Fazer festa é uma guerra: relações entre vestidos, noivas, anfitriões e convidados na organização de casamentos

Tipo de material
Tese Doutorado
Autor Principal
Bueno, Michele Escoura
Sexo
Mulher
Orientador
França, Isadora Lins
Ano de Publicação
2019
Local da Publicação
Campinas
Programa
Ciências Sociais
Instituição
UNICAMP
Página Inicial
20
Página Final
245
Idioma
Português
Palavras chave
Casamento
Conflito social
Parentesco
Diferenciação
Consumo
Resumo

Uma festa de casamento não é ocasião qualquer. Organizada sob muita expectativa, cuidado e apreço, uma festa como esta é frequentemente descrita como a realização de um sonho de vida e não raro demanda anos para sua preparação. Extraordinária, feita para ser única, é produto de um intenso engajamento de seus anfitriões e, no Brasil, é também composta em relação direta a um mercado especializado em eventos que, por ano, tem movimentado mais de R$ 17 bilhões. Desde 2015, nessa pesquisa busquei compreender o que circula junto com o dinheiro nesse cenário. Aliando observação participante a entrevistas em profundidade, analisei o processo de organização de celebrações de casamento orçadas entre R$ 20 mil e R$ 300 mil em São Paulo (SP) e Belém (PA). No trabalho de campo, percorri diferentes lojas de vestidos de noivas pelos territórios do mercado paulista e, dali, somei noivas e noivos à minha rede interestadual de interlocutores. Já ao lado dos anfitriões da festa, acompanhei-os na rotina de preparação dos eventos, me inserindo em suas redes familiares e em diferentes ocasiões de interação com outros agentes do mercado. Nessa tese, apresento uma etnografia sobre as relações entre vestidos, noivas, anfitriões e convidados durante o processo de organização de casamentos. Dividido em duas costuras analíticas, o texto é fruto de um experimento antropológico que apostou nos conflitos como caminho de investigação sobre as relações. Cada capítulo persegue um conjunto específico de disputas: o embate entre preços e valores dos vestidos na concorrência do mercado; as fronteiras morais e corporais na produção material da noiva; as brigas entre anfitriões na batalha pelo comando da festa e dos limites da família e, por fim, as expectativas e as dívidas cobradas em retribuições dos convidados. Entre sacrifícios pessoais, financeiros e corporais, aqui evidencio que uma festa de casamento apenas se dá depois de um destacado e conflitivo processo de negociação. Nele, por um lado, as interações comerciais e o consumo de vestidos de noivas provocam reflexões sobre articulação entre gênero, raça e corporalidade em uma materialização de valor e distinção entre coisas e pessoas que se justapõem às dimensões de classe. E, por outro lado, os relatos íntimos sobre os preparativos da festa evidenciam as formas pelas quais as relações pessoais são espessadas ou diluídas em um parentesco feito na prática e por vinculações que são, contudo, permeadas por hierarquias. No tempo investido na preparação do evento, valores de coisas, de pessoas e relações estão sempre sendo reavaliados. E, concomitante à produção da festa, prestígios e reputações são forjados e manejados numa dinâmica em que reciprocidade e aliança não excluem também a produção de desigualdades.

Método e Técnica de Pesquisa
Qualitativo
Referência Espacial
Cidade/Município
São Paulo
Macrorregião
Sudeste
Brasil
Habilitado
UF
São Paulo
Cidade/Município
Belém
Macrorregião
Norte
Brasil
Habilitado
UF
Pará
Referência Temporal
N/I
Localização Eletrônica
https://repositorio.unicamp.br/acervo/detalhe/1088544