Os esportes de aventura trazem como característica principal os elementos do desafio, do risco e do transgressor e, por isso, sua associação a contracultura, anarquismo e rebeldia são as marcas registradas desses esportes. Tendo sua origem nos EUA, o skate nasce de uma alternativa aos surfistas em dias sem ondas. Sua chegada ao Brasil preservou a modalidade "downhill", que consistia em descer as ladeiras asfaltadas como se fossem ondas. Desde a década de 1960, o skate vem ganhando novos adeptos, novas modalidades e dinâmicas, atingindo seu ápice, enquanto esporte, a partir do reconhecimento como esporte olímpico nos Jogos Olímpicos de 2020.
Logo, as praças, parques, estacionamentos e áreas abertas com pisos de concreto e/ou asfalto se tornaram áreas de prática de uma nova modalidade "street" que utiliza os equipamentos urbanos. Após a fase da proibição, em 1988, na cidade de São Paulo, sob a alegação de ser uma prática insegura, o skate ganhou espaços públicos e privados destinados à sua prática. Alguns praticantes da modalidade entenderam esses espaços como “prisões” e, com isso, sentiram-se cerceados ao uso dos espaços urbanos públicos. As formas de apropriação desses espaços por parte dos praticantes de skate traziam questionamentos quanto à depredação de equipamentos públicos e/ou privados, bem como à discriminação pelo comportamento expresso pelas linguagens, vestimentas e músicas adotadas pelos mesmos, gerando um conflito entre as gerações de praticantes de skate nas formas de apropriação desses espaços.
Buscando compreender esses conflitos e o quanto eles influenciam nas formas de apropriação dos espaços urbanos públicos e/ou privados destinados ou não à prática do skate na modalidade “street”, esta dissertação utilizou como referencial teórico as discussões sobre as cidades e os espaços urbanos públicos de lazer; o lazer; a história do skate; conceitos de tribos e grupos identitários, bem como trabalhos com temas semelhantes desenvolvidos em outras regiões. Como pesquisa de campo, utilizou-se da etnografia através da observação participante, com a aplicação de questionários semi-estruturados e perguntas abertas, utilizando um recorte geográfico compreendido por um circuito que perpassa o centro histórico de Vitória-ES. Os dados obtidos apontaram para um conflito interno, entre os próprios praticantes de skate, mais expressivo do que os conflitos com outros usuários desses mesmos espaços, levando à compreensão da existência de um conflito de gerações e das diversas formas de se entender a prática do skate, desde um simples hobby, passando por um estilo de vida até sua prática profissional.