Busco analisar nessa dissertação alguns temas transversais que se mostraram indissociáveis entre si na etnografia realizada sobre relações familiares de usuários de crack nas cidades de Sorocaba, São Paulo e Campinas. Tais noções como “cuidado” e “desconfiança”, mas também “casa” e mesmo “família”, permitem refletir sobre as maneiras como essas pessoas concebem ideias de conexões e desconexões que são constituintes de sua vida social. Também busco atentar para a importância da análise da vida social dos objetos presentes nas vidas desses usuários, uma vez que, além de constituírem uma saída metodológica para acompanhar objetivamente tais inter-relações, também contribuem decisivamente na constituição de uma imaginação social cotidiana que dá sentido prático em suas trajetórias. A noção de família é apresentada de forma aberta e contextual, seguindo as pistas oferecidas pelos próprios interlocutores de pesquisa quanto aos sentidos a ela atribuída, uma vez que não tenho intenção de defini-la de antemão. A partir da reflexão sobre o usuário e seu mundo social, suas relações intersubjetivas e a vida social da pedra de crack, apresento também os esgarçamentos desses laços de família que se dão em um cotidiano cujo convívio pode se tornar violento, opressivo e marcado por desconfianças. Tais distanciamentos da pessoa que consome crack e sua família de origem e as relações materiais e sociais em seus cotidianos propulsionam movimentos urbanos e novas habitações na rua, em instituições, na prisão. Nesses movimentos a noção de família se atualiza, uma vez que novos vínculos se formam (alguns geram, inclusive, filhos), tornando clara a necessidade de repensar algumas concepções usuais (e estruturantes) associadas a esse universo: a de que essas pessoas lidam somente com desagregação e perda. Busco também refletir sobre o Estado, que está presente tanto na repressão como em medidas públicas de “cuidados” aos usuários de crack, que atua também na esfera legislativa: contribuindo, assim, para a formação de um certo imaginário, para a legitimação e manutenção de certas noções sobre essas relações familiares. Por fim, de forma a refletir sobre tais relações busco pensar sobre a noção compartilhada de maternidade nesse contexto social, sobretudo nos casos de mães que consomem crack.
Crack, casa e família: Uma etnografia sobre cuidados, (des) afetos e emoções.
Tipo de material
Dissertação Mestrado
Autor Principal
Braz Kirk de Sanctis, Raiza
Sexo
Mulher
Orientador
Key Tambascia, Christiano
Ano de Publicação
2018
Local da Publicação
Campinas
Programa
Antropologia
Instituição
UNICAMP
Idioma
Português
Palavras chave
Crack
Família
Estado
Resumo
Disciplina
Método e Técnica de Pesquisa
Qualitativo
Área Temática
Referência Espacial
Cidade/Município
São Paulo
Macrorregião
Sudeste
Brasil
Habilitado
UF
São Paulo
Cidade/Município
Sorocaba
Macrorregião
Sudeste
Brasil
Habilitado
UF
São Paulo
Cidade/Município
Campinas
Macrorregião
Sudeste
Brasil
Habilitado
UF
São Paulo
Referência Temporal
N/I
Localização Eletrônica
https://repositorio.unicamp.br/acervo/detalhe/1029706