Dor de mãe: lutos possíveis e impossíveis das vítimas da violência urbana
Este estudo teve por objetivo verificar, por meio de registros de atendimentos psicoterapêuticos e entrevistas, as diferenças no processo de enlutamento de duas mães cujos filhos foram vítimas fatais da violência urbana, na cidade de São Paulo. Nos atendimentos psicoterapêuticos, verificou-se que algumas mães apresentavam maior dificuldade em lidar com a perda violenta de seus filhos em relação às outras mães, suscitando questionamentos ligados à possibilidade e à impossibilidade de realização do luto. Para tanto, foram escolhidas duas mães que apresentavam diferenças na relação com o filho perdido: uma em que a mãe voltou a aplicar atenção e interesse por outras atividades e objetos, em detrimento à mãe que não apresentou interesse por outros elementos e objetos a não ser pelo filho perdido. Para desenvolver essa questão, foram levantados estudos sobre a violência urbana na cidade de São Paulo, considerações sobre o lugar do psicanalista no atendimento às vítimas de violência, o perfil dessas vítimas, seguido de estudos relacionados à morte e ao morrer como forma de demarcar o aspecto social e cultural inerente ao tema. Também foram realizados estudos relacionados à neurose traumática, seguindo para a análise clínica do caso, desde as noções freudianas de luto e melancolia à teoria do amadurecimento pessoal de D. W. Winnicott. Desse estudo é possível concluir que a possibilidade de lidar com a perda de um filho é condicionada a conquistas emocionais relacionadas ao estágio do concernimento, sendo o insucesso dessa conquista relacionado à impossibilidade de realização da elaboração do luto.