Fluxos populacionais e migrações

Análise do discurso jornalístico sobre as migrações nordestinas na cidade de São Paulo e do discurso do migrante, na década de 1990, sob o enfoque das Ciências da Linguagem, com o propósito de levantar e acompanhar, através do diálogo com as referidas modalidades discursivas, o problema do poder e da dominação, compreendidos no princípio do controle dos meios de comunicação, da linguagem e da codificação de mensagens, reabrindo tais impasses, no deslocamento radical de toda a problemática, para o da reflexão sobre a linguagem enquanto constitutiva do sujeito, enquanto determinante, como lei e desejo do processo pelo qual os indivíduos ingressam na sociedade, em condições e social e historicamente determinadas.

A cidade de São Paulo pode ser considerada, historicamente, como um mercado de oportunidades de melhoria de vida, para o qual foram atraídos os migrantes nordestinos. Esta cidade ameaça destruir os seus maiores bens: os valores de sua cultura, seus símbolos e a sua vida em comunidade, segregando-os na solidão, na indiferença e no esvaziamento de seus sentidos. Ao investigar a comunidade nordestina e suas relações com o Centro de Tradições Nordestinas e a Rádio Atual, este trabalho pretende desenvolver uma metodologia que venha ensejar novas contribuições para a linha de pesquisa sobre as culturas subalternas por meio da preservação de sua identidade, da participação ativa na vida cotidiana como atores de movimentos sociais, e do reprocessamento de sua cultura no grande centro urbano. Pretende-se analisar as possibilidades de transformação da dinâmica cultural da cidade por meio da expressividade desta cultura, que no contexto da globalização, pode gerar um novo movimento: o processo de humanização do homem num mundo desumanizado.

O presente trabalho procura investigar os conhecimentos "psicológicos" elaborados por imigrantes italianos em uma ex-colônia situada em Cascalho, município de Cordeirópolis, estado de São Paulo, no período de 1911 a 1953. A vida religiosa dessa colônia organizou-se em torno do padre Luis Stefanello (1878-1964), formador e orientador de várias gerações de fiéis. A pesquisa tem como objetivo revelar o que sobrevive da imagem do padre Stefanello na lembrança dos mais velhos e examinar as relações entre história e memória do grupo. Baseia-se em dois grupos de fontes: 1) fontes documentárias escritas referentes à história do padre Stefanello e de sua comunidade paroquial; 2) fontes de tipo oral, a saber, entrevistas abertas com testemunhas que conviveram com o referido padre. Estes dois grupos de materiais foram analisados em conjunto, observando a convergência dos indícios, permitindo assim uma narrativa sobre a vida do padre Stefanello e sua comunidade. A leitura fenomenológica dos relatos, a partir da abordagem filosófica de Paul Ricoeur e do historiador das religiões Gerardus van der Leeuw, permitiu valorizar a experiência pessoal e coletiva e as dimensões da experiência religiosa do grupo estudado Conclui-se que a experiência do relacionamento entre o padre e os moradores da colônia foi geradora de um elo que perdura até o presente. Os fenômenos da bênção e dos exorcismos são apenas um componente significativo deste diálogo com a figura do padre, o qual se constituiu num ponto de referência muito significativo para a formação e a estruturação daquela mesma colônia.

A dissertação analisa o movimento imigratório de espanhóis para São Paulo nas décadas de 1950-1960, especialmente daqueles que participaram do Centro Democrático Espanhol, associação política e recreativa atuante de 1932 a 1975.

