Quando canta a liberdade: a desinstitucionalização da mulher egressa do sistema prisional paulista
A presente pesquisa surge do cenário do aumento vertiginoso do número de mulheres encarceradas no Brasil e os efeitos da punição na vida dessas mulheres. O objetivo da pesquisa foi compreender o processo de desinstitucionalização, iniciado desde o período de cumprimento da pena privativa de liberdade, através da vivência da mulher egressa do sistema prisional paulista sobre como enfrentam essa passagem.
A metodologia consistiu na realização de entrevistas auxiliadas por tópicos-guia com quatro mulheres egressas. O trabalho de campo também envolveu o acompanhamento de atendimentos com egressos e seus familiares, além de conversas informais com membros de organizações sociais. Esta pesquisa pretendeu contribuir para compreender os mecanismos de poder das instituições, questões relativas a gênero na realidade institucional e pós-institucional, os efeitos do cárcere nas interações e negociações em liberdade e a importância de políticas públicas voltadas às mulheres.
Após o período das grades, as mulheres desenvolveram estratégias para lidar com o estigma e a falta de apoio por meio de diferentes apresentações do self, conquistando mais espaço. O processo até alcançar a liberdade apresenta-se como algo meramente burocrático, e a “assistência” permanece no viés da punição, contribuindo para a disseminação de preconceitos.
Outros pontos que a análise da realidade das mulheres egressas demonstra incluem vivências marcadas pela precarização do trabalho, fragilidade de vínculos, ausência de informações e acesso precário a direitos e à cidadania, todos agravados pela experiência carcerária.