Religiões, rituais e comemorações
Festividades combativas: etnografia dos eventos Marcha para Jesus e Parada do Orgulho LGBT na cidade de São Paulo
Corpus Christi: a procissão como forma de ocupar a cidade
Os usos da rua: apropriações religiosas do espaço público
Remédio ou Planta de Poder: Os Usos do Kambô no Brasil
Desde a metade da última década, em grandes cidades do Brasil, começou a se difundir o uso da secreção da perereca Phyllomedusa bicolor. Um pouco mais tarde, partir da segunda década deste século, tornou-se possível alcançar informações sobre tal difusão em cidades europeias e norte-americanas. Tradicionalmente usada como revigorante e estimulante para caça por grupos indígenas do sudoeste amazônico (entre eles, Katukina, Yawanawá e Kaxinawá), tem havido um duplo interesse pelo kambô: como um “remédio da ciência” – no qual se exaltam suas propriedades bioquímicas – e como um “remédio da alma” – onde o que mais se valoriza é sua “origem indígena”. A difusão urbana do kambô tem-se dado, sobretudo, em clínicas de terapias alternativas e no ambiente das religiões ayahuasqueiras brasileiras. Os aplicadores são bastante diversos entre si: índios, ex-seringueiros, terapeutas holísticos e médicos. Neste artigo apresentamos uma etnografia da difusão do kambô, analisando sobretudo o discurso que esses diversos aplicadores têm elaborado sobre o uso da secreção, compreendida por alguns como uma espécie de ‘planta de poder’, análoga ao peiote e a ayahuasca.
Religião, grafite e projetos de cidade: embates entre “cristianismo da batalha” e “cristianismo motivacional” na arte efêmera urbana
Neste artigo pretendo refletir sobre relações entre projetos de cidade e religião. Essa reflexão guarda uma linha de continuidade com um debate que venho conduzindo desde os anos 2000 sobre as interfaces entre religião e violência. A base empírica das análises repousa em imagens produzidas, desfiguradas e reproduzidas entre 1996 e 2013 na favela de Acari, Zona Norte do Rio de Janeiro e no registro fotográfico de grafites presentes em diferentes pontos da cidade. Essas últimas lançam luz ao menos sobre dois aspectos de meu interesse e que trarei aqui de modo ainda exploratório: 1) a confluência de projetos seculares e religiosos de cidade através de uma intervenção artística específica, o grafite; 2) as disputas internas ao segmento evangélico entre o que chamo de um “cristianismo motivacional” e um “cristianismo da batalha”.
O Jogo de Identidades na Roda de Capoeira Paulistana
Entre o começo da década de 1960 e o princípio dos anos de 1970, vários mestres de capoeira e capoeiristas baianos migram para a cidade de São Paulo e formarão a primeira geração de capoeiristas paulistanos. Neste artigo, estabeleço uma comparação entre três diferentes concepções sobre a identidade da capoeira paulistana: a da Federação Paulista de Capoeira, a qual a vê como uma “arte marcial brasileira”, a do Grupo de Capoeira Capitães d’Areia que a representa como “arma dos oprimidos” e a do Grupo de Capoeira Cativeiro que a representa como “uma forma de expressão negra”. Tais representações sociais determinarão a forma de graduação de cada um deles. A Federação Paulista de Capoeira adotará as cores da bandeira nacional, o Grupo de Capoeira Capitães d’Areia tomará como base a história do negro no Brasil e Grupo de Capoeira Cativeiro se baseará nas cores dos orixás.
Curando através de imagens: notas sobre os mecanismos terapêuticos de um rito urbano de consumo de Ayahuasca
O objetivo deste artigo é apresentar os mecanismos terapêuticos encontrados em um rito de cura oferecidos em grandes cidades brasileiras, como Rio de Janeiro e São Paulo, onde esta é obtida através do consumo ritual da ayahuasca. Os encontros são realizados mensalmente para um público de aproximadamente trinta pessoas que se reúnem para consumir as chamadas “medicinas da floresta” (ayahuasca, rapé e kampô). Organizado por um grupo de psicólogos, o rito do Nixi Pae tem como objetivo desempenhar o papel de um ritual “ancestral” de cura do povo huni kuin com a bebida “sagrada” amazônica sob a condução de um jovem aprendiz de pajé, filho de uma importante liderança kaxinawa. Um dos principais potenciais terapêuticos da ayahuasca explorado pelos ritos é sua capacidade de provocar visões. Este estado gera um importante material psíquico que deve ser interpretado por aquele que busca a cura. A hipótese deste artigo é que a cura nos ritos do Nixi Pae acontece graças a uma forma controlada de ordenar equívocos na qual o ser mítico kaxinawa Yube encontra pontos de ressonância com o conceito junguiano de inconsciente recriando, através do consumo ritual da ayahuasca, narrativas individuais consideradas como patológicas.
Salve São Miguel Arcanjo: a Umbanda em Procissão
A procissão em homenagem a São Miguel Arcanjo vem sendo realizada anualmente desde 1966, sempre no mês de setembro, no sábado próximo ao dia 29, dia de comemoração do santo. É organizada por um grupo de religiosos umbandistas pertencentes ao Centro Espírita São Miguel Arcanjo - CESMA -, localizado no município de Magé, região metropolitana do Rio de Janeiro. Os fiéis ao chegar reverenciam o andor com a imagem do Santo e se reúnem nas dependências do centro espírita antes do início da procissão. Na cozinha a refeição servida no dia da procissão é composta por uma sopa de carnes com legumes que é servida a todos os participantes. Durante o evento reúnem-se centenas de pessoas, entre os filhos, netos e bisnetos de santo do líder religioso, todos pertencentes ao conjunto de terreiros associados ao CESMA.
A programação de atividades do terreiro é ampla e diversificada, mas a procissão é o evento de maior representatividade tanto para o “povo de santo” como para a cidade, reunindo centenas de adeptos religiosos de todos os terreiros “associados” no país e mobilizando uma quantidade expressiva de pessoas da cidade, que vão para a rua assisti-la. Estima-se que o número total de participantes ultrapasse mil pessoas.
Pajelanças indígena e cabocla no Baixo Amazonas/AM e suas implicações a partir de questão histórica
O artigo almeja mostrar a influência das práticas de cura dos povos indígenas a partir de saberes tradicionais adaptados e evidenciados atualmente em etnoconhecimentos de populações amazônicas. Foram exploradas experiências junto a terapeutas populares da cidade de Parintins/AM, em razão da ressignificação efetivada a partir de marcos indígenas da região do Baixo Amazonas, Amazônia Central. Buscou-se suscitar o diálogo dos saberes tradicionais com o científico, para se pensar e refletir no rumo e na necessidade da valorização do saber local.