O trabalho tem como proposta estudar a incorporação do Brás, da Moóca e Belénzinho à cidade de São Paulo, como bairros industriais e operários. O estudo abrange o período que vai aproximadamente de 1860 até os anos 1940 deste século, sem excluir incursões no momento atual, de modo a apreender tendências manifestas de alteração no modo de inserção desses bairros à cidade. Para os diferentes momentos da análise, os bairros foram entendidos, antes de mais nada, como parte da cidade e não como unidades urbanas isoladas. A pesquisa revelou que o processo de transformação da porção dos arredores paulistanos além-Tamanduatei, domínio de chácaras, em espaço propriamente urbano, vincula-se muito diretamente à política de imigração no quadro de substituição do trabalho escravo pelo trabalho livre. Tal política que visava suprir, primordialmente, as necessidades da cafeicultura em forca de trabalho, foi responsável também pelo estabelecimento de imigrantes na cidade, atraídos por atividades urbanas em expansão, inclusive por uma incipiente atividade industrial. Nessas atividades que se instalam em São Paulo a partir do final do século XIX, encontram-se, justamente, o elemento motor da continuidade do processo de incorporação das terras além-Tamanduatei à cidade ao longo das primeiras décadas deste século.

No inicio da imigração, o Brasil caracterizava-se como representação de uma Itália dividida entre o norte e o sul. Estavam demarcadas as particularidades dos costumes, da culinária, dos dialetos e das tradições religiosas, evidenciadas pelas diferenças geográficas, políticas, econômicas e culturais existentes na Itália. No entanto, frente às dificuldades inerentes a condição de imigrante, aos preconceitos da sociedade paulistana, particularmente a discriminação da elite aos "carcamanos", observa-se nos anos 1920 que além das inúmeras rivalidades e particularidades, passa a existir, uma consciência do que é ser imigrante. Isto é, prevalece a consciência de uma unidade étnica e lingüística e, sobretudo, a existência de uma identidade com a civilização italiana. A principal fonte de dados para a realização do estudo foi a prospecção de fotografias em acervos particulares.

O trabalho analisa o processo de socialização de famílias de migrantes provenientes do Estado de Minas Gerais - de meios socioculturais diversos: rural,semi-rural e urbano, residentes à época da pesquisa na Vila Helena, periferia de São Paulo. A análise desenvolvida resulta de uma tentativa de aproximação das abordagens de Sartre (1960 e 1983), Berger e Luckmann (1976) e Erikson (1976). O trabalho foi realizado com cinco grupos familiares que preencheram os seguintes critérios: apresentaram três gerações consecutivas vivas: de mulheres, as duas primeiras e mista a terceira. Através de entrevistas abertas foram obtidas informações que, posteriormente comparadas, permitiram a análise dos aspectos: nascimento, lactância, treino higiênico, atividades infantis - brinquedo, trabalho e escola. Além disso, foram analisados os valores subjacentes à ação educativa: o namoro e o casamento; os papéis sociais masculinos e femininos; as punições. Dentre as várias modificações que ocorreram no processo de socialização, acompanhando os passos migratórios familiares no sentido campo-cidade, ressaltam: o encurtamento do período de amamentação, o desaparecimento dos treinos específicos, o afastamento e a especialização dos universos masculinos e femininos, o aparecimento do sentimento de infância, a associação infância-brincadeira-escola, a transformação dos padrões de autoridade-submissão.

A dissertação objetiva realizar um estudo exploratório de uma festa religiosa, realizada por um grupo específico de imigrantes italianos, na cidade de São Paulo, desde sua origem até os dias atuais. Despertou a atenção a permanência da festa no tempo, sem perder suas características. Para recuperar a memória dessa festa realizalizou-se pesquisa documental, abrangendo a questão da origem e da denominação de Polignano a Mare, da história de São Vito e da festa propriamente dita. Saindo da Europa para chegar até a cidade de São Paulo, foi necessário recorrer a estudos e pesquisas já realizados sobre a emigração européia, a fim de situar a colônia polignanesa. Adotou-se uma atitude de observação, até certo ponto participante, quando se tratou de investigar a festa nos anos mais recentes. Quanto ao período de 1895 a 1978, foi necessário tomar depoimentos dos participantes da festa de São Vito, italianos ou descendentes de primeira ou de outras gerações, para retratar o mais fielmente possível o ambiente, as expectativas e as frustrações dos integrantes e organizadores não só da colônia polignanesa, mas também da festa. Procurou-se detectar possíveis mudanças introduzidas na tradição, verificando se passa a constituir um elemento cultural novo ou reestruturado.