Nesta tese, parte-se da figura do nóia, apreendida por mim como uma categoria, a um só tempo, de acusação e de assunção que agrupa apenas um segmento muito particular dos usuários de crack: aqueles que, por uma série de circunstâncias sociais e individuais, desenvolveram com a substância uma relação extrema e radical, produto e produtora de uma corporalidade em que ganha destaque a abjeção. Se da perspectiva das interações concretas trata-se de uma categoria bastante plástica; é instigante o fato de que tal plasticidade some quando se fala publicamente do uso de crack: imediatamente é essa figura que emerge e justifica todo o aparato repressivo, assistencial, religioso, midiático, sanitário e moral. Portanto, é o corpo do nóia que radicaliza a alteridade, na medida em que materializa um tipo social fundado a partir da exclusão. Uma vez nessa condição, evoca limites corporais, sociais, espaciais, simbólicos e morais, bem como impulsiona a criação de gestões assistenciais e policialescas que visam tanto recuperá-lo quanto eliminá-lo. Considerando a permeabilidade das fronteiras corporais e suas conexões com processos sociais e simbólicos, o objetivo central da tese é, portanto, mostrar empiricamente (a partir da etnografia realizada entre os anos de 2008-2010 nas cidades de Campinas e de São Paulo) a potencialidade deste definhamento corporal e da produção desses corpos abjetos. Argumento que tais corpos se constituem na necessária interface com a substância, os espaços de uso, as redes de solidariedade e prestação mútua, os objetos necessários para o consumo, os atores sociais envolvidos no comércio, no consumo e na prevenção de danos decorrentes desse abuso e as políticas urbanísticas, assistenciais, sanitárias e repressivas. Menos que focar nas experiências dos usuários, mas tendo-as em conta, os corpos abjetos aqui em destaque serão observados porque produzem gestões, territorialidades e alteridades.
Corpos abjetos: etnografia em cenários de uso e comércio de crack
Tipo de material
Tese Doutorado
Autor Principal
RUI, Taniele
Sexo
Mulher
Orientador
PONTES, Heloisa André
Ano de Publicação
2012
Local da Publicação
Brasil
Programa
Antropologia
Instituição
UNICAMP
Idioma
Inglês
Palavras chave
Antropologia urbana
Crack (Droga)
Drogas - Aspectos sociais
Corpo
Brasil - Política social
Resumo
Disciplina
Área Temática
Referência Espacial
Cidade/Município
Campinas
São Paulo
Macrorregião
Sudeste
Brasil
Habilitado
UF
São Paulo
Referência Temporal
2008-2010
Localização Eletrônica
http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/280382