Religião e Migração: revisitando uma velha questão
Nesse estudo buscamos uma nova forma de relacionar religião e migração, visto que as análises realizadas sobre este tema não se adequam mais à realidade atual. Não estamos centrados em fatores externos como o fez a escola funcionalista, por isso a preocupação aqui não é com o crescimento de denominações religiosas na relação direta com o fluxo migratório. Ao contrário, partimos para uma reflexão tomando a esfera religiosa em si e a ação dos sujeitos que dela fazem parte (compartilhando dessa forma da perspectiva Weberiana) e a partir daí procuramos perceber se existem diferenças ou semelhanças no que concerne a dois grupos de sujeitos: os mutantes religiosos/migrantes e os mutantes religiosos/não migrantes. Entendemos por mutante religioso o indivíduo que mudou ao menos uma vez de tronco religioso - no caso brasileiro consideramos os seguintes troncos religiosos: católico; protestante; afro-brasileiro; espírita; outros. Incluímos nessa categoria aqueles que, a partir de uma origem religiosa exclusiva, assumiram uma condição religiosa dúplice ou mesmo multíplice. Por migrante tratamos aquele sujeito que, a partir - no mínimo - da adolescência, se deslocou ao menos uma vez do lugar onde nasceu. A hipótese da qual partimos é a de que a mudança religiosa pode relacionar-se à migração/não migração, na medida em que estas podem ter fabricado dois tipos distintos de mutantes religiosos com perfis característicos das suas próprias condições sociais. Direcionamos nossa atenção - através de entrevistas gravadas com 36 (trinta e seis) informantes - aos percursos religiosos desses dois grupos, e a partir deles foi possível notar que, de acordo com a hipótese levantada inicialmente, a mudança religiosa tem relação com a migração (associada à diversidade de ofertas religiosas presentes na metrópole).