O Inventário do Patrimônio Urbano e Cultural de Belo Horizonte - uma experiência metodológica

Tipo de Material
Outros
Autor Principal
Castriota, Leonardo Barci
Ano de Publicação
1998
Local da Publicação
Campinas
Descrição Adicional
V Seminário História da Cidade e do Urbanismo
Idioma
outros
Resumo

O trabalho parte da ampliação que os conceitos de patrimônio arquitetônico e cultural sofrem ao longo do século XX, mostrando como esses passam de concepções restritas e delimitadas, par auma concepção contemporânea que tende a abranger a cultura como um todo, enquadrando-a em seu aspecto processual e dinâmico. No que se refer ao patrimônio arquitetônico, vemos um afastamento progressivo das idéias de excepcionalidade e de monumento único, juntando-se aos critérios estilísticos e históricos outros como a preocupação com o entorno, a ambiência, os usos e o significado. Por sua vez, a noção mais abrangente de patrimônio cultural também vai sofrer uma grande ampliação, principalmente graças ao contributo decisivo da Antropologia, que, com sua perspectiva relativizadora, nele integra os aportes de grupos e segmentos sociais que se encontravam à margem da história e da cultura dominantes. Mostramos, então, como a expansão do conceito recoloca a questão da preservação do patrimônio: se numa visão mais restrita, tratava-se de identificar um elenco limitado de excepcionalidades, que deveriam ser documentados, fiscalizados e conservados, quando se estende de maneira tão significativa o campo do chamado patrimônio cultural, as coisas mudam de figura, tendo que ser repensadas as estratégias a se adotar nas políticas de preservação. Afinal, não é mais possível exercer esse tipo de controle esclarecido sobre tão imenso domínio e instrumentos tradicionais, como o tombamento, passam a expor agora suas limitações. Assim, a nosso ver, o grande desafio agora colocado está em se encontrarem mecanismos que reflitam essa concepção ampliada e processual do patrimônio cultural. Nesta perspectiva, nosso trabalho enfoca um outro instrumento tradicional que, bem explorado metodologicamente, parece-nos promissor no enfrentamento dessa ampliação do conceito de patrimônio: o inventário. para isso, o trabalho segue mostrando como esse instrumento vem sendo utilizado no Brasil desde a década de 30, quando se institucionaliza a preservação do patrimônio, até hoje, com a metodologia adotada refletindo sempre a concepção de patrimônio dos respectivos períodos. Assim, num primeiro momento, os inventários vão se limitar a estabelecer uma listagem dos bens excepcionais, não se preocupando em enquadrá-los num quadro mais amplo. Apesar dos esforços do órgão federal (SPHAN), que com o Pró-Memória começa a trabalhar outros aspectos do patrimônio cultural (como as artesianas, o saber-fazer popular, os mitos, entre outros), vai ser apenas nos anos 80 que essa perspectiva tradicional sofre alterações, com a incorporação da perspectiva urbana ao inventariamento. É interessante notarmos que essa mudança de perspectiva corresponde a uma mudança na organização sócio-espacial do próprio Brasil, que neste período vai sofrer, como os demais países da América Latina, um avassalador processo de urbanização: agora trata-se de inventariar grandes núcleos urbanos, as metrópoles que vão ser, como bem observa um antropólogo brasileiro, o lugar da heterogeneidade e da multiplicidade. Assim, respondendo ao desafio de criar novos instrumentos, que consigam contemplar a amplitude contemporânea do conceito de patrimônio, surge em 1993 em Belo Horizonte (MG), o Inventário do Patrimônio Urbano e Cultural (IPUCBH), amplo sistema de coleta e sistematização de informações sobre as diversas regiões da cidade. Associando pesquisa documental e trabalho de campo, o IPUCBH elabora um diagnóstico das localidades a partir de aspectos arquitetônicos, históricos, sociológicos, antropológicos e econômicos, numa tentativa de documentar a trama de relações ali existentes e que constituem seu verdadeiro patrimônio cultural. Com isso, tenta-se criar um instrumento que, ao mesmo tempo, que consegue registrar o patrimônio urbano e cultural em seu sentido mais amplo, pode servir de base para um planejamento mais cuidadoso, que leve em consideração as particularidades e identidades próprias dos diversos pedaços da metrópole.

Disciplina
Método e Técnica de Pesquisa
Qualitativo
Referência Espacial
Cidade/Município
Belo Horizonte
Brasil
Habilitado
UF
Minas Gerais
Referência Temporal
Década de 1930-1998