Urbanização e Fragmentação: cotidiano e vida de bairro na metamorfose da cidade em metrópole, a partir das transformações do bairro Limão

Este estudo problematiza a entidade bairro como unidade de vida e de relações no processo de urbanização e industrialização. Indaga sobre o estatuto teórico do bairro no processo de modernização da sociedade, sob a premissa de que "cidade" e " bairro", em simbiose, são enredadas no processo de modernização mantendo como se fossem fios, certas continuidades. São as continuidades expressas em leis, em regulamentos, em hábitos, crenças, valores ..., que vêm de um outro tempo histórico. Por isso, o exame invertido daquilo que no âmbito do cotidiano é dado por estabelecido, mostrou-se um caminho muito fértil para discutir o processo de urbanização. Os bairros funcionaram como um suporte "doméstico", necessário do processo de industrialização - urbanização. Sob o ideário do progresso material, a própria cidade se opunha e se impunha com muita força aos seus bairros. No Bairro do Limão, ainda muito aquém das estipulações do Estado e do mercado, nas franjas da cidade que já tinha bancos, iluminação elétrica, vitrines e seus poetas, estava sendo tecida uma trama que envolveria caipiras e imigrantes, além dos migrantes nacionais, num enredo que se estendeu talvez por perto de cem anos. De modo intersticial foi sendo forjado um tempo próprio do Bairro, tempo comum e cotidiano, no qual as dádivas contavam como desafio e prestígio. Nesse contexto explodiu a festa profana: o futebol de bairro em São Paulo. Condição para que a espontaneidade pudesse ainda aparecer porque havia algum tempo não absorvido como tempo social, além de muito espaço. Enfim, a funcionalização abstrata do tempo transformado em tempo de trabalho e equivalendo a salário consolidava uma economia de trocas. Era a formação social capitalista que integrava a cidade e os bairros na conformação da metrópole.