Grupos de estilos jovens: o 'rock underground' e as práticas (contra) culturais dos grupos 'punk' e 'trash' em São Paulo

Resumo: Entre as camadas jovens da população existem alguns grupos cujas práticas se remetem a um estilo como referência de pertencimento. Citando apenas alguns: punks, hip-hops, grunges, rock 'a' billies, hippies, góticos, trashers, grinders, etc. São indistintamente grupos de estilo por recorrerem a uma linguagem visual e/ou musical que os substantiva. Mas uma diferença importante deve ser apontada: enquanto alguns são resultado de uma cultura de consumo, outros se engajam em práticas contraculturais que negam o funcionamento de mercado em qualquer nível de suas práticas (são os grupos de estilo underground). É o caso do Movimento Punk, tomado como objeto. Além do levantamento bibliográfico sobre o assunto, foi realizada uma pesquisa de campo durante vários meses do ano de 1991, com um dos grupos do Movimento Punk de São Paulo, o "Movimento Anarco-Punk". Durante os anos de 1990, 1991, 1992 foi mantida correspondência com editores de vários fanzines de rock underground, que proporcionaram uma grande quantidade de fontes primárias para serem consultadas, além dos registros do caderno de campo. A pesquisa procurou dar destaque a dois momentos: (1) o das práticas coletivas, quando se acionavam as idéias concebidas pelos sujeitos, individualmente, sobre o pertencimento àquele grupo; (2) a elaboração de sentidos e idéias sobre essas práticas como elas aparecem nos fanzines e nos manifestos, panfletos e todo o material editado por pessoas dos grupos de estilo. Nos dois momentos, a questão das dimensões local e global desses grupos, aparece como elemento constitutivo. Apesar de tecerem uma rede de comunicação própria que dá conta de seu caráter transnacional, não se prescindem das relações de convívio, amizade, solidariedade e proximidade que permitem que cada grupo de estilo construa localmente sua própria história. É nesses momentos compartilhados em grupos que se pode colocar em prática todos os símbolos que estão presentes nos universos delimitados de pertencimento de cada estilo. O exemplo das situações observadas em campo, junto ao "Movimento Anarco-Punk" por um lado, e as redes de contato que os fanzines conseguem estabelecer, por outro, procuram dar atenção a esse movimento do local x o global. A relação desses grupos com a mídia, a indústria musical e a moda, revelam seu caráter contracultural, ou underground. Eles procuram recusar qualquer envolvimento com essas esferas de produção e circulação de bens simbólicos, por recusar o modelo discriminador que pressupõe seu modus operandi.