Idealizações e Tensões na Construção de Piracicaba Moderna

Investiga a cidade de Piracicaba nos anos 50 do século passado. O interesse foi despertado tanto pelas pesquisas sobre a região de Piracicaba nas quais o autor teve a oportunidade de participar, como pelas condições de vida que a cidade oferecia à época da pesquisa, provocando manifestações saudosas sobre as condições passadas. Isto sugeriu a seguinte pergunta: quais as condições favoráveis de vida a cidade ofereceu e que já não mais oferecia? Alguns trabalhos científicos sobre a agroindústria açucareira na região e os registros ou lembranças dos memorialistas piracicabanos oferecem elementos para a resposta, ao menos em parte à indagação, reportando à década de 1950, período lembrado e divulgado pela imprensa como uma fase promissora para a cidade. A presença das indústrias e a expansão urbana inseriam a cidade naqueles anos no movimento de modernização que caracterizava o país. Paradoxalmente, a imprensa registrava várias imagens da cidade evidenciando os marcos dessa modernização assim como evidenciava espaços históricos dessa cidade, sugerindo que essa cidade enfrentava de forma peculiar o seu progresso, ou seja, mantinha ainda bem viva a sua identidade histórica. Que aspectos da cidade conferiam-lhe identidade e peculiaridade? Para responder a esta pergunta a pesquisa identificou o seu rio com águas e peixes abundantes, a sua origem agrária, a fertilidade das suas terras intensamente divulgada não só pelo seu perfil policultor como pela estabilidade social que a pequena propriedade assegurava, a solidariedade das elites patronais que minimizava as tensões decorrentes das relações capital-trabalho com o oferecimento de uma "ousada" assistência social, a caridade e a filantropia do seu povo sempre disposto a auxiliar os mais necessitados, destruindo-se a moldura pobre da cidade, etc... Entretanto a pesquisa apontou que a cidade, circunscrita à modernização desse período produziu graves problemas com conseqüências perceptíveis até os dias atuais, desafiando os piracicabanos a reverem suas intervenções concretas e a encontrar na cidade novos conteúdos simbólicos. A partir dos anos 1950 a "Cidade Noiva" não pôde sustentar a imagem idealizada a partir dos seus recursos naturais que lhe assegurava a condição de pureza. Essa data assinala o momento em que a "Noiva da Colina" teve para sempre a sua imagem maculado pela nódoa do progresso.