O Próximo-Distante: análise do Projeto Pequenos Trabalhadores. Um estudo na favela do Parque Santa Madalena - São Paulo-SP

O Projeto Pequenos Trabalhadores - Centro de Juventude para crianças e adolescentes carentes da favela do Parque Santa Madalena, localizada na Zona Leste do Município de São Paulo - nasceu por influência do Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente "Mônica Paião Trevisan", com sede no bairro. As duas atividades têm suas raízes na Pastoral do Menor da Arquidiocese de São Paulo e na comunidade católica do bairro, marcadamente influenciadas pela reflexão da Teologia da Libertação. Tentativas de comunicação entre educadores e educandos que freqüentam o Projeto Pequenos Trabalhadores terminam, muitas vezes, em silêncio. Serão estes silêncios assentimento, concordância com a proposta do educador? Ou serão silenciamentos, vozes que se calam por imposição de argumentos abstratos, fora de seus horizontes, que não conhecem ou não têm como rebater? Esta perplexidade levou o pesquisador, também ele envolvido na condução deste Centro de Juventude, a um mergulho no universo socio-cultural e pessoal dessa população, alvo da intervenção social acima mencionada, para poder compreender aspectos de suas vidas e de suas aspirações e avaliar o impacto e eficácia dessas ações educativas. Em busca de respostas a estas questões, este estudo procura, primeiramente, caracterizar o tipo de intervenção social pretendido com o Projeto Pequenos Trabalhadores, resgatando aspectos de sua história e do universo de compreensão da realidade das pessoas que o conduzem. Para isso, colheu dados de entrevistas com educadores, tanto os da equipe do Centro de Defesa, quanto os do Projeto. Em segundo lugar, o pesquisador procurou conhecer mais profundamente a população-alvo desta intervenção, baseando-se em duas fontes de dados: a) a descrição etnográfica da favela do Parque Santa Madalena e b) entrevistas com as crianças, com os adolescentes e com suas mães. Os dados coligidos foram, ao serem analisados, delineando um quadro descritivo que permitiu compreender e sistematizar os diferentes aspectos que envolvem a história e a organização atual da vida desta população. Apesar de estarem próximos geograficamente, os grupos constituintes desta população organizam suas moradias e suas relações pelos "pedações" (MAGNANI 1984): subsistemas de vida social que apresentam certa independência uns dos outros e são, por vezes, até mesmo rivais. Os dados fazem emergir uma história que deixa entrever a condição de "sequestro da experiência" (GIDDENS 1993) de suas vidas, notadamente no que se refere à ocupação do espaço em que habitam. Há uma disputa - não declarada, mas explicita - pelo controle do espaço entre a população que aí vive, entrincheirada em suas moradias, contra os grupos organizados de traficantes de drogas que controlam os "espaços públicos" do "pedaço".