Vai dar samba: o discurso amoroso do samba e a posição sujeito-mulher

Partindo da premissa de que o samba é uma manifestação cultural de bastante expressão no Brasil, em especial no Rio de Janeiro e em São Paulo, analisar seu discurso enquanto uma forma de construção e circulação de sentidos torna-se relevante. Nesse contexto, é possível observar no âmbito discursivo o processo de construção de sentidos que dependem das posições ideológicas em jogo na constituição dos dizeres. De modo a atender a essas demandas, a pesquisa em questão tem por objetivo analisar o modo como se constituem os sentidos acerca da mulher em letras de samba. Mais especificamente, tomamos como ponto de partida de análise, via Pêcheux (1969), as formações imaginárias projetadas para a mulher enquanto parte de um relacionamento amoroso com um homem, considerando a imagem que esse homem inserido nessa relação faz de si mesmo e do outro, que é no caso, uma mulher. Analisamos, assim, como as formações imaginárias de homem e de mulher são construídas, e que posições- sujeito são atribuídas à mulher no discurso amoroso do samba. A teoria feminista comparece como uma perspectiva feminina de olhar para a mulher e para os discursos a ela referentes. O discurso do samba não é apenas o corpus desse trabalho de pesquisa, mas também se estabelece como condição de produção para discursos relativos à mulher, ao materializar discursos da sociedade patriarcal brasileira. Com vistas a traçar tal percurso, lançamos mão da Análise de Discurso Pêcheuxtiana como teoria e metodologia, uma vez que entendemos que os sentidos têm uma história e só podem ser compreendidos em relação à materialidade linguística e às suas condições de produção. Com as análises, buscamos mostrar como se constituem os efeitos de sentido para as mulheres no discurso do samba, que por sua vez, entrelaçam-se aos dizeres sobre os homens nas letras de pagode romântico que compõem o nosso corpus. Nosso percurso nesta pesquisa permitiu-nos constatar que, no âmbito do samba, a posição-sujeito mulher constitui-se enquanto tal em relação à posição-sujeito homem, para quem é projetada no dizer a imagem do malandro, perpetuando, assim, o discurso machista.