A presente etnografia se destina a uma investigação das lutas identitárias entre os góticos na cidade de São Paulo. Com o foco em compreender as criações culturais no cerne das disputas simbólicas, a pesquisa tem como objetivo investigar as relações de sociabilidade e os processos culturais na contemporaneidade, envolvendo os sentidos atribuídos às relações e ao espaço material da cidade por meio das interações e das práticas culturais, no contexto do agrupamento dos góticos na metrópole paulistana.
Por meio da compreensão da “cidade” enquanto um sistema cultural responsável por colocar atores sociais culturalmente heterogêneos em contato, tornando a “cidade viva”, processual e contextual, a etnografia se baseia nas chaves analíticas da antropologia da cidade, mobilizando os conceitos de “cidadino”, “situação”, “rede”, “fronteiras” e “lugares”, observando as interações de góticos nos espaços de sociabilidade.
“Geração”, “moral” e “consumo” são os principais marcadores identitários agenciados nos processos de interação entre os góticos, atribuindo sentidos às relações de “proximidade” e “distância” às experiências urbanas dos góticos em São Paulo. As lutas identitárias revelam uma relação nostálgica com o espaço urbano, fundamental para “ser gótico” na década de 1990 e que atualmente se expressa com novos sentidos, agenciados pelos góticos da nova geração, estabelecendo uma relação estratégica com o uso dos espaços da cidade, por meio de encontros organizados no ciberespaço, abrindo as fronteiras de identificação com o gótico e levantando as questões a respeito da diversidade e da representatividade.
Também foi identificada uma relação de resistência, na qual se defendem “sentidos do consumo” representativos da “identidade gótica”, relacionada como um processo de “esvaziamento”, e expressa nas práticas de consumo e na apropriação do espaço urbano. Por meio do processo de disputas identitárias, os góticos criam uma cultura urbana gótica de São Paulo, que atribui sentido à cidade gótica.