A reprodução do Estigma: sobre um (des) conhecido "lugar perigoso" da periferia de Manaus

Tipo de material
Dissertação Mestrado
Autor Principal
Silvia Adriana Lima Corrêa
Sexo
Mulher
Orientador
Fabio Magalhães Candotti
Ano de Publicação
2017
Local da Publicação
Manaus/Amazonas
Programa
Programa de Pós-graduação em Sociologia
Instituição
Universidade Federal do Amazonas - UFAM
Descrição Adicional
O estudo recebeu menção honrosa como a melhor dissertação de mestrado do Programa de Sociologia em 2018.
Esta análise trata do processo de estigmatização de áreas de moradia localizadas nas proximidades dos igarapés da cidade de Manaus, situando-o em uma escala global de relações de poder. É possível compreender de forma mais geral a estrutura das relações de poder e ao mesmo tempo identificá-las nas particularidades do processo de urbanização de Manaus e de seus espaços socialmente marginalizados.
Idioma
Português
Palavras chave
Periferias
Violência urbana
Política populacional
Bairros
Resumo

Esta dissertação se propõe a discutir os processos sociais inseridos nas diferentes etapas de deterioração da imagem de determinado lugar em relação ao seu conjunto. Seu objetivo é compreender como esses processos se dão em uma comunidade do bairro Petrópolis, referida neste texto pelo nome fictício “Santa Clara”, onde uma localidade de entorno de igarapé foi eleita o “lugar perigoso”. Propõe-se uma análise da construção histórica e social desse “lugar perigoso”, compreendendo-o, antes, tanto como um produto-fim de um amplo projeto societário neoliberal, cujas escolhas político-econômicas permitem a multiplicação de espaços de moradia precária no contexto urbano contemporâneo, quanto como gradação última em uma ordem macro de relações de poder e força, em que se tem a formação de grupos classificáveis, mais ou menos aceitáveis, no mundo social. O Bodozal, nome pelo qual é designado o “lugar perigoso” da comunidade Santa Clara, é um exemplo emblemático de como os simbolismos afetam de forma concreta a produção das realidades, tornando “verdades” informações que sequer requerem prévias reflexões para assim figurarem. A partir de uma análise relacional, observou-se dois grupos que se destacaram em campo antagonicamente: os moradores das ruas da parte alta da comunidade, associados à sua área “boa para morar”; e os moradores dos becos, na baixada, à margem do igarapé, residentes na localidade “degradada” da comunidade. As representações sobre o “lugar perigoso” em questão justificam-se por dois bons motivos. Primeiro, pelas condições materiais de moradia precária e pelo simbolismo imputado à ideia de “favela”, cujo modelo mental reporta às periferias das cidades centrais do país, projeção essa que faz com que a ficção se sobreponha à experiência diária do lugar localizado na periferia de Manaus. Segundo, pela posição dessa localidade no espaço social no contexto da cidade de Manaus, a saber, as margens de um dos igarapés que entrecortam o perímetro urbano da cidade, cujo significado socialmente construído é esmiuçado no decorrer desta dissertação. A confluência de tais condições sustenta, no plano simbólico, um processo de distanciamento e desumanização da imagem do morador desse tipo de localização, esses lidos socialmente e de forma generalizante como “bandidos”, “gente que não presta”, ainda que o cotidiano da localidade não apresente um quadro proporcional à expectativa sobre ela lançada. Ao mesmo tempo produz-se condições reais, cenário e roteiro perfeitos para a reprodução de práticas condenáveis socialmente ou, sendo mais direta, para a reprodução de práticas consideradas criminosas em contexto atual e que se fazem presente na localidade. À medida em que essas condições e julgamentos se reforçam por meio dos processos de comunicação, as ruas da parte alta se valorizam, em oposição à baixada que figura como espaço sem valor. Mas, se o jogo de distinção implica em relações de alteridade para obtenção de um posição privilegiada no mundo social, para os moradores da baixada essa dinâmica pode representar uma boa possibilidade para a fuga da desclassificação social. Então, da mesma forma que são julgados, os moradores da baixada também julgam a partir de critérios estabelecidos entre si, recorrendo aos critérios de diferenciação e reconhecimento em que tentam eleger os mais desclassificados em contexto local. O estigma territorial lançado sobre a localidade e todos seus efeitos concretos apenas se reforçam, paradoxalmente, por meio dos mesmos indivíduos que lhes estão sujeitos.

Disciplina
Método e Técnica de Pesquisa
Qualitativo
Área Temática
Referência Espacial
Brasil
Habilitado
Região
Região metropolitana de Manaus
Zona
Centro-sul
Cidade/Município
Manaus
Bairro/Distrito
Petrópolis
Macrorregião
Norte
Brasil
Habilitado
UF
Amazonas
Referência Temporal
2015-2017
Localização Eletrônica
https://tede.ufam.edu.br/handle/tede/7578