Memória, preservação e patrimônio
Novos agentes e novas configurações no carnaval dos blocos de rua na cidade do Rio de Janeiro
1O século XXI trouxe consigo a expansão do carnaval dos blocos de rua na cidade do Rio de Janeiro. Em proporções cada vez mais expressivas, tanto no número de blocos quanto de foliões, o carnaval de rua expandiu o calendário anual da festa na cidade e impulsionou uma nova organização da celebração carnavalesca, tanto por parte do poder público quanto dos blocos. Inserida nesta recente valorização de brincar o carnaval, os blocos de rua na cidade do Rio de Janeiro se veem em meio a uma discussão sobre o aumento da rentabilidade econômica através da mercantilização da/na festa, associada à sua profissionalização, e a valorização de práticas tradicionais de se brincar o carnaval através da discussão da sua patrimonialização. Tendo como base a pesquisa etnográfica, buscou-se compreender neste artigo o processo pelo qual vêm passando os blocos de rua na cidade do Rio de Janeiro, problematizando os múltiplos significados para a noção de tradição carnavalesca e como os diferentes agentes envolvidos na festa estão compreendendo e organizando o carnaval. Este artigo1 propõe, assim, pensar a configuração atual do carnaval dos blocos de rua na cidade do Rio de Janeiro a partir dos três principais agentes organizadores da festa: os blocos, as ligas e associações e o poder público, buscando mostrar os diferentes significados que a festa possui para cada agente.
Por trás das fachadas coloridas
Neste artigo, discutimos as mudanças recentes nas políticas de intervenção nos Centros Históricos de Recife e Salvador. Tanto no Bairro do Recife quanto no Pelourinho, as intervenções da década de 1990 se concentraram nas mudanças do uso local: de espaço degradado e pobre para um espaço de ‘cultura e lazer’ destinado às classes médias. Em meados da primeira década dos anos 2000, o que vemos, no entanto, são novas estratégias de re-elitização, na medida em que o uso social do espaço resultou ser mais amplo do que o esperado. O discurso de “devolver a cidade a seus habitantes” está, nesse segundo momento, cada vez menos presente, imperando abertamente a lógica do investimento e retorno financeiro. O que permanece perigosamente adiada é a discussão dos significados dos centros históricos e da memória capaz de ser transmitida por estes espaços singulares.
As religiões ayahuasqueiras, patrimônio cultural, Acre e fronteiras geográficas
Em abril de 2010, a Assembleia Legislativa do Acre concedeu os títulos de cidadão do Acre a Raimundo Irineu Serra (fundador do Santo Daime), Daniel Pereira de Mattos (fundador da Barquinha) e José Gabriel da Costa (fundador da União do Vegetal) (ALEAC, 2010). Três anos antes, em abril de 2008, essas três vertentes religiosas haviam entrado com um pedido de reconhecimento da ayahuasca como patrimônio cultural imaterial brasileiro junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), para o qual ainda aguardam resposta (Queiroz et. al, 2008). Em setembro de 2006, as instalações da vertente do Santo Daime, denominada Centro de Iluminação Cristã Luz Universal – CICLU-Alto Santo foram tombadas como patrimônio histórico e cultural do Acre por um decreto do governador Jorge Viana e do prefeito Raimundo Angelim (Labate & Goldstein 2009). Este processo representa uma importante conquista na história dos grupos ayahuasqueiros, que têm sido, desde a sua origem, frequentemente perseguidos (MacRae 2008 e 2010; Goulart 2004; Labate 2005). A relação destes grupos com o poder público do Acre e a transição da ayahuasca do estigma de droga perigosa para status de patrimônio cultural regional e nacional representam uma importante transformação, e muito pouco foi escrito sobre isto até o momento.
Festa na cidade: o circuito bregueiro de Belém do Pará
Em Festa na cidade, Antonio Maurício da Costa apresenta-nos os diferentes agentes que compõem o circuito do brega em Belém do Pará. Logo de início o autor alerta para o fato de que o brega no Pará tem outra designação, diferente da que é mais comum no restante do país, especialmente no sudeste. O Brega paraense não necessariamente se refere a músicas populares que abordariam temas românticos ou que remeteria ao que seria considerado mau gosto. No caso do brega paraense, ainda que contenha de modo acentuado este componente popular, o termo adquire outro significado, pois se trata de uma reinvenção local (ou seria uma invenção?) de um gênero musical e festivo.
