grupo, as facilidades e dificuldades impostas pelas localidades, as possibilidades de ascensão econômica, os arranjos com as elites locais, os investimentos na identidade étnica de origem, entre outras. A partir de um diversificado aporte teórico procedente dos estudos migratórios, buscamos fazer uma análise de diferentes trajetórias de espanhóis nessa localidade, demonstrando a partir desses casos heterogêneos o que chamamos de múltiplos modos de incorporação realizados pelo grupo.
A partir da clínica com migrantes, mais especificamente com refugiados que buscam um espaço de escuta diante do sofrimento da ordem do trauma, buscamos registrar a percepção dos terapeutas que os acolhem nesse contexto. É a partir da palavra de psicólogos, terapeutas e psicanalistas e seus cuidados a este público que este registro se deu. Nesta experiência nossa escuta priorizou a percepção construída e as formas desenvolvidas para lidar com os desafios deste setting terapêutico. Em um momento histórico em que assistimos a deslocamentos forçados maciços, a saúde mental volta a ser um tema que mobiliza debates de diferentes áreas de conhecimento. Nos propomos refletir sobre as narrativas fruto das experiências de profissionais que atuam no Brasil e nos Estados Unidos (nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Mineápolis). No entanto o cenário de acolhimento que cada país é capaz de oferecer a este migrante permite um tipo de experiência específica. Este é organizado em torno de políticas públicas ou até da falta delas que fomentam estratégias especificas para se lidar com o sofrimento mental de uma população que é vítima de diversas formas de violência. O que é vivido por eles se reflete no relato clínico e convoca o terapeuta em um lugar para além da terapêutica. Relatos de demandas que requerem possibilidades de escuta e intervenção com um impacto político, social e econômico. No Brasil é somente a partir de 2010 que começam a chegar os refugiados forçados a migrar. Mineápolis é uma cidade que têm um histórico de acolhimento de refugiados para os quais criou inúmeros dispositivos e formas de escuta da experiência dessas populações. Dois países e duas realidades distintas que não podem ser comparadas, mas que ensinam a partir de suas práticas. Os arranjos clínicos dos terapeutas podem revelar os efeitos dessas políticas denunciando sua ineficiência ou necessidade de adequação como também seus sucessos. Entretanto o objetivo da pesquisa não é o de normatizar estas práticas, mas de entender estas dinâmicas. Na reconstituição dessas experiências clínicas se desenha o interlocutor que é recebido nesse espaço. O que dele aparece é a produção do discurso do terapeuta no qual se revela também a construção deste outro. Nos propomos discutir a respeito das intervenções clínicas que descrevem uma narrativa particular que sofre efeitos das políticas públicas migratórias.
Esta dissertação se propõe a descrever e analisar sociologicamente quais são e como se dão as ações coletivas de imigrantes bolivianos na busca por direitos sociais, culturais, políticos e econômicos na cidade de São Paulo, contemporaneamente. Nos anos 2000, principalmente na década de 2010, a capital paulista vivencia a emergência de coletivos de imigrantes que passam, juntamente com as organizações mais antigas, a almejar o protagonismo do imigrante ante suas lutas e demandas.
Tendo este cenário em mente, pretende-se responder à seguinte questão: em que medida as lutas travadas pelos bolivianos por direitos são representativas, do ponto de vista da democracia, de um novo paradigma emancipatório para os imigrantes? Com o intuito de alcançar os objetivos propostos, a investigação se valeu de uma abordagem etnográfica, incluindo entrevistas com ativistas que encabeçam mobilizações e manifestações de imigrantes em São Paulo, observações em eventos e manifestações públicas de imigrantes bolivianos, observação em sites de redes sociais de coletivos de imigrantes bolivianos, além de leitura bibliográfica.
Procura-se analisar a relação desses imigrantes com o Estado e as políticas públicas, por meio do conceito de “restrições e oportunidades políticas” (Tilly, 2008; Tarrow, 2009). Em face do exposto, espera-se que os resultados possam servir de parâmetro para quem desejar pensar outras situações de ações coletivas empreendidas por imigrantes, sejam eles bolivianos ou não.
O objeto deste estudo é a criança e/ou adolescente imigrante no ambiente escolar. O problema de pesquisa se constitui em verificar quais fatores interferem na relação da criança e/ou adolescente imigrante com a escola pública e em que medida o ambiente escolar favorece sua inserção, adaptação e integração, buscando compreender esse processo através da percepção que os alunos imigrantes têm da escola e dos fatores que influenciam sua adaptação e seu desenvolvimento. Também foram abordadas as respostas pedagógicas que a escola coloca em prática para acolher a comunidade imigrante.
Assim, os objetivos foram caracterizar de que forma se processa a comunicação intercultural entre a escola e o aluno estrangeiro e identificar quais abordagens e projetos estão sendo utilizados para favorecer essa integração a um novo território, cultura e língua. A pesquisa foi desenvolvida em uma escola pública localizada na região central do município de São Paulo, que serve um território com grande presença de imigrantes, tais como bolivianos, paraguaios, peruanos, chineses, entre outros, onde predominam pessoas de classe de renda mais baixa, carente quando nos referimos às moradias precárias e também à exaustiva carga de trabalho a que os imigrantes situados na região estão sujeitos.
O trabalho apresenta, inicialmente, um panorama dos fluxos migratórios contemporâneos, seguido de uma reflexão sobre a questão do território e das territorialidades para o imigrante, e de que forma a escola pública brasileira do século XXI reconhece a interculturalidade e a diversidade em seu processo de aprendizagem, além de destacar a presença dos alunos imigrantes e os desafios e obstáculos aos quais estão sujeitos no ambiente escolar.
O estudo possibilitou perceber que, dentro da escola, os processos de integração e de aprendizagem da criança e/ou adolescente imigrante, apesar de, inicialmente, se mostrarem conturbados, geralmente pela falta de domínio da língua portuguesa, com o passar dos anos a adaptação e o desenvolvimento dessas crianças e/ou adolescentes se mostraram satisfatórios. O desafio percebido pelo estudo é a inexistência de um projeto mais amplo de inclusão que aborde a presença do aluno imigrante em sala de aula, além dos problemas que envolvem a comunidade que sua família escolheu para estabelecer um novo território. Um projeto assim asseguraria a integração e minimizaria a discriminação e o preconceito ainda muito presentes na sociedade brasileira e, por extensão, no interior da própria escola.
Esta pesquisa aborda a inserção de jovens imigrantes e filhos de imigrantes bolivianos, peruanos e paraguaios nos espaços de lazer da cidade de São Paulo. Conforme abordado ao longo das análises, os imigrantes das respectivas nacionalidades convivem diariamente com os estigmas criados pela sociedade local. Esses estigmas são passados de pais para filhos e influenciam os modos como estes últimos constroem sua identidade, ocupam os espaços da cidade para atividades de lazer, relacionam-se com brasileiros e outros imigrantes, e ainda como reagem à caracterização negativa produzida pela sociedade de recepção.
A pesquisa se justifica pelo fato de evitar a tendência de visualizar os imigrantes unicamente como força de trabalho (Sayad, 1998). As metodologias adotadas foram a observação de campo nos lugares frequentados pelos jovens imigrantes bolivianos, peruanos, paraguaios e outros sul-americanos, como a Rua Coimbra e a Praça Kantuta, a realização de entrevistas semiestruturadas com os jovens imigrantes e seus familiares, bem como conversas informais, realizadas em diferentes momentos com interlocutores brasileiros e imigrantes.
Pode-se dizer que a Rua Coimbra não é o único lugar frequentado pela juventude imigrante, pois outros espaços vêm se consolidando na região metropolitana de São Paulo. Dentre eles, se destacam as baladas localizadas na Vila Maria, Pari e Centro, como também a batalha de rap batizada por seus organizadores como "Batalla Callejera".
O trabalho a seguir foi desenvolvido com o intuito de identificar as coletividades helênicas e seus imigrantes e descendentes gregos presentes dentro das principais cidades da América Latina, como São Paulo, Porto Alegre, Santiago e Buenos Aires, além de compreender os motivos da emigração destes e como foi desenvolvido o processo imigratório. Ademais, se foi apontado onde se localizam os descendentes dos antigos imigrantes e quais os ofícios nos dias atuais, além da participação ativa ou inativa nas coletividades helênicas. A questão um tanto quanto problemática da identidade foi explorada com a intenção de compreender como estes mesmos imigrantes e descendentes se identificavam em todo o processo de desenvolvimento social. A receptividade e eficiência das coletividades em cumprir com o papel primordial: disseminar a cultura grega e preservar a memória dos imigrantes e das gerações futuras. Além de tudo, quais os meios funcionais que as comunidades gregas têm para cumprir com tal função. Para tanto, Stuart Hall nos leva a compreender o processo da identidade cultural na pós-modernidade e quais os efeitos positivos e negativos, além de perceber que as coletividades lutam justamente contra essa ideia de “identidades móveis”, sem criar raízes e sem a ideia fixa de uma identidade característica e forte. Além de compreender como o processo das identidades, o processo imigratório e o da preservação das memórias é diverso de coletividade para coletividade. Essas ideias, assim como novas interpretações e compreensões dos temas salientados acima remetem a composição deste trabalho, na busca de disseminar o que foi/é a imigração grega e como ela vem sendo representada na América do Sul, com histórias, memórias e vivência dos imigrantes e descendentes gregos.
Essa pesquisa tem como objetivo realizar uma análise longitudinal de painel da mobilidade ocupacional de estrangeiros inseridos no mercado de trabalho formal brasileiro, entre 1995 a 2015. O intuito é compreender os fatores que influenciam positiva ou negativamente a trajetória ocupacional dos estrangeiros empregados formalmente no Brasil. Alguns autores, adeptos da Teoria da Assimilação, argumentam que a mobilidade ocupacional dos imigrantes no mercado de trabalho varia de acordo com níveis de capital humano acumulado, com variáveis demográficas e, em particular, torna-se ascendente com a duração da residência no país de destino. Já os teóricos da Teoria da Assimilação Segmentada têm como pressuposto a ideia de que as sociedades modernas são diversas e segmentadas e, portanto, a teoria clássica da assimilação não abarcaria às inúmeras trajetórias dos estrangeiros no mercado de destino. Como metodologia, utilizamos os dados da Relação Anual de Informação Social (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego de 1995 até 2015, a partir do qual são estimados modelos de regressão longitudinal para compreensão de 14 grupos de estrangeiros. Os resultados demonstraram que há crescimento médio do status ocupacional do estrangeiro com aumento do tempo do estrangeiro no Brasil, mas esse crescimento precede um movimento inicial de queda do status nos primeiros três anos de residência no país. Dessa forma, encontramos um formato de mobilidade em J para realidade do mercado formal brasileiro. Percebemos que essa trajetória varia de acordo com a nacionalidade do trabalhador, sendo que, em geral, quanto maior o desenvolvimento econômico dos países de origem, melhor é o desempenho dos imigrantes no mercado de trabalho, traduzindo em maiores probabilidades de mobilidade ascendente. Além disso, outras variáveis que têm impacto sobre a mobilidade do estrangeiro no mercado formal brasileiro são: 1) região do país de localização da empresa na qual o estrangeiro se encontra empregado; 2) sexo; 3) Número de vezes que o estrangeiro aparece no banco da RAIS (proxy de experiência no mercado formal); 4) tempo de residência no Brasil; 5) nível de instrução; 6) raça.
Esta dissertação tem a finalidade de estudar e identificar alguns aspectos da realidade concreta dos jovens expatriados em São Paulo, com o objetivo de analisar a sociabilização destes na cidade de São Paulo. Para tanto, buscou-se considerar o grupo de executivos sul-coreanos na faixa etária entre 20 e 40 anos, trazendo à luz características comuns na trajetória de expatriados que imigraram por conta do trabalho e a inserção destes em São Paulo, na reflexão de sociabilidade dos expatriados em um mundo cada vez mais globalizado e moderno. Para fazer a apreciação destes, tomou-se como centro de análise os 12 executivos de origem sul-coreana, 4 esposas dos executivos e 6 expatriados de origem holandesa, francesa, indiana, japonesa, filipina e chinesa. Além das entrevistas, foi feito um levantamento de natureza bibliográfica, documental, de notícias e dados numéricos do referencial teórico sobre os temas envolvidos, mediante às reflexões sobre a alteridade e identidade dos autores de áreas e origens variadas, dos quais o foco foi dirigido às de Arjun Appadurai, Saskia Sassen, Georg Simmel, Clifford Geertz, Luc Boltanski, Stuart Hall e Oswaldo Truzzi, a partir do qual se produziram informações quantitativas e qualitativas.