O Narcotráfico no Rio de Janeiro, sua Territorialidade e a Dialética entre Ordem e Desordem

O objetivo central do presente texto é discutir a crescente significância do tráfico de drogas na metrópole carioca, particularmente do ponto de vista sócio-político. para tanto o texto apresenta, após focalizar a dimensão propriamente (geo)econômica do narcotráfico no Rio, o processo denominado de fragmentação do tecido sócio-político-espacial da cidade, que se desenrola em grande parte sob influência direta ou indireta do crime organizado. Esse processo se caracteriza acima de tudo pela multiplicação de enclaves territoriais pela cidade - favelas controladas, territorializadas pelas organizações de traficantes -, mas igualmente pela tendência da classe média e da burguesia de buscarem refúgio em condomínios exclusivos, ápice da auto-segregação. Além disso, a fragmentação expressa-se através de efeitos colaterais da expansão do crime organizado como a crescente corrupção (da polícia, de políticos...), violência (conflitos entre traficantes e a política ou o Exército, além de guerras entre traficantes) e a deterioração do clima social (aumento do sentimento de insegurança, crescente desconfiança de todos em relação a todos). Desde o começo dos anos 80, quando o tráfico de drogas se consolida em muitas favelas cariocas, a influência do crime organizado só tem aumentado, e na esteira disso também a violência, esgarçamento do tecido social e a fragmentação do tecido sócio-político-espacial.