Esta pesquisa é o mapeamento do break na cidade de São Paulo, uma dança que surgiu na década de 70 nos Estados Unidos a partir da tensão presente nas relações de raça e de classe e que faz com que os porto-riquenhos e negros criassem um estilo de dança no qual fosse possível trazer para o visível e o audível o que estava na ordem da sensação. Antes de ser uma dança, o break é a faixa instrumental do funk na qual são valorizadas as batidas e as linhas de baixo. A forma diferenciada pela qual, garotos e garotas dançavam nessa parte do funk. Eles e elas passaram a ser identificados como b.boys e b.girls, nome dado por DJ Kool Herc, um dos jamaicanos, que imigrou para os Estados Unidos na década de 60, e produzia as Block Partie, (festas de quarteirões), embaladas por soul, funk, jazz e músicas latinas no bairro do Bronx, em Nova York. Junto ao surgimento do break, cria-se um novo ritmo musical, proveniente da junção de samples de ritmos do hip-hop, do funk e do electro, o break beat. Essa música híbrida foi criada pelo próprio Kool Herc, e tem múltiplas variações. Essa modalidade de dança foi acoplada ao movimento hip-hop e nele ganhou forma. Nessa cartografia houve a necessidade de perscrutar minimamente os trajetos da configuração do protest song, movimento iniciado nos estados Unidos, mas que deixou seus rastros em várias diásporas negras, em especial no Brasil. Não é, no entanto, uma tentativa de retorno ao arcaico, e sim, de traçar linhas tênues do que chamei, provisoriamente, de ampliação da militância, a qual pode ser definida sugestivamente como fusão da música e da militância que cria uma potente malha-ardilosa na convocação dos corpos, da subjetividade e da vida, especialmente da população negra. No break a palavra é transformada em movimento de corpos com suas velocidades, gingas e saltos. Nisso tem-se forjado um território minimamente consistente de existência: são memórias corporais que estão se constituindo. Há três espaços públicos onde o break se manifesta: a roda (espaço de descontração), o racha (espaço de disputa) e o palco (espaço cênico). Não é somente a configuração do tipo de espaço físico que diferenciará a dança, mas, sobretudo a pré-disposição de corpos dos dançarinos. No break houve uma explosão das categorias de raça e de classe, pois um b.boy e uma b.girl, só são pela capacidade de dançar. Há uma diversidade de raças e de classes e não foi sentido conflitos entre elas. Essas categorias encontram-se, ainda, bem marcadas dentro do hip-hop, mas no que se refere à questão gênero, está, ainda travada e evidencia uma concepção de mulher marcada não por uma diferenciação, mas por desigualdade. No entanto, há um tremor anunciado por parte das b.girls para abalar o atual desenho das representações no break em São Paulo. É um devir-b.girl que se anuncia, um inconsciente que protesta, um corpo que grita e que se recusa a ceder mais uma vez. Começa-se a formar elos com outros corpos, num processo revolucionário que pretende alterar a cartografia dominante no break. Elas estão fazendo a vida break-ar na forja de outro croqui urbano.
Break-ar a vida: processos de subjetivação de jovens negros por meio da dança na cidade de São Paulo
Tipo de material
Dissertação Mestrado
Autor Principal
Santos, Wanderley Moreira dos
Sexo
Homem
Orientador
Rolnik, Suely Belinha
Ano de Publicação
2009
Local da Publicação
São Paulo
Programa
Psicologia Clínica
Instituição
PUC/SP
Idioma
Português
Palavras chave
Negro
Dança
Devir
Subjetividade
Corpo
Resumo
Disciplina
Área Temática
Referência Espacial
Cidade/Município
São Paulo
Macrorregião
Sudeste
Brasil
Habilitado
UF
São Paulo
Referência Temporal
1970-2000
Localização Eletrônica
https://tede2.pucsp.br/handle/handle/15836