Experiências estéticas em movimento: produção literária nas periferias paulistanas
Neste trabalho, analiso o movimento da literatura marginal de São Paulo e suas expressividades poéticas. O objetivo é examinar as dinâmicas dos saraus que permitem a emergência de escritores autodenominados "marginais", bem como a produção de objetos literários a partir dos vínculos que esses agentes estabelecem com espaços periféricos. Interessa-me capturar o impacto das experiências urbanas no trabalho literário, nas estratégias de atuação e na produção textual e performática desses escritores originários das periferias. Primeiramente, relato como configurei meu trabalho de campo nos saraus e os primeiros contatos que tive com a produção marginal, delimitando os marcos etnográficos, metodológicos e epistemológicos que orientaram a pesquisa. Em seguida, investigo os arranjos que possibilitam agentes e coletivos formarem um novo movimento cultural urbano. Para isso, por meio de análise comparativa, percorro modelos e tradições que, por um lado, influenciaram a sociogênese dos saraus como espaços vitais da literatura marginal e, por outro, provocaram certos distanciamentos em seu processo formativo. Por fim, para identificar a particularidade do movimento e o sentido político e estético da presença desses novos autores na história da literatura brasileira contemporânea, examino como os agentes literários, em suas narrativas e performances poéticas, problematizam as periferias, os locais onde vivem e a partir dos quais atuam culturalmente e produzem literatura. O argumento central da tese é que, por meio das oportunidades geradas pelos saraus poéticos, esses agentes encontram espaços para combater estigmas, repertoriar ideias, estruturar sentimentos, catalisar vivências coletivas e dinamizar suas práticas nas margens da cidade, utilizando a palavra como forma de transformar seus trabalhos literários em plataformas para o exercício da cidadania cultural.