Esta dissertação tem a pretensão de trazer discussões acerca da relação entre religião e homossexualidade, com enfoque nas recentes igrejas inclusivas – também conhecidas como igrejas gays. Essas igrejas têm como principal objetivo atender às demandas religiosas de um público específico: o público LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros) cristão.
Minhas investigações se concentraram em um grupo religioso vinculado a uma dessas denominações “inclusivas”, conhecida como Comunidade Cristã Nova Esperança Internacional (CCNEI), especificamente em uma célula religiosa na cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul. Este grupo atua em Pelotas desde 2015 e faz parte de um empreendimento missionário da Igreja Comunidade Cristã Nova Esperança Internacional, com sede mundial no estado de São Paulo, que visa a expansão e proliferação de uma teologia “inclusiva” pelos estados brasileiros.
O objetivo geral da pesquisa é compreender se os rituais pentecostais (louvor, orações em línguas, óleo ungido, culto da fogueira e Santa Ceia) realizados na CCNEI de Pelotas permitem que homossexuais sejam reintegrados ao sagrado evangélico. Além disso, analiso as trajetórias religiosas dos frequentadores e como estas foram marcadas por proibições, afastamentos e conflitos com lideranças religiosas avessas às relações entre pessoas do mesmo sexo.
Os rituais, que aconteciam com regularidade, eram importantes para a interação e socialização do grupo com familiares e amigos. As simbologias e seus significados engendram suas ações, não apenas no momento do ritual, mas também em suas vidas cotidianas, atuando como superação de conflitos e aflições. Para alguns frequentadores, o poder do ritual representava o que eles acreditavam, produzindo significações que conduziam suas vidas, relações sociais, pessoais e emocionais. Para outros, apesar dessas práticas funcionarem como uma reintegração temporária ao mundo sagrado, não eram suficientes para manter um vínculo duradouro de pertencimento ao grupo.
A pesquisa de cunho etnográfico, realizada com o grupo em Pelotas, teve início em 2017 e finalização em 2018, período no qual acompanhei e observei sistematicamente os cultos e eventos promovidos pela célula religiosa, utilizando técnicas de pesquisa como observação participante e entrevistas.