Pesquisa Bibliográfica

  • Bertelli, Giordano Barbin

    O presente trabalho propõe-se a duas tarefas principais. Uma voltada ao exercício de experimentação de uma perspectiva sociológica apta ao questionamento de certa imagem que, em geral, se faz do social. E a outra, que se quer coerente com a primeira, ligada a um esforço de arrancar para apreendê-lo o fenômeno literário do universo da própria Literatura . De uma parte, buscou-se esboçar uma abordagem capaz de minimizar os efeitos reificantes que acompanham a concepção do social, sempre que posta sobre o primado da ordem, do estável e do sistêmico. De outra, o ensaio de uma leitura do texto literário que, em alguma medida, levou a repensar o estatuto dessa forma expressiva em relação às demais e, sobretudo, à discussão do lugar propriamente político ocupado pela estética literária nos litígios discursivos em torno da definição dos parâmetros da ordem e da vida social legítima . O foco analítico concentra-se nos procedimentos poéticos da Antropofagia de Oswald de Andrade, tomada em suas relações, por um lado, com o nacionalismo paulista elaborado durante a Primeira República e, por outro, com os regimes expressivos e performáticos dos grupos marginalizados, inscritos nos desdobramentos históricos da Abolição, da imigração e da expansão urbana de São Paulo em fins do século XIX e inícios do XX. Mediante a abordagem dos aspectos humorísticos e obscenos da escrita oswaldiana, discute-se a relação entre processo social, subjetivação e elaboração literária, como uma via que possibilita o acesso às relações entre estética e política, sem que se postule uma unilateralidade determinista da ordem social sobre a literatura e sem que se reduza a estética literária à instrumentalidade panfletário-política.

  • Cavalcanti, Maria Laura Viveiros de Castro
  • Magnani, José Guilherme Cantor


    Era preciso aproveitar ao máximo a estada em Manaus. O Seminário PROCAD terminava na sexta e a volta de toda a equipe da USP estava prevista para o sábado. Mas... havia a possibilidade de fazer duas incursões a campo, uma para observar o Peladão Indígena e a outra para o ritual da Tucandeira, entre os Sateré Mawé.  José Agnello tinha participado, na semana anterior, da preparação desse ritual na comunidade Sahu-Apé, num município próximo, Iranduba. E agora, justo na segunda-feira, estava programada a realização do mesmo  ritual de iniciação masculina na aldeia Y’apyrehyt, no bairro da Redenção, sob responsabilidade do tuxaua Moisés. Não dava para perder: não é sempre que se está em Manaus e é preciso aproveitar bem a dispendiosa viagem. Mudei o vôo, paguei a diferença de tarifa e bem cedo estava lá entre os moradores das duas comunidades vizinhas, Y’apyrehyt e Waikyhu, atarefados com os últimos retoques para a festa.

  • Groppo, Luís Antônio
  • Ribeiro, Maria Solange Pereira
  • Kropf, Simone Petraglia

    Trata dos engenheiros como grupo diretamente atuante na construção de um discurso que afirma a confiança no progresso como guia para regeneração da sociedade brasileira. O programa social de modernização estabelecido no Brasil na virada do século teve como sustentação ideológica as idéias positivistas que relacionavam o progresso, a ciência e a indústria, e investiam os cientistas da missão moral de conduzir a humanidade. No estudo do positivismo politécnico, é analisada a maneira pela qual a atividade científica se efz representar na sociedade brasileira valorizada como prática social específica, sob a égide de uma concepção de ciência construída em referência aos princípios comtianos. A institucionalização do ensino da engenharia marcou a década de 1870, destacando-se a criação da Escola Politécnica do Rio de Janeiro pelo Visconde do Rio Branco. Abriam-se os horizontes profissionais para a engenharia civil em face das novas demandas sociais oriundas do surto econômico da cultura cafeeira, do conseqüente crescimento urbano e sobretudo da expansão da rede ferroviária. A penetração das idéias de Comte nos cursos da Politécnica ocasionou a emergência de uma elite científica que, afirmando o carárter disciplinado e pragmático do seu saber específico, se opunha aos valores do passado, identificados na cultura livresca do grupo intelectual dominante dos bacharéis, declarando-os impotentes diante da complexidade do presente. Mobilizando-se pelo reconhecimento social da profissão de engenheiro e advogando as qualidade modernas de seu pensamento, os membros dessa nova elite intelectual reinvindicavam para si a direção legítima do processo político e social de modernização, pretendendo reeducar a sociedade por meio da ciência e estabelecer uma direção moral afinada com os seus interesses dominantes. O movimento de crítica ao positivismo questionou o seu caráter marcadamente utilitarista, propondo um novo projeto intelectual baseado na pesquisa pura, em nome da liberdade ilimitada da ciência. Denunciava-se um ensino privilegiador da ciência aplicada em detrimento da formação desinteressada voltada para a produção de conhecimentos originais. Com o objetivo de incentivar a produção e a difusão de estudos científicos de cunho original, foi fundada a Academia Brasileira de Ciências que não foi, entretanto, impermeável ao positivismo, pois os próprios positivistas foram sujeitos do processo de legitimação da instituição. O discurso pela independência cultural que mobilizava setores da intelectualidade brasileira desta época se traduzia entre os cientistas na campanha que levou à criação das universidades brasileiras a partir da década de 1930. Porém, a influência positivista se manteve presente, renovada de acordo com os rumos assumidos pelo processo de valorização da ciência neste momento. Os princípios da filosofia social e histórica de Comte permaneceram recorrentes, destacando-se a identificação do cientista como tipo social superior, normalmente comprometido com a civilização da sociedade e depositário da vocação para conduzí-la rumo ao progresso. Essa leitura do positivismo foi um suporte ideológico para a afirmação de uma ordem social burguesa no Brasil. Legitimados pela racionalidade positiva do saber científico, os engenheiros reconstruíam e normatizavam o espaço social, enquadrando a topografia urbana nos trilhos deste plano e fazendo-a expressão física e simbólica dos alicerces da modernidade. As áreas da medicina e da educação também adotavam medidas de mesmo cunho, integrando um projeto amplo de construção da nação através do progresso, implementando de forma marcadamente autoritária e elitista.

  • Perani, Cláudio

    Define salário mínimo como a remuneração do trabalho que possibilita a sobrevivência do trabalhador e sua família, em condições dignas de alimentação, saúde e moradia. Este princípio, no entanto, não é respeitado, pois, além de não considerar o sustento da família, o salário praticamente não atende nem mesmo às necessidades mínimas do indivíduo.

  • Elias, Cosme
  • Alessandro Dozena
  • Rodrigues Junior, Nilton

    Oswaldo Cruz, bairro do subúrbio carioca, transforma-se, a cada ano, em palco para a comemoração do Dia do Samba. O Dia do Samba, comemorado em dois de dezembro, foi instituído pela Lei nº 554 de 1964, e é de autoria do deputado Frota Aguiar em homenagem ao encerramento do I Congresso Nacional do Samba, ocorrido no Rio de Janeiro entre os dias 28 de novembro e dois de dezembro de 1962. Desde 1997, para marcar as comemorações do Dia do Samba, partem da estação terminal Dom Pedro II (Central do Brasil) cinco trens em direção à estação de Oswaldo Cruz, onde se realiza uma grande festa, repleta de rodas de samba e shows em três palcos, rompendo a noite e só terminando na manhã seguinte.  Esse evento “ferroviário e sambeiro” é conhecido como Trem do Samba. 

  • Lima, Ari

    O artigo desenvolve uma reflexão sobre a experiência do samba na Bahia, considerando aspectos sócio-antropológicos e etnomusicológicos deste gênero musical. Num primeiro momento, é feita uma revisão dos estudos sobre o samba no Brasil, apontando-se para a centralidade dos mesmos no samba produzido no Rio de Janeiro. Num segundo momento, baseando-se em pesquisa empírica, o autor desenvove uma discussão sobre sentidos atrelados ao samba, seja carioca ou baiano, que, ultrapassando sua dimensão musicológica, transformam o samba em discurso de seguna ordem e evento etnomusicológico onde estão vinculadas práticas musicais e culturais negras. O autor busca assim subsídios para reorientar a história do samba no Brasil, contrariar a idéia de que temos um nosso samba nacional, correlacionando o desenvolvimento regional de um gênero musical a questões como relações raciais, etnicidade, processos identitários e experiência musical.

  • VANUSA DA MOTA SANTANA

    Nesta dissertação empreendemos a proposta de, a partir da experiência migrante das personagens João Lopes, do romance O sampauleiro (1929), de João Gumes, e Nelo do romance Essa terra (1976), de Antônio Torres, tematizar a migração sertaneja para São Paulo nas obras em estudo. O percurso que transcorrerá esta escrita dissertativa se inicia com a evocação de algumas imagens do sertão e do sertanejo na literatura brasileira, seguida da reflexão sobre a construção do Nordeste como produto simbólico, em contraste com o Centro-Sul do país, notadamente São Paulo, por perceber que a relação tensional entre Nordeste e Sudeste é contexto sociocultural da escrita de João Gumes e Antônio Torres. Na segunda parte propomos a leitura do romance O sampauleiro, observando a inserção da personagem João Lopes no grupo dos sampauleiros, sujeito social do deslocamento caracterizado pelo constante ir e vir entre o sertão e São Paulo, nas primeiras décadas do século XX. Culminamos com o itinerário de Nelo de volta ao Junco depois de migração fracassada em busca de uma vida melhor na cidade de São Paulo. A trajetória de Nelo tem ressonância em mais dois romances de Antônio Torres, que compõem a trilogia da família desintegrada em que Nelo é referência de sucesso seguido de fracasso. Assim, o itinerário dessa personagem é situado no contexto da trilogia composta pelos livros O cachorro e o lobo (1997) e Pelo fundo da agulha (2006). Mesmo em contextos dos anos iniciais e finais do século XX, os autores retrataram São Paulo como rota de fuga dos sertanejos desistidos (ou desassistidos) em seu torrão natal, lançando o olhar para os efeitos da migração na vida daqueles que ficam em suas localidades de origem. Gumes reflete em sua obra a preocupação com o abandono do sertão e a desintegração de valores tradicionais decorrente do processo migratório, e Antônio Torres expõe a condição conflituosa do indivíduo entre trânsitos culturais, conflitos do indivíduo que vive as instabilidades do mundo contemporâneo.

  • Sobral, Helena Ribeiro

    Discute de um modo geral as perspectivas de saneamento ambiental na região metropolitana de São Paulo. Ressalta os esforços para o saneamento ambiental, inicialmente com provimento de saneamento básico (abastecimento de água, coleta de esgoto e lixo) e, mais tarde, com a criação da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB), o que ampliou as ações de saneamento ambiental para o saneamento do ar e de fontes de poluição de origem industrial. O objetivo é mostrar que a questão ambiental no Município de São Paulo está associada ao crescimento de uma grande massa de população empobrecida que, ao mesmo tempo em que é mais suscetível ao processo de degradação ambiental em curso, é também agente importante desse processo.

  • Sachs, Antonio Carlos

    O artigo examina a constituição das organizações de saneamento básico na administração pública paulista, no período 1950-1975. Parte da hipótese da conjuntura pós-64 ter sancionado um conjunto de medidas que implicaram na reestruturação do aparelho do Estado, e adotado uma estratégia que permitiu a acumulação econômica por parte de certos setores da sociedade civil.

  • Portugal, Nelson Martins

    Trata do saneamento básico das favelas, analisando os aspectos jurídicos, administrativos, econômicos e financeiros.

  • Roxo, Stelio Emanuel de Alencar
  • Bueno, Laura Machado de Mello
  • Rezende, Sonaly Cristina
  • Seplan.
  • Franco, Nilton Ferreira

    Este trabalho apresenta um estudo sobre o sarau da Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia) como uma “nova tradição cultural” surgida no início do século XXI, na zona sul da cidade de São Paulo. Devido a seu foco de atuação estar imerso nas fortes tensões de ordem econômica e social, a Cooperifa despertou nosso interesse através de suas atividades inovadoras com a comunidade em torno dos novos papéis que atribuiu à utilização da poesia e ao bar, como meios de revigorar a vida comunitária, através do fomento à cultura. A investigação mostra a evolução do crescimento da Cooperifa, incluindo os propósitos iniciais dos seus líderes e os mecanismos que condicionaram as suas ações, tais como a mídia jornalística, televisiva e informatizada, assim como, o apoio da parceria com o Itaú Cultural, por meio da Lei Rouanet. Na parte final do trabalho é desenvolvido um estudo do sarau sob o olhar das “tradições inventadas”, que foram extraídas dos conceitos de Eric Hobsbawm. O estudo mostra uma análise da dinâmica interna e externa do sarau, tratando respectivamente de suas rotinas, hábitos e produção poético-literária, assim como do seu papel social, político e econômico em meio à rede social a que pertence, na contemporaneidade. .Palavras–chave: Sarau. “Tradição Inventada”. Auto-imagem. Periferia. Poesia.