Cães e gatos como pacientes: uma etnografia de um hospital veterinário

Esta tese busca investigar as relações contemporâneas entre humanos e outros animais a partir do contexto de cuidados veterinários. Para tanto, realizou-se pesquisa etnográfica em um hospital veterinário privado na cidade de São Paulo. Por meio da observação da rotina hospitalar, busca-se entender como as relações entre humanos e animais os constituem mutuamente e a forma pela qual a figura do médico veterinário se torna, cada vez mais, fundamental como um mediador privilegiado nessa relação. Tendo como recorte a medicina veterinária de pequenos animais, busco argumentar que a preocupação com a saúde animal, aqui especificamente se referindo à de cães e de gatos, se embasa em alguns elementos, dentre eles: a vinculação emocional das pessoas com seus animais, a constituição do animal como sendo uma “vida frágil” ou um “ser indefeso” que necessita de cuidados médicos constantes ao longo da vida e, vinculado a isso, a atribuição de responsabilidade por parte das pessoas em prover tais cuidados. Nesse contexto, têm-se um engajamento cada vez maior com os serviços, os produtos, as tecnologias e os saberes veterinários, de modo que as pessoas se submetem a um processo de proto-profissionalização, isto é, buscam informações e aprendem a estar constantemente atentas aos sinais do corpo e do comportamento do animal que indiquem que ele possa ter algum problema de saúde, sabendo o que e como reportá-los ao veterinário. Ao passarem a ser objetos de cuidados médicos, certos aspectos da vida de cães e gatos passam a receber atenção por parte das pessoas e dos veterinários, tais como as noções de: saúde e doença, dor e sofrimento, qualidade de vida e longevidade, vida e morte. Nessa nova configuração, está em curso um desenvolvimento específico da área de medicina veterinária de pequenos animais na qual o seu caráter médico é enfatizado tanto enquanto forma científica de produção de conhecimento quanto em relação aos profissionais que a praticam.