Estudo sobre vitimização por roubos no transporte rodoviário de cargas

O presente estudo tem por objetivo compreender os tipos e formas de vitimização por roubos de cargas no transporte rodoviário brasileiro. A discussão está centrada na vitimização dos condutores, analisando as formas de agressão, como também os processos que estruturam as práticas de responsabilização organizacional. Trata-se de uma pesquisa qualitativa na coleta e tratamentos dos dados, tendo como população estudada, caminhoneiros autônomos, motoristas de caminhão e caminhoneiros autônomos comissionados com e sem vínculos. A coleta de dados é fruto da observação direta, de entrevistas semiestruturadas e da análise documental de matérias publicadas em sites de notícias e no jornal Folha de São Paulo, entre os anos de 2000 a 2016. Retrata a estrutura do setor de transporte rodoviário, os tipos e a natureza das empresas que operam nessa atividade. Apresenta as categorias de condutores, mostrando as semelhanças, diferenças e particularidades existentes, bem como as relações estabelecidas com os gestores de frotas, focalizando na regulação que as empresas de seguro impõem para o cumprimento da atividade profissional. Relaciona o crescimento dos números de roubos de cargas com a atuação de organizações e redes criminosas. Os alvos preferenciais dessas quadrilhas são os veículos com cargas valiosas, de fácil escoamento no comércio ilegal e de difícil rastreamento das fontes de origem. A vitimização dos condutores está associada ao cumprimento da atividade de transporte e os processos sociais que incluem as práticas de responsabilização. A vitimização direta decorre das lesões provocadas pelas interações forçadas entre condutores e criminosos. Os tipos de agressões são de natureza psicológica e física, acompanhadas muitas vezes pela imobilização com retenção ou confinamento forçado dos condutores. Já a vitimização secundária resulta dos procedimentos de investigação e das consequências sobre a vida profissional e pessoal dos condutores. A apuração e punição dos delitos adotadas pelas policiais e empresas de seguros configuram um segundo nível de vitimização, causando danos materiais, decorrentes das perdas sofridas por ficarem impedidos de exercer a profissão, e morais por conta da humilhação sofrida durante a apuração dos sinistros.