“Alfama não cheira a fado, mas não tem outra canção” ou “Tudo isso é a alma do Rio, é samba”: As Cidades Descobertas através do Samba, do Choro e do Fado
Nestes últimos dez anos, jovens músicos estão recriando gêneros musicais tradicionais como o samba, o choro e o fado. Estas (re)criações fizeram com que estes gêneros musicais tradicionais ganhassem nova vitalidade e junto com eles territórios na cidade que são/estão diretamente vinculados as suas memórias. Esta descoberta de uma cidade vinculada a um gênero musical específico acontece a partir de práticas musicais cotidianas que exigem um trânsito por essas cidades e por seu tempo e espaço específico, a boemia sambista, chorona ou fadista. A revitalização de bairros tradicionais da cidade, seja ela o Rio de Janeiro ou Lisboa, faz com que estes jovens músicos (re)descubram outra(s) cidade(s) a partir de gêneros musicais que tão bem a cantaram.
Do Outro Lado do Muro: Expressões nas Paredes de um Hospital Psiquiátrico
Ensaio fotográfico realizado entre 2010 e 2015 no Hospício São Pedro, em Porto Alegre (RS).
Breve história e etnografia do grupo Novo Fazendinha: o São João Da Parnaíba (PI), seus artistas e bois rivais.
Este artigo discute a atividade dos grupos de Bumba-meu-boi de Parnaíba (Piauí), em diálogo com a história da cidade. O São João da Parnaíba é a maior festa popular do município piauiense, com seus grupos de boi, quadrilhas e apresentações de bandas musicais. Os comentários apresentados partem da prática do Novo Fazendinha, que é um dos grupos que mais se destaca no Concurso de Bois do São João da Parnaíba. É resultado do trabalho de campo desenvolvido em janeiro/2017 e abril/2017 e da análise de entrevistas produzidas com artistas que atuam no Bumba-meu-boi desde os anos 1950. Conclui-se que alguns paradigmas da história da colonização do Piauí – como a miscigenação - influenciam a forma como os artistas veem suas práticas e que os discursos da tradição e modernidade são muitas vezes instrumentalizados para valorar o trabalho dos artistas perante os grupos considerados rivais e os jurados do Concurso de Bois.
Os bandeirantes ainda estão entre nós: reencarnações entre tempos, espaços e imagens
Acompanhar as flutuações e os percursos bandeirantes na cidade de São Paulo significa balizar os usos que pessoas e grupos fazem desse personagem para dar sentido a suas experiências em momentos e lugares específicos. Produzido no interior de uma teia de práticas e discursos, o bandeirante não é uma categoria fixa, tampouco tem seu significado dado de antemão. Para além de figura histórica do período colonial brasileiro, trata-se da invenção de uma metrópole que ele mesmo ajuda a produzir, numa operação na qual sobrepõe, cruza, destrói e reinventa discursos, atitudes e miradas, muitas vezes contraditórias. Sensível às transformações da cidade, ele comenta as mudanças urbanas e lhes confere sentido, engendrando-as e produzindo-as. Atenta às reelaborações locais e às tantas historicidades nele impregnadas, sigo neste artigo os itinerários de algumas figurações desse personagem que, ao se recriar no tempo e com o tempo, condensa e articula diferentes embates, temporalidades e sentidos.
Arquitetura Vernácula Latino-Americana: litoral da região do Cone Sul
Trata do assunto da arquitetura vernácula, existente no litoral do Cone Sul da América Latina. A forma de abordagem consiste em compreendê-la muito mais como resistência a uma padronização, presente nos grandes centros urbanizados, do que como a continuidade de uma tradição. O trabalho mostra um levantamento que se inicia em Santos (SP) e termina em Ushuaia (Argentina), apresentando diversificadas tipologias, resultado de inúmeros fatores sociais e culturais adaptando-se no meio natural em que estão situados. Além disso, procura compreender como os arquitetos e historiadores observaram a arquitetura vernácula, nos inúmeros enfoques, e qual a melhor definição em sua referência.