INTERAÇÕES AFETIVAS DE CRIANÇAS ABRIGADAS: UM ESTUDO ETNOGRÁFICO.

Os comportamentos de ser cuidado e de cuidar permeiam todas as nossas relações afetivas e possibilitam o desenvolvimento sócio-emocional. As crianças que sofrem maus-tratos devem ser encaminhadas para instituições responsáveis por garantir os direitos que lhes foram violados, buscando com isso devolver-lhes sua dignidade e promover um saudável desenvolvimento. Entretanto, o que se verifica, muitas vezes, é um despreparo destes abrigos para receberem as crianças. Desse modo, este estudo teve como objetivo observar as interações entre as crianças residentes em abrigo e suas cuidadoras. Foram participantes desta pesquisa 20 crianças de 10 meses a cinco anos e nove meses de idade, de ambos os sexos, de um abrigo para crianças e adolescentes, de uma cidade do interior do estado de São Paulo. A metodologia utilizada foi de cunho etnográfico. Estas crianças foram observadas duas vezes por semana, em encontros de uma hora e meia, durante três meses e meio. As informações observadas foram registradas em diário de campo pela pesquisadora na primeira meia hora de cada encontro e posteriormente, realizou-se o registro completo de cada encontro. Os resultados apontaram falta de preparo das cuidadoras para cuidarem das crianças, evidenciado em situações de hostilidade verbal e poucas ocorrências de carinho, palavras incentivadoras e contato físico. Ao mesmo tempo, notou-se que as crianças buscavam incessantemente a atenção, o colo e o carinho de outros adultos freqüentadores do abrigo, como os voluntários que desenvolviam atividades na instituição, bem como da pesquisadora que realizava este estudo. Depreende-se disto a necessidade de prevenir e alterar relações insatisfatórias entre cuidadores e crianças, promovendo um ambiente saudável para seu desenvolvimento.