Por meio de extensa investigação empírica empreendida com jornalistas profissionais que atuavam no estado de São Paulo entre dezembro de 2015 e janeiro de 2017, a presente tese é conduzida por dois objetivos centrais:
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Compreender como a identidade profissional dos membros desta esfera do mundo do trabalho é reconfigurada à luz de um cenário de reestruturações nas organizações de mídia, de mutações em seus modelos de gestão e de incorporação de novas tecnologias de comunicação e informação (TICs) nas redações.
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Aprender como os jornalistas lidam com as condições de trabalho às quais estão submetidos e atribuem significado aos sofrimentos experimentados em suas trajetórias.
O procedimento metodológico adotado nesta pesquisa envolveu uma triangulação de métodos quantitativos e qualitativos, englobando a aplicação de dois surveys, a realização de 15 entrevistas semiestruturadas e a análise de conteúdo de 102 matérias veiculadas em meio digital que discorriam sobre as mutações no mundo do trabalho dos jornalistas.
Os resultados obtidos pela investigação evidenciam:
A) A alta rotatividade dos profissionais nas redações, somada à precarização ascendente dos mais experientes no setor, criando obstáculos à socialização em uma comunidade de trabalhadores;
B) Uma corrosão de princípios éticos legitimados pelo campo jornalístico em benefício à maximização dos lucros provenientes de receitas publicitárias;
C) O patente descrédito atribuído aos mecanismos de ação coletiva e a sistemática recusa dos profissionais em se reconhecerem como membros de uma classe trabalhadora;
D) O nexo entre a progressiva feminização no setor e uma ascendente precariedade laboral que acomete mais incisivamente as comunicadoras;
E) A recorrência sistemática de situações de assédio moral, injustiças e de infração à ética profissional nas redações, que, atreladas a uma ausência de experiências de reconhecimento no trabalho, contribuem para o surgimento de patologias, ao desestímulo com a carreira e aos esforços recorrentes de jornalistas por tematizarem o sofrimento experimentado em suas rotinas produtivas.