Sobre abolicionismos penais da pastoral carcerária: a prática de contar e rememorar histórias que constrói "um mundo sem cárceres"
Este trabalho procura entender os múltiplos sentidos englobados no lema "por um mundo sem cárceres" da Pastoral Carcerária (PCR), organização civil ligada à igreja católica e dedicada à defesa dos direitos humanos de encarcerados(as) no Brasil e no mundo em linha abolicionista penal. Participei, durante dois anos (2016-2018), do grupo de trabalho saúde mental e liberdade vinculado à PCR da arquidiocese de São Paulo (GT). Como grupo dedicado exclusivamente à questão dos hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico (HCTP), conhecidos também como manicômios judiciários, do estado de São Paulo, a presente dissertação tem como principal intuito discutir como o abolicionismo penal, longe de ser a estrita extinção do sistema carcerário, do qual os HCTPS são também parte, constrói-se no plano cotidiano de visitas de assistência religiosa a essa unidades, política basilar do trabalho da PCR. Argumenta-se que construir "um mundo sem cárceres", enquanto diretriz política, reivindica uma temporalidade ancorada no presente, em que escutar e veicular as histórias registradas por agentes pastorais a partir de idas periódicas a unidades prisionais é estratégia seminal dessa construção, e na qual a produção de documentos, notadamente relatórios de denúncia, desempenha também um papel fundamental