Festejando a Virgem Mãe-Terra numa Pátria Estrangeira: devoções marianas num contexto de permanências e mudanças culturais entre os imigrantes bolivianos em São Paulo

Este trabalho analisa o processo de recriação cultural dos imigrantes bolivianos em São Paulo, a partir de suas festas devotas realizadas no espaço da Pastoral do Migrante, bem como fora dele. Entre estas festas destacam-se as de caráter mariano, cujo ciclo é recriado anualmente no mês de agosto, em honra à Virgem de Copacabana, a padroeira da Bolívia, e à Virgem de Urkupiña, padroeira de Cochabamba. Nelas, as práticas do sistema de crença católico se expressam juntamente com práticas vinculadas ao antigo sistema andino de crenças, como o culto à Pachamama (Mãe Terra), conferindo a estas festas uma especificidade e dinâmica cultural próprias. Como um fato social total, as festas acionam uma multiplicidade de relações de trocas materiais e simbólicas, bem como relações sociais de aliança e de disputa por prestígio e poder, engendrando uma dinâmica particular ao processo de recriação cultural desses imigrantes, uma vez que o cenário usado para tal propósito é o espaço eclesial da Pastoral do Migrante. A partir desta história particular, a pesquisa procura mostrar o que permanece e o que muda em tal processo, buscando entender quais os significados que estas práticas festivas têm para os imigrantes bolivianos que, através delas, procuram recriar suas identidades num contexto de diferenciação e/ou estigmatização, bem como para a Pastoral do Migrante da qual eles fazem parte.