Seguindo os fios de Ariadne: reflexões sobre as tramas discursivas do projeto Escola Sem Partido no Mato Grosso do Sul
O presente trabalho teve o intuito de analisar as tramas discursivas que cercam o projeto "Escola Sem Partido" (PESP) (izalci, 2015) e suas ressonâncias no estado de Mato Grosso do Sul, buscando perceber em suas entrelinhas não apenas a matriz de inteligibilidade heteronormativa, mas também, e principalmente, suas tensões e ambiguidades. Para isso parti de algumas questões norteadoras: quais os discursos produzidos pelo projeto escola sem partido e suas implicações político-ideológicas? Que categorias e pressupostos são utilizados em sua proposta de combater a propalada "ideologia de gênero" e quais suas contradições? Tomando como base a perspectiva antropológica e as contribuições de Michel Foucault (1987; 1993; 1999; 2004; 2006; 2012; 2017), busquei analisar o dispositivo legal a partir de dois movimentos: um macro e um micro. No plano macro, desafiei-me a destrinchar as tessituras ideológicas do projeto por meio da análise de suas propostas. No contexto micro, busquei problematizar quais seriam os desdobramentos do PESP no contexto do estado de mato grosso do sul a partir de um evento ocorrido ao longo de 2017. A metodologia foi baseada em entrevistas e levantamento e análise de notícias e posts veiculados pelas redes sociais sobre o tema. Ao final da pesquisa, foi possível constatar que, se de um lado é inegável o ethos conservador que constitui o PESP, por outro, compreendê-lo como detentor de um discurso absoluto e soberano é ignorar a dimensão ambígua e instável que o atravessa e o constitui. Assim, foi possível compreender o projeto muito mais como um regime de verdade precário, performativo e arbitrário do que como algo que está além da história, da política e da ideologia, como querem fazer crer seus idealizadores.