Processos de urbanização
Vozes Marginais na Literatura
Érica Peçanha do Nascimento. Rio de Janeiro, Aeroplano, 2009. 347 pp.
Desde pelo menos os anos 1970, as periferias urbanas do Brasil estão em pauta nas discussões acadêmicas, particularmente nas Ciências Sociais. Entre os anos 1970 e 1980, estes estudos ressaltavam principalmente a precariedade de infraestrutura urbana e de serviços públicos e a situação de marginalização social da população que habitava estas áreas de expansão das grandes cidades brasileiras. Houve neste momento um grande interesse das Ciências Sociais pela realidade destes moradores da periferia das grandes cidades. O livro Vozes marginais na literatura, de certa maneira, insere-se nesta tradição de estudos sobre a periferia. Trata-se da pesquisa de mestrado de Érica Peçanha do Nascimento, realizada junto ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da USP, cujo tema é a literatura marginal produzida na periferia de São Paulo. Embora em diálogo com esta produção acadêmica, o trabalho de Nascimento vem destacar um novo movimento que surge nas periferias urbanas de São Paulo.
Um Espetáculo do “Progresso” Muito Particular: o Álbum Comparativo da Cidade de São Paulo (1862-1887), de Militão Augusto de Azevedo
Este artigo é uma versão condensada da Introdução e do Capítulo 5 de minha dissertação de mestrado em Antropologia Social (Araújo, 2006), que foi orientada por Lilia Moritz Schwarcz e financiada pela FAPESP. A pesquisa concentrou-se na Coleção Militão Augusto de Azevedo do Museu Paulista-USP (www.mp.usp.br), instituição depositária do material legado pelo fotógrafo Militão e espaço de diálogo com Solange Ferraz de Lima e Vânia Carneiro de Carvalho. O trabalho contou ainda com as críticas e sugestões de Guita Grin Debert, Fernanda Arêas Peixoto, Ulpiano Toledo Bezerra de Meneses e Elias Thomé Saliba. Devo ressaltar, ainda, o incentivo de José Guilherme Cantor Magnani para que este texto fosse publicado, e as leituras atentas de Daniela Carolina Perutti e Frederico Tell de Lima Ventura.
Entre “cá” e “lá”: estudo comparado – espaços públicos centrais em São Paulo e no Porto
Narrativas em disputa: fotografias do subúrbio ferroviário de Salvador
As fotografias aqui apresentadas foram produzidas em 2019, a partir do encontro entre pesquisadoras/es e moradoras/es da orla de Periperi, bairro do Subúrbio Ferroviário de Salvador (SFS). A motivação para ir a tal encontro emergiu dos interesses coletivos do grupo de estudos Urbanidades Liminares de confrontar percepções estigmatizadas e dicotômicas de cidade, tensionando representações hegemônicas dos territórios populares afro-brasileiros. Nesse sentido, o SFS foi considerado devido à magnitude da autoconstrução em seus bairros e à complexidade das relações entre os diversos produtores de suas dimensões materiais e imateriais. Munindo-se dessas inquietações, apesar de situar-se majoritariamente na orla de Periperi, as pesquisas, a partir das quais este ensaio fotográfico se produziu, não tinham um recorte territorial pré-estabelecido, tendo adotado o encontro com as/os moradoras/es e suas narrativas como ferramenta definidora de caminhos e desdobramentos (Ferreira, 2019).
Campininha das Flores: narrativas de um drama social
Este artigo objetiva analisar o impacto conflituoso da construção de Goiânia (GO) sobre antigos moradores do bairro Campinas, durante os anos 1940, 50 e 60. Historicamente, Campinas se movimentou da condição de arraial (a partir de 1810), vila e município emancipado (em 1907) para, nos anos 1930, tornar-se apenas mais um dos bairros da nova capital de Goiás. Expresso através de sentimentos ora de orgulho, ora de rivalidade, o conflito simbólico surgido entre campineiros e goianienses foi retratado por alguns escritores locais por meio de suas memórias escritas. As fases e a sequência desse processo de distúrbio da vida social na região são investigadas a partir de conceitos como drama social e liminaridade, desenvolvidos pelo antropólogo Victor Turner.
Rua Fernandes Guimarães: novos negócios e novas sociabilidades em uma rua do SohoBotafogo
Cultura e urbanidade no Centro Histórico de Manaus: um estudo espacial e sensorial
O presente artigo pretende abordar uma área do Centro Histórico da cidade de Manaus à luz de duas estratégias de análise urbana, a de Gordon Cullen (2008) e de Kevin Lynch (1960). A intenção é penetrar nas várias camadas que compõem esse espaço, escolhido e delimitado previamente, a partir das perspectivas urbanística e sensorial. Dessa forma, foi selecionada uma área que se considera englobar as várias facetas do Centro Histórico manauara, que pudesse nos guiar nesse percurso como flâneur, em busca de uma apreensão do ambiente construído, suas reverberações e sua legibilidade. O objetivo final é observar as nuances desse espaço, o que ele nos comunica e o que é possível apreender dele dentro da esfera da sensibilidade humana.
O lugar entre mulheres e linhas
Este relato se refere ao bairro São Geraldo em Pouso Alegre/MG, parte da interação com mulheres que bordam, costuram e sonham no lugar. A localização central do São Geraldo, apesar de favorável na cidade, equivale a uma área precarizada pelo processo de urbanização que se apresenta com certo atraso no bairro, comprometendo sua funcionalidade, estética e o uso de seu espaço urbano. O (re)conhecimento do aspecto plural existente no lugar passa por seus sujeitos, seus espaços e pelas relações cotidianas. O texto tem como objetivo apreender experiências do bairro São Geraldo a partir de mulheres que bordam e costuram nele. Justifica-se pela importância de localizar a potência da cultura em meio ao discurso de desenvolvimento adotado pela cidade, gerando subsídios para ações sociopolíticas e fomentando a pesquisa e extensão acadêmica. A metodologia pautada na etnografia do bordado, proposta por Pérez-Bustos e Piraquive (2018), demonstrou no decorrer dos encontros com mulheres habitantes do bairro a possibilidade de trocas em meio ao fazer manual, revelando camadas antes ocultas ou pouco mencionadas sobre o lugar.
Emergência urbana: criação de espaço público e o nascimento do 'Parque Minhocão' na cidade de São Paulo
Neste artigo analisamos a emergência do Parque Minhocão, em São Paulo, a partir das interações e engajamentos que os habitantes da cidade realizam com esse famoso viaduto da capital. Observamos que o espaço não é algo de significado fixo, mas que emerge continuamente e de forma espontânea das ações não planejadas das pessoas que recebem o espaço historicamente constituído e continuam a moldá-lo através das demandas da sociabilidade de suas vidas. Apontamos que no caso do Parque Minhocão a dimensão criativa e lúdica é elemento central para se entender como se dá o processo de democratização de áreas privadas ou restritas da cidade e que são incorporadas pelas pessoas como espaço público, sem necessariamente haver a mediação do poder público. O Minhocão representa no imaginário paulistano um projeto urbanístico de insucesso que degradou a cidade; notamos, porém, que em seu dia a dia as pessoas não olham apenas para as imperfeições desse viaduto, integrando-o às suas vidas e atribuindo-lhe qualidades.