O crime e a prisão constituem os objetos de estudo deste trabalho. Procura-se, no entanto, perceber tais objetos e partir do um ponto de vista considerado ilegítimo pela sociedade: a ótica do próprio criminoso, no momento em que se encontra preso. As variadas discussões sobre o tema, por mais "progressistas" que sejam, têm sempre apenas colocado numa nova roupagem, velhas concepções sobre os criminosos e a prisão, concepções estas que em geral reproduzem a versão da ideologia dominante da sociedade, difundida pelo aparelho judiciário. É na perspectiva de pensar o tema através da outra versão, que este trabalho procura se desenvolver. Discute-se aqui não só a versão do criminoso sobre o mundo do crime e suas formas de manifestação na prisão como também as formas pelas quais sua consciência capta a situação num contexto mais amplo, em que sua origem social representa um papel fundamental na sua identificação enquanto delinqüente. O trabalho está dividido em três capítulos, sendo que o primeiro trata basicamente da relação estabelecida pelo pesquisador no local onde se desenvolveu a pesquisa - a Casa de Detenção de São Paulo. Há uma preocupação de considerar o trabalho de campo realizado na prisão como parte integrante da pesquisa e fundamental para a interpretação dos dados. Nesse sentido, faz-se uma exposição não só do modo como se conseguiu entrar na prisão como das condições e limitações impostas ao pesquisador no seu relacionamento com os diversos componentes dessa prisão: a diretoria, os funcionários e principalmente os presos. O segundo capítulo constitui o cerne do trabalho: partindo da percepção dos presos, procura-se desvendar uma série de aspectos próprios do mundo do crime na prisão, e de suas implicações na relação entre o criminoso e as demais instituições sociais. O terceiro capítulo, de caráter mais geral e conclusivo, procura fazer a ligação entre a concepção dos presos e o modo como a prisão, o crime e a delinqüência são vistos por representantes da sociedade brasileira. Através das diversas críticas ao funcionamento da prisão percebe-se, na verdade, sua adequação à função social de manutenção da delinqüência. A delinqüência, por outro lado, é pensada não como conjunto de atributos próprios daqueles que infringem a lei, mas como conjunto de atributos dos grupos sociais mais pobres da sociedade. Pensa-se a condenação à delinqüência como forma de controle e sujeição de grupos sociais inteiros que por razões que não tem muito a ver com a infração de leis, são colocados permanentemente sob suspeição. Esta suspeição justificaria por sua vez uma vigilância constante sobre toda essa população, em nome da perseguição ao crime. Por fim a consideração da função mantenedora do crime coloca a questão das implicações políticas e econômicas dessa manutenção. Toma-se, pois, a questão pelo seu avesso: em vez de pensar mais uma vez nas dificuldades de combater o crime, a proposta é pensarem-se as razões pelas quais o crime não pode acabar.
Mundo do Crime: a ordem pelo avesso
Tipo de material
Dissertação Mestrado
Autor Principal
Ramalho, José Ricardo
Sexo
Homem
Orientador
Cardoso, Ruth Correia Leite
Ano de Publicação
1978
Local da Publicação
São Paulo
Programa
Antropologia
Instituição
USP
Página Inicial
1
Página Final
219
Idioma
Português
Palavras chave
Criminalidade
Violência
Repressão
Segregação
Resumo
Disciplina
Área Temática
Referência Espacial
Região
Região Metropolitana de São Paulo
Cidade/Município
São Paulo
Macrorregião
Sudeste
Brasil
Habilitado
UF
São Paulo
Referência Temporal
(N/I)