Os metalúrgicos da região do ABC Paulista sofreram, desde o golpe militar em 1964, de um lado, a repressão política que impossibilitava a organização dos trabalhadores, tanto sindical como grevista; e de outro, o arrocho salarial e a carestia, causados pela política econômica do governo que, nesta época, era quem determinava os índices de reajuste salarial. Paralelamente, durante a década de 70, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, progressivamente, adotou um discurso de aproximação aos trabalhadores. Ainda, muitos movimentos populares se organizaram neste período na Grande São Paulo, articulando-se com os movimentos sindicais. Tais processos desencadearam uma série de greves de trabalhadores do setor metalúrgico no ABC Paulista, em um ciclo que começou em 1978 e se estendeu até meados da década de 80. As greves marcaram a fundação do que se chama hoje de novo sindicalismo, além de ter raízes na fundação da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e do PT (Partido dos Trabalhadores). A presente pesquisa tem por objetivo analisar, a partir de uma perspectiva psicossocial, a memória que trabalhadores metalúrgicos do ABC Paulista têm das greves, bem como dos processos que a antecederam. A psicologia social, ciência que foca o homem enquanto participante de grupos ou coletividades, que vive em companhia dos outros, é um campo do conhecimento adequado para a análise de fenômenos políticos, como foram as greves dos metalúrgicos do ABC. O recurso à memória, por meio de depoimentos, traz pistas de como se deu a participação do trabalhador na greve, assim como da relação dele com as pessoas envolvidas (colegas, sindicalistas, patrões). Foram entrevistados cinco metalúrgicos que participaram das greves referidas, e um que não participou das greves, mas viveu o momento em que elas aconteceram na condição de trabalhador metalúrgico. Foram feitas entrevistas semi-dirigidas, que privilegiaram a narrativa dos fatos vividos. A análise das entrevistas foi feita seguindo uma linha qualitativa, e foi dividida em quatro eixos, expostos a seguir: 1) Sobre os significados das greves, estes apareceram de múltiplas formas. As greves apareceram relacionadas à violência, à conquista de direitos e ao resgate de uma dignidade perdida; 2) A partir dos depoimentos percebe-se uma construção coletiva das memórias das greves, principalmente em relação aos acontecimentos com participação de grande número de pessoas, como as grandes assembleias. Cada depoente, no entanto, destaca o que foi marcante para si. E as narrativas de acontecimentos que tiveram uma participação ativa do depoente têm importante destaque nas entrevistas; 3) Nas trajetórias de formação política dos grevistas aparece com destaque a importância do sindicato e dos movimentos sociais, como o ligado à Igreja Católica. A mediação de tais movimentos coletivos exerce papel fundamental na conscientização sobre a organização política e social relacionada às greves; e 4) O entrelaçamento temporal nos depoimentos mostra que é inevitável a comparação dos fatos lembrados do passado com o momento presente. As avaliações das consequências das greves no presente e as perspectivas políticas para o futuro estão ligadas ao que o trabalhador construiu como horizonte utópico.
Memórias de metalúrgicos grevistas do ABC paulista
Tipo de material
Dissertação Mestrado
Autor Principal
POGIBIN, Guilherme Gibra
Sexo
Homem
Orientador
BOSI, Eclea
Código de Publicação (DOI)
10.11606/D.47.2009.tde-18092009-135712
Ano de Publicação
2009
Programa
Psicologia Social
Instituição
USP
Idioma
Português
Palavras chave
Greves
Memória social
Movimentos sociais
Operários
Psicologia Social
Resumo
Disciplina
Área Temática
Referência Espacial
Região
Região Metropolitana de São Paulo
Macrorregião
Sudeste
Brasil
Habilitado
UF
São Paulo
País estrangeiro
Brasil
Referência Temporal
1978-1985
Localização Eletrônica
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