Haitianos em Cuiabá: Um estudo sobre as experiências migratórias
Esta dissertação é o resultado de uma pesquisa realizada sobre a migração haitiana para o Brasil, particularmente sobre um grupo de haitianos que se instalou na cidade de Cuiabá, no estado de Mato Grosso. A pesquisa partiu do seguinte problema: Como esse grupo de haitianos percebe a experiência migratória nos locais de moradia, trabalho, educação e de convivência comunitária em Cuiabá? E teve como objetivo geral compreender as experiências migratórias haitianas por meio do estudo das motivações e percepções dos migrantes; e como objetivos específicos: levantar o perfil dos sujeitos migrantes; entender as motivações que os levaram a migrar; identificar as estratégias de deslocamento; e conhecer as formas de inserção no mercado de trabalho local e a participação em atividades escolares, religiosas e culturais. Optamos por uma metodologia qualitativa, e os dados de campo foram obtidos por meio de observação direta, aplicação de questionários e entrevistas. A pesquisa de campo foi realizada em bairros da região Leste da capital, onde vive a maior parte desses migrantes. Foram aplicados cinquenta (50) questionários com migrantes haitianos estudantes do curso de língua portuguesa para estrangeiros do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso campus Cuiabá-Bela Vista; e realizadas nove (09) entrevistas com haitianos moradores dos bairros da região Leste de Cuiabá. A fundamentação teórica teve como base as explicações sociológicas de diversos autores, entre eles Bourdieu (1989; 2011), com destaque para os conceitos de habitus, campo e espaço social; em Dubet (1994) o conceito de experiência para explicar as lógicas do processo migratório; o Estado-nação com as explicações de Bourdieu (2014); a migração como fato social total de Sayad (1998); o conceito de transnacionalismo de Sassen (2010) e Mitchell (2003); e o conceito de campo migratório em Schaeffer (2009) e Baeninger (2013), ressalvando que outros autores também deram suporte teórico. Os resultados da pesquisa demonstram que a migração internacional realizada pelos haitianos se constitui em uma prática de organização da viagem para o estrangeiro segundo os interesses, os motivos e a situação do grupo social do qual faz parte o migrante. A experiência migratória haitiana é resultante de uma condição social de instabilidade no país de origem, e da percepção do espaço estrangeiro como lugar de reprodução social. Para que as experiências migratórias sejam possíveis, os agentes se apoiam em uma rede migratória, criada a partir de vínculos familiares e de amizade, resultando em apoios e relações na origem-trânsito-destino. Essa rede se constitui em uma estrutura espaço temporal receptiva da dinâmica da viagem haitiana. Observa-se que o campo migratório é operacionalizado por diferentes lógicas e o migrante busca a inserção no mercado de trabalho, luta pela conservação e reconhecimento de seu pertencimento à sociedade haitiana, entretanto, a lógica da subjetivação, que conduz esses sujeitos migrantes, não se reduz nem a integração e nem a estratégia, possibilita a experiência migratória como aprendizado, formação do sujeito e criação da comunidade migratória